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entrevista
Diferença no varejo está em serviços
Especialistas no setor recomendam escapar da guerra de preços por meio do valor agregado
CÁSSIO AOQUI
EDITOR-ASSISTENTE DE NEGÓCIOS
Na guerra do varejo, a principal arma -a oferta de preços
mais baixos- é conhecida de
longa data dos comerciantes.
Correntes atuais de gestão,
contudo, têm refutado essa fórmula ao culpar a tática pela
margem cada vez mais apertada com que trabalha o lojista.
Como alternativa, sugere-se
o investimento em serviços
-o que, dizem os especialistas,
permite não só evitar a derrocada nas etiquetas mas também aumentar os valores.
Os empresários e professores
especializados em varejo Walter Rabello, 52, e Miguel Daud,
56, seguem essa linha no recém-lançado "Marketing de
Varejo - Como Incrementar
Resultados com a Prestação
de Serviços" (editora Bookman, 152 páginas, R$ 36).
O livro sugere mais de 50 opções de serviço que podem, na
visão dos clientes, agregar valor
à venda em quaisquer segmentos (leia quadro ao lado).
A Folha entrevistou os autores -veja, a seguir, suas dicas
para se destacar na multidão.
FOLHA - Qual a importância dos
serviços para o resultado de vendas?
WALTER RABELLO - O principal é
que o varejista, ao investir em
serviços agregados, deixa de depender da diminuição do preço
-e, por conseqüência, evita a
queda das margens de lucro.
Ele se diferencia perante a concorrência, encanta os clientes e
obtém maior rentabilidade.
MIGUEL DAUD - São também um
elemento importante para obter a fidelidade da clientela.
FOLHA - Os serviços devem variar
conforme o setor de atuação?
RABELLO - Sim, mas não só por
setor. Numa farmácia de rua,
por exemplo, estacionamento,
em geral, é um diferencial. Mas,
se for no centro, não é vantajoso. Ao implementar serviços,
deve-se atentar para fatores como segmento e localização.
DAUD - É importante saber que
não basta ter [o serviço] -é
preciso oferecer o melhor. Um
exemplo é uma rede norte-americana que não só oferece
estacionamento como também
distribui picolés nos dias quentes a quem se dispõe a deixar o
carro em vagas mais distantes
[da loja] -liberando as outras
aos idosos. Todos saem felizes.
FOLHA - Poderiam dar um exemplo prático na área de vestuário?
RABELLO - Há uma loja de roupas femininas no shopping
Iguatemi, por exemplo, que
criou um "cantinho do marido",
com TV, revistas e petiscos. Assim ele não apressa a mulher,
que compra mais.
DAUD - Há uma oportunidade
aqui no Brasil ainda pouco explorada: o vestiário. As novas
gerações, cada vez mais altas,
se espremem nos provadores.
Alterações simples, como o aumento do espaço e as inserções
de ventilação e de som ambiente, podem ser diferenciais.
FOLHA - É possível afirmar que a
importância dos serviços é diretamente proporcional à renda ou à
classe social dos consumidores?
RABELLO - A prestação de serviço cabe em qualquer segmento,
mas, como as referências são
diferentes, o nível de exigência
do cliente também deve variar.
FOLHA - Como o empresário pode
saber até que ponto o cliente está
disposto a pagar mais pelas facilidades em relação ao mesmo produto
vendido pela concorrência?
RABELLO - Por meio de pesquisa. Também conta a percepção
do lojista, que mantém contato
direto com o consumidor. Alguns serviços podem ser cobrados, mesmo para pessoas de
renda menor. Um deles é a
oferta de cartão de crédito.
FOLHA - No livro, estão listados 54
serviços. Como escolher entre eles?
RABELLO - O mais importante é
que seja medido o valor efetivo
do serviço para o cliente. Quem
deve conhecer o negócio é o varejista. Um serviço oferecido
em São Paulo pode não ter o
mesmo efeito num estabelecimento similar em outra cidade.
DAUD - O varejista é um vendedor de serviços, não de produtos, coisa que todos têm. Ao se
conscientizar disso, ele aprende a filtrar as informações para
adaptá-las a sua realidade.
FOLHA - Mas é melhor incrementar
serviços mesmo correndo o risco de
não executá-los eficientemente?
RABELLO - De forma alguma. É
pior ter um serviço incompleto
do que não oferecê-lo.
FOLHA - Num ambiente competitivo, como se diferenciar por meio de
serviços se, em geral, são facilmente
copiáveis pela concorrência?
DAUD - Há sempre maneiras
de superar as expectativas do
cliente. Mas é um ciclo: quando
os serviços viram commodity e
os custos sobem, simplificar a
venda e oferecer preço baixo
voltam a ser opções.
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