São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

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Jovens, soldados pouco sabem da situação em Gaza

Militares aguardam na fronteira ordem de Israel, ignorando número de mortos

Soldado de Jerusalém, dizendo-se "emocionado", pede que mundo entenda direito de Israel; americano sai de Los Angeles para lutar

DO ENVIADO ESPECIAL A SDEROT

Em um caminho enlameado na beira da estrada que leva à principal passagem da fronteira entre Israel e Gaza, um pequeno grupo de soldados faz uma refeição improvisada, enquanto espera a ordem para uma possível invasão terrestre do território palestino. O mais velho, que comanda os demais, tem 24 anos. O mais novo, recém-chegado ao Exército, tem pouco mais de 18.
São soldados como esses que estarão na linha de frente caso o governo israelense dê a ordem para uma ofensiva terrestre contra os militantes do grupo fundamentalista islâmico. O que pensa um soldado prestes a entrar em combate?
"Estou emocionado e orgulhoso", disse o soldado Yossef, 21, de Jerusalém, enquanto mastiga a ração militar dividida numa bandeja de plástico, com arroz, legumes e frango. Diz não ter medo. "É uma honra defender o meu país. E um direito que nosso país tem e que o mundo precisa entender."
A última frase é dita sob os olhares do também jovem comandante, que permite a contragosto a violação da proibição imposta a soldados de dar entrevistas, sob a condição de que opiniões políticas fiquem de fora. A seu lado, o californiano John bebe um suco de uva de caixinha e manifesta preocupação com a curiosidade da imprensa internacional.
"Meus pais moram em Los Angeles e pensam que estou servindo no norte do país", diz, com um sorriso tímido que contrasta com seus quase 1,90 m de altura. "Mas acabou de passar aqui um cinegrafista da Fox [rede de TV americana] e acho que me filmou. Se minha mãe me vir na entrada de Gaza, acho que ela terá um ataque."
A entrevista com a Folha logo muda de direção, devido à curiosidade do soldado em saber o que acontece no território que está prestes a invadir. "Mais de 300 mortos? Está falando sério?", pergunta John, ao saber o número de mortos em Gaza nos quatro dias de ofensiva israelense.
"Estamos há três dias acampados aqui, meio isolados, esperando a ordem", diz o americano, que deixou Los Angeles para realizar o sonho de servir o país onde seu pai nasceu. "Tive uma educação sionista, tenho vários parentes aqui e não faço mais que a minha obrigação", acredita.
Na região onde estão Yossef, John e centenas de outros soldados, uma grande quantidade de blindados do Exército começou a ser alinhada nos últimos dias. A maioria está posicionada em campos usados para produção agrícola de kibutzim (cooperativas agrícolas).
Nesta época de inverno em Israel, quando os campos estão sendo preparados para a semeadura, os tanques substituíram os pés de algodão, tomate e pepino. (MARCELO NINIO)


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