São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

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entrevista

Hamas não vai se fortalecer, diz ex-Mossad

DO ENVIADO A SDEROT

A questão não é se os ataques israelenses fortalecerão politicamente o Hamas, mas o oposto: em que medida eles enfraquecerão o grupo islâmico. A opinião é de Efraim Halevy, ex-chefe do Mossad (1998-2002), o serviço de inteligência de Israel, em entrevista à Folha. Ele rejeita a comparação com o que ocorreu após a Guerra do Líbano, quando 34 dias de bombardeios tornaram o Hizbollah mais popular e consolidaram o status do grupo xiita como a principal força política do país.

 

FOLHA - Israel sofre ataques de foguetes disparados de Gaza há oito anos. Por que essa reação maciça agora? O momento teria a ver com a proximidade das eleições?
EFRAIM HALEVY
- A quantidade de foguetes lançados pelo Hamas chegou a um nível insuportável. Simplesmente não havia nenhum motivo para Israel continuar sofrendo esses ataques sem reagir. Pelo visto, só agora o Exército, após meses de preparação, alcançou o ponto necessário para uma operação dessa magnitude. Não acredito que a eleição tenha desempenhado qualquer papel na decisão.

FOLHA - A ofensiva dificilmente tirará o Hamas do poder. Qual o objetivo mais realista que Israel pode ter?
HALEVY
- O mais realista é efetuar ataques que levem o Hamas a um ponto em que não tenha interesse em nos atacar. Ainda não chegamos a esse ponto. Uma das possibilidades é a invasão por terra, mas tudo dependerá da reação do Hamas nos próximas dias.

FOLHA - A divisão política dos palestinos pode complicar a obtenção de uma solução após a ofensiva?
HALEVY
- Hoje [ontem] o presidente do Egito, Hosni Mubarak, disse que não vai abrir a fronteira com Gaza a menos que [o líder do Fatah e presidente palestino] Mahmoud Abbas volte a Gaza. Isso mostra que a solução não depende só de Israel, mas de iniciativas do mundo árabe.

FOLHA - A pressão internacional contra a ofensiva poderá apressar o fim da operação?
HALEVY
- Não concordo que a comunidade internacional esteja contra a operação. Não houve ainda nenhuma iniciativa significativa contra as ações de Israel.

FOLHA - A amplitude dos ataques não podem acabar fortalecendo o Hamas politicamente, como ocorreu com o Hizbollah no Líbano em 2006?
HALEVY
- O Hamas sofreu um golpe muito mais forte do que o Hizbollah. Quem está mais interessado em um cessar-fogo neste momento são eles, não Israel. Além disso, há muitas pessoas em Gaza que não estão nem um pouco satisfeitas com o governo do Hamas. Por isso, a questão não é se o Hamas sairá mais forte politicamente. A questão é quanto ele enfraquecerá. (MN)


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