São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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Farc atrasam entrega dos três reféns, diz Venezuela

Coordenador indicado por Chávez afirma estar certo de que operação se concretizará

Parentes dos seqüestrados aguardam em hotel de Caracas; Cruz Vermelha apela às Farc por envio da localização de vítimas

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A recuperação de três reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) voltou a ser adiada ontem porque a guerrilha ainda não informou onde será feita a entrega, informou o governo venezuelano, responsável pela operação. Segundo o chanceler Nicolás Maduro, o desfecho ainda pode levar alguns dias.
"Estamos à espera das coordenadas finais. Estamos preparados com toda a fortaleza para que, quando tenhamos as coordenadas, a operação termine de maneira bem-sucedida", disse Maduro em Caracas. Segundo ele, a operação "poderia demorar outros dias mais".
O coordenador da chamada "Operação Emmanuel", o ex-ministro venezuelano Ramón Rodríguez Chacín, confirmou o atraso do resgate, mas disse que a missão não está sob risco. "Tenho certeza de que isso vai ser realizado em breve, num curto prazo vamos ter essa operação", afirmou em Caracas.
Rodríguez disse que planeja viajar à Colômbia assim que receber as coordenadas das Farc, o que pode ocorrer "a qualquer momento".
A Cruz Vermelha Internacional, que participa da operação, fez ontem à noite um apelo às Farc para que enviem as coordenadas, "por razões humanitárias", devido à "longa espera" das famílias dos reféns. "Em nome dos parentes e dos reféns quero fazer um apelo às Farc para que informem logo o lugar da libertação", disse Bárbara Hintermann, representante da entidade na Colômbia.
O centro das operações foi montado em Villavicencio (a 100 quilômetros de Bogotá), onde helicópteros venezuelanos esperam o sinal verde das Farc. Desde anteontem, estão na cidade o assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, e o ex-presidente Néstor Kirchner, além de representantes dos governos de França, Cuba, Equador, Bolívia e Suíça.
Participa ainda da missão de resgate o cineasta norte-americano Oliver Stone. O diretor de "Nascido em 4 de Julho" terá a exclusividade para filmar a entrega dos reféns das Farc, segundo informou a rádio colombiana Caracol. O material fará parte de um documentário sobre a América Latina.

Troca de moeda
Em Caracas, familiares esperam num hotel a chegada dos seqüestrados à Venezuela -as Farc decidiram libertar os três reféns em ato de "desagravo" a Chávez, cuja mediação nas negociações foi interrompida no mês passada pelo colega colombiano, Álvaro Uribe.
A novela da liberação dos reféns se transformou no principal assunto da imprensa venezuela dos últimos dias, apesar de que o país começará uma complexa troca de mudança da moeda, a partir de amanhã -sai o bolívar, entra o bolívar forte.
Na TV estatal VTV, notícias sobre a operação são intercaladas por propagandas enaltecendo a atuação do presidente Hugo Chávez durante as negociações com as Farc.
Apesar de ter chamado Chávez de "legitimador do terrorismo" no mês passado, Uribe deu na semana passada o aval para que Chávez montasse a operação. O colombiano, no entanto, já descartou a volta do colega venezuelano à mesa de negociações com as Farc para a troca de 45 reféns por cerca de 500 guerrilheiros presos.
Deverão ser soltos Clara Rojas, assessora da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, ambas seqüestradas em 2002; seu filho Emmanuel, nascido em cativeiro e fruto da relação com integrante das Farc; e a ex-congressista Consuelo González.

Ataque a Hércules
O governo colombiano informou que um avião militar Hércules quase foi atingido ontem por um foguete. O suposto ataque ocorreu na cidade de Neiva (250 km a sudoeste de Bogotá), uma região com forte presença das Farc e do narcotráfico. A aeronave levava cerca de 50 soldados. Ninguém se feriu.


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