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A REVOLUÇÃO AOS 50 / FUTURO INCERTO
Congresso do PC ditará alterações
Raúl Castro transfere para o partido expectativa de mudanças por ele definidas como "estruturais"
Congresso, que só deve ocorrer no fim de 2009, também definirá se Fidel continuará como figura mais importante do partido
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA
O 50º Ano do Triunfo da Revolução -o nome oficial de
2009 em Cuba- nem começou,
mas já se projeta que o 6º Congresso do Partido Comunista
Cubano será seu programado
evento transcendente.
É lá, segundo Raúl Castro
afirmou no sábado, que se discutirão e aprovarão as "transformações estruturais e de conceito" ansiados pela ilha.
Assim, Raúl transfere para o
encontro as expectativas em
torno de seu governo -que começou com mudanças pontuais na liberação de consumo e
no arrendamento de terras.
O congresso, o primeiro a ser
realizado pela legenda e a máxima autoridade legal em Cuba
em 12 anos, não tem data marcada. O presidente afirmou que
ocorreria "no fim de 2009".
"Quando se anuncia um, tudo vira congresso. Pelos debates de 2007 e pelo que sei, há
efervescência na base por mudança", diz o economista e jornalista Oscar Chepe, 70, que
militou no PCC até os anos 80,
quando virou dissidente.
Preso em 2003, na última
grande onda de prisão de dissidentes, ele está em liberdade
condicional desde o começo do
ano por motivos de saúde.
"O Congresso é o temor dos
"talebans". E nós sabemos quem
é o líder do grupo. Ele acha que
reformas econômicas é tirar a
população da tutela do Estado,
é ante-sala de reformas políticas", continua Chepe, citando a
ala ortodoxa do partido e referindo-se a Fidel Castro.
Status de Fidel
O congresso será o momento-chave para decidir o status
de Fidel no futuro do regime
-uma definição importante
quando vários analistas se inclinam ao consenso de que o
Castro mais velho é o freio anti-reformas. Afastado formalmente da Presidência do Conselho de Estado, ele mantém o
cargo mais alto da hierarquia, o
de primeiro secretário-geral do
partido. Raúl é o segundo.
Para Julia Sweig, especialista
em Cuba do americano Council
on Foreign Relations, pode ser
esse o momento de Fidel deixar
o posto no partido.
"Se é verdade que o "revival"
do Partido Comunista é essencial para a expansão do poder
político internamente -e Raúl
disse que o único substituto para Fidel Castro é o PC- não faria nenhum sentido, em termos
dos atores geracionais que precisam conquistar, manter Fidel
como secretário-geral."
Nas ruas, não se identifica
uma nova liderança clara.
"Quem pode substituir Raúl?
Eu também me faço essa pergunta", devolve Maria, 59, professora de química aposentada.
Jovens
Para o historiador brasileiro
Luiz Alberto Moniz Bandeira,
estudioso de Cuba desde os primórdios da revolução, "é difícil
saber o que se passa no PC cubano", mas a influência de Fidel deve ser relativizada.
Ele diz que Cuba já estava,
mesmo antes da doença de Fidel, em 2006, num governo
pós-Castro e havia armado
uma equipe de confiança. Nela
estão os mais novos Felipe Pérez Roque, chanceler e ex-secretário pessoal de Fidel, identificado por vezes como "taleban", e Carlos Lage, que faz as
vezes de premiê e comanda o
programa energético.
Se não há os tão novos na cúpula, o mesmo não ocorre na
Assembléia Nacional -embora
até estudantes pró-revolução
tenham se queixado de que deputados não têm vínculo com a
população. A média etária entre os 614 deputados é de 49
anos. A mais jovem é Liaena
Hernández Martínez, 18.
Independentemente do que
aconteça no congresso, Chepe
acredita que possa ser tarde para uma mudança. "Não prevejo
mudanças bruscas nem defendo choques de nenhum tipo,
nem econômico nem social. O
que quero é uma aterrissagem
gradual até a democracia. Mas,
com a situação econômica como está, é reforma ou caos."
Segundo ele, que atuou como
diplomata no Leste Europeu,
uma possível decisão do presidente eleito Barack Obama de
liberar viagens de cubano-americanos e envio de remessas pode ter um efeito acelerador dos
anseios por mudança.
"Quando os alemães foram à
Polônia desculpar-se pela atrocidade da guerra, isso gerou um
clima até [o presidente americano Ronald] Reagan [1981-1989] acabar com o embargo à
URSS. Tudo isso criou um clima favorável, pois o oxigênio
desses regimes era a noção de
que, ao menor suspiro, viriam
os tanques."
Colaborou ANDREA MURTA, de Nova York
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Cuba
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