São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

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Israel é pressionado por cessar-fogo

Governo diz estudar trégua proposta pela França, mas ao mesmo tempo reafirma continuidade da ofensiva; há 384 mortos

Israel manteve ataques aéreos a Gaza pelo quarto dia e bombardeou por mar; premiê diz que ação "está na primeira de muitas fases"

Ariel Schalit/Associated Press
Soldados israelenses se concentram na fronteira com a faixa de Gaza, demonstrando que país não desistiu de invasão terrestre

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)

O governo israelense manteve ontem sua ofensiva aérea contra a faixa de Gaza pelo quarto dia consecutivo, enquanto começou a considerar uma proposta de cessar-fogo de 48 horas feita pela França.
Aos ataques aéreos Israel adicionou uma ofensiva marítima contra alvos do grupo fundamentalista islâmico Hamas na costa de Gaza, e a concentração de tropas e tanques na fronteira foi intensificada em preparação a uma possível invasão por terra. O total de mortos em Gaza desde o início da operação chega a 384. Os foguetes lançados pelos palestinos já mataram cinco pessoas em Israel.
De acordo com fontes diplomáticas, as negociações para a suspensão da maior ofensiva israelense contra alvos palestinos em quatro décadas ainda estavam em um estágio inicial na noite de ontem, dando a entender que ainda não há acordo sobre o cessar-fogo.
A idéia surgiu em conversas mantidas nos últimos dois dias pelo chanceler francês, Bernard Kouchner, com o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, com o objetivo de obter uma pausa de 48 horas nos ataques para permitir o acesso de assistência humanitária à população de Gaza.
A proposta é resultado da pressão pelo fim dos bombardeios feitos pela União Européia, cuja presidência rotativa a França exerce hoje pelo último dia, e de intensas movimentações diplomáticas envolvendo EUA, Rússia e ONU, membros do Quarteto de mediadores do conflito israelo-palestino.
Após uma reunião de emergência em Paris com ministros do Exterior da UE, Kouchner revelou que o objetivo é uma suspensão duradoura da violência. "Queremos um cessar-fogo que seja permanente e que seja respeitado, com acesso humanitário, porque há muitas vítimas. E queremos o retorno do processo de paz."
Mas, a julgar pelas declarações de israelenses e palestinos, as metas citadas por Kouchner ainda estão distantes. Mark Regev, porta-voz do governo israelense, disse que a ajuda humanitária será facilitada, mas que isso não significa o fim dos ataques ao Hamas.
"Queremos ver comboio atrás de comboio com apoio humanitário e estamos dispostos a trabalhar de perto com a comunidade internacional para facilitar", disse Regev. "Mas é importante manter a pressão ao Hamas e não lhe dar chance de se reorganizar."
O grupo islâmico também não quis dar o primeiro passo para a trégua. "Não se pode igualar a vítima ao carcereiro", disse Fawzi Barhoum, porta-voz do Hamas. "O que é preciso agora é um esforço árabe e internacional para suspender a agressão israelense e abrir as passagens [de fronteira]."
No último dia 19, o Hamas decidiu não renovar a trégua que manteve por seis meses com Israel enquanto não fosse normalizada a circulação de mercadorias na fronteira. Já Israel exige o fim dos disparos de mísseis contra seu território.
Pela manhã, antes de a diplomacia internacional ganhar intensidade, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, descartara uma trégua imediata, afirmando que a ofensiva ainda estava "na primeira das muitas fases aprovadas" pelo gabinete.
Questionados pela Folha, dois membros do gabinete de segurança israelense que estiveram na cidade fronteiriça de Sderot, a mais atingida, negaram a intenção de suspender a ofensiva antes de neutralizar o poder de fogo do Hamas.
"Não pretendemos eliminar todos os mísseis e as armas que o Hamas possui", disse o ministro do Interior, Meir Sheetrit, admitindo que esse seria um objetivo pouco realista. "Mas vamos continuar a operação até quebrar a motivação dos terroristas em lançar mísseis."
Para Shaul Mofaz, ministro dos Transportes, "estamos comprometidos com a população de Sderot a continuar com esta operação até obter uma melhora significativa da situação de segurança na fronteira". Ele negou que haja negociações em curso com o Hamas através de mediadores, como foi noticiado pela imprensa israelense.

Alvos
Na faixa de Gaza, onde uma população de 1,5 milhão vive há mais de um ano sob bloqueio militar e econômico, os bombardeios israelenses atingiram bases de treinamento do Hamas e instalações do governo. Pelo menos cinco prédios da administração controlada pelo grupo islâmico desde junho do ano passado foram destruídos.
"A sensação é de pânico constante e de que ninguém está salvo", contou à Folha, de Gaza, a canadense Eva Bartlett, do Movimento de Solidariedade Internacional. "Não há remédios nem médicos em quantidade suficiente. Cada médico tem de cuidar de quatro pacientes ao mesmo tempo."
Apesar da pressão sobre Gaza, os disparos contra Israel continuaram. Pelo menos 40 projéteis foram lançados ontem. Um deles atingiu a cidade de Beer Sheva, a 46 quilômetros da fronteira, no ataque de maior alcance até hoje.


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