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Presidente palestino pode ser maior vítima
Rival do Hamas, Mahmoud Abbas reage com incoerência à ofensiva israelense em Gaza e recebe críticas na Cisjordânia
Dirigente é visto como fraco diante de Israel e carente de liderança; na população, cinismo substitui crença na criação do Estado palestino
TOBIAS BUCK
DO "FINANCIAL TIMES"
O ataque de Israel contra a
faixa de Gaza foi lançado para
destruir a infra-estrutura política e militar do Hamas. Mas é
Mahmoud Abbas, o presidente
da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e rival do grupo islâmico, quem pode emergir como
maior baixa política do conflito.
Desde o início do bombardeio israelense, Abbas e seus
aliados na Cisjordânia vêm se
esforçando para dar uma resposta coerente: primeiro,
apressaram-se a condenar os
ataques aéreos e expressar solidariedade ao 1,5 milhão de palestinos de Gaza. Mas sua mensagem ficou confusa quando os
ataques prosseguiram: vários
funcionários de alto escalão da
ANP culparam o Hamas pela
morte e a destruição. O próprio
Abbas apresentou argumento
semelhante, quando disse que
os ataques poderiam ter sido
evitados se os islâmicos tivessem parado de disparar foguetes contra Israel.
Não é o que os palestinos da
Cisjordânia ocupada querem
ouvir de seu líder num momento em que seus compatriotas
em Gaza estão sendo mortos
pelo inimigo israelense. O Hamas, pelo contrário, pode mais
uma vez retratar-se como o desafiador implacável de Israel.
"A popularidade do Hamas
cresce com cada palestino que é
morto", diz Munther Amira,
ativista no campo de refugiados
de Aida, na periferia de Belém.
Amira é filiada ao Fatah, o partido de Abbas. "Mas, quando
vejo que ele culpa o Hamas pelas mortes, isso é muito duro
para nós. Não estou satisfeito
com ele", acrescenta.
De acordo com Ali Jarbawi,
professor de ciências políticas
na Universidade Bir Zeit, na
Cisjordânia, a crise atual vai reforçar as percepções negativas
de Abbas. "Abu Mazen (Abbas)
não é visto pelos palestinos como líder. Ele não possui o carisma necessário; suas reações são
lentas. Nas circunstâncias
atuais, as pessoas precisam de
uma direção inequívoca e uma
liderança forte, mas não é isso o
que estão recebendo."
Mesmo antes dos ataques,
Abbas e a ANP eram vistos como demasiado dóceis em relação a Israel. A esperança de que
sua postura pró-ocidental pudesse levar os palestinos a um
Estado independente já se desvaneceu há tempos, dando lugar a uma atitude de cinismo.
As conversações de paz de
Abbas com Israel não avançaram. Isso vem levando muitos
palestinos a questionar o porquê de seu presidente ser tão
ansioso por satisfazer as exigências de Israel e dos EUA por
uma repressão dura aos ativistas do Hamas na Cisjordânia.
Ainda mais prejudicial ao
presidente, talvez, foi sua incapacidade de unificar o movimento palestino após os combates entre seguidores do Hamas e do Fatah em Gaza em
2007. Os choques levaram à tomada islâmica da região, abrindo um abismo entre os dois territórios e pondo um fim às
idéias de unidade palestina.
Mesmo no caso pouco provável de os ataques israelenses levarem à expulsão do Hamas de
Gaza, há poucas chances de o
Fatah e Mahmoud Abbas simplesmente voltarem para reunificar os dois territórios. Que o
presidente palestino entrasse
nos escombros de Gaza num
tanque israelense seria visto
como o insulto máximo.
Em lugar disso, o ataque a
Gaza, segundo Jarbawi, levanta
mais uma vez a dúvida crucial
em torno da própria ANP. "Para quê precisamos de uma Autoridade Palestina se ela não
consegue nos dar um acordo de
paz e tampouco é capaz de pegar em armas contra Israel?"
Tradução de CLARA ALLAIN
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