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Discriminação de preços é legal?

Até o popular blog 'Freakonomics' se espantou com churrascaria que dá desconto a operados

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

Uma churrascaria de São Paulo virou tema do Freakonomics, um dos blogs de economia mais populares do mundo. Intitulado "A discriminação de preços mais estranha que você verá" (em tradução livre), o artigo aborda a tática de cobrança do restaurante Angélica Grill, que cobra metade do valor usual do rodízio para quem tem mais de 70 anos ou passou por cirurgia bariátrica (de redução do estômago).

O Freakonomics soube do caso por um estudo do aluno de economia Adriano Dutra Teixeira, da FEA-RP USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).

Ele pesquisou as reações dos diversos perfis de consumidores aos igualmente diversos tipos de preços. Stephen Dubner, um dos autores do best-seller "Freakonomics" e do blog homônimo (www.freakonomics.com), faz uma série de perguntas sobre esse tipo de estratégia.

Por exemplo: como o cliente deve provar que passou por uma cirurgia bariátrica? Os operados com mais de 70 anos comem de graça?

SEM MEDO DO EXAGERO

A ideia do Angélica Grill surgiu da observação de que esses dois tipos de cliente comem pouca carne e, para eles, o rodízio pode ser considerado um "mau negócio".

Segundo Anderson Salute, 39, um dos proprietários do restaurante, a estratégia foi adotada há dois anos e, a partir daí, o salão ficou mais cheio. Mas ele não diz se o aumento da freguesia compensou a perda de receita com o desconto.

Respondendo às perguntas do Freakonomics, Salute explica que idosos precisam apresentar documento comprovando a idade, e os operados, um cartão da clínica médica. E que ninguém come de graça.

SÓ PARA OS LOCAIS

Se, para o Angélica Grill, a idade e a saúde dos clientes entraram na conta de parte da clientela, um restaurante de Campos do Jordão (a 180 km de São Paulo) passou a valorizar a origem do freguês à mesa.

No Barito Gourmet, os jordanenses pagam 15% a menos do que quem vem de fora. De acordo com Daniela Duarte, 25, dona do estabelecimento, o cliente que não tem desconto "só acha ruim se ficar sabendo".

Para Carlos Coscarelli, chefe de gabinete do Procon de São Paulo, "não há irregularidade em conceder descontos para consumidores de diferentes perfis".

Especialista em precificação, Roberto Assef considera a estratégia arriscada. Segundo ele, pode haver dano à imagem da empresa se os preços forem alterados sem que os critérios fiquem claros.

FIM DE NAMORO

Músicos sempre pagaram menos na loja de vinis Big Papa Records, no centro de São Paulo. Essa foi a maneira que a proprietária Kátia Pimentel, 48, encontrou para "agradecer aos responsáveis pelas canções e pelos discos".

A empresária estendeu o benefício às mulheres quando uma amiga que namorava um músico demonstrou tristeza não apenas pelo fim do relacionamento. Ela perdeu também a carona no desconto do ex. Hoje, as clientes recebem 25% de desconto.

Há outras razões que justificam o desconto da Big Papa: mulheres não costumam ser a maioria entre frequentadores de lojas de discos e, em muitos casos, ainda recebem salários menores, diz Kátia Pimentel. "Eu mesma, quando era programadora de software, ganhava menos do que os homens."

Mais mulheres passaram a comprar, mas ela não sabe qual é a exata porcentagem de clientes de cada gênero. "Se eu quisesse levantar estatísticas, teria continuado programadora", brinca.

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