São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004


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NA ONDA LOCAL

Região responde por 16% da produção nacional e conta com mais de 12.000 fábricas

Agreste emplaca produção de jeans

DA ENVIADA ESPECIAL A PERNAMBUCO

No agreste do Estado de Pernambuco, uma vocação empreendedora para negócios de confecção está mudando a cara de uma região castigada pela falta de chuvas. Ali, as cidades de Caruaru (a 130 km do Recife), Toritama (152 km) e Santa Cruz do Capibaribe (194 km) constituem hoje o Pólo de Confecções do Agreste, arranjo produtivo já conhecido no país pela produção de jeans.
Segundo dados do governo de Pernambuco, as três cidades juntas fornecem 16% do jeans consumido nacionalmente. O pólo produz 58 mil peças por mês e responde por 77 mil empregos.
Toritama, dizem os empresários, passou um ano e um mês sem água nas torneiras no ano passado. As mudanças tecnológicas na produção de jeans geraram a necessidade de contar com lavanderias. Abastecidos por carros-pipas, cerca de 50 desses estabelecimentos funcionam na cidade.
Ainda segundo o governo, 98% da população de Toritama está envolvida na produção de jeans. As fábricas funcionam 24 horas, com equipes que se alternam. O número de máquinas de costura supera o de moradores.

Conectados
Os empresários do agreste não têm formação superior, mas acompanham as tendências da moda via internet, acessando vitrines de cidades-referência como Milão, Paris e Nova York.
Um deles é Edilson Lima, 33, dono da confecção Zagnetron e da lavanderia Mamute, em Toritama, que diz investir R$ 5.000 mensais para rastrear tendências. "Assino revistas estrangeiras e serviços virtuais para me atualizar. A informação demorava a chegar. Começamos a trazê-la."
Lima entrou para o setor em 1982, quando o pai, ex-motorista de táxi, teve de se mudar para o interior por recomendação médica. "Começamos em casa, eu, meus pais e meus irmãos. A mesa de corte era a da cozinha."
A produção era comercializada na feira livre e, à medida que a demanda aumentava, a família ia improvisando o crescimento da empresa. "Visitamos os sítios das redondezas e convencemos as donas-de-casa que costuravam para os maridos a costurarem para a gente também", conta.
A população rural é uma das engrenagens do Pólo de Confecções do Agreste. É nas oficinas familiares que o trabalho artesanal é feito, e as peças voltam às fábricas para serem finalizadas. As feiras livres continuam desempenhando um papel fundamental no escoamento da produção e são destino de ônibus fretados por revendedores das capitais nordestinas que se abastecem no pólo.

Referência
"Agora apostaremos nas marcas fortes para gerar referências e agregar às peças um conceito de moda que caracterize a região", explica Bruno Antunes, 23, executivo de negócios da AD/Diper (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco).
Uma das iniciativas que devem se tornar referência é a Rotadomar, instalada em Santa Cruz do Capibaribe, que hoje emprega 150 pessoas e fornece para todo o país. "Cerca de 35% da nossa produção vai para São Paulo", calcula o dono, Arnaldo Xavier, 38.
"Passamos seis anos na informalidade e aprendemos gestão crescendo. A marca, por exemplo, veio muito depois de o negócio já estar dando certo", descreve Xavier. "A sensação que tinha era a de ser um jóquei dono de um ótimo cavalo, mas que ainda não estava pronto para montá-lo", compara o empresário.


A jornalista TATIANA DINIZ viajou a convite do governo do Estado de Pernambuco

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