São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008


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CORTE LEGAL

Crédito visa à regularização de pequenos na Amazônia

Grande empresa será avalista de toda a cadeia produtiva local

Divulgação
Pedro Petry fabrica utensílios com madeira certificada

MARIA CAROLINA NOMURA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pequenos empresários que lidam com a floresta amazônica poderão ter acesso a uma linha de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar a modernização de seu parque tecnológico e a adequação às exigências ambientais.
Anunciado há duas semanas pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o Empréstimo Âncora, que tem taxa de juros de 7,15% ao ano, conta com o suporte fundamental das grandes empresas: elas serão as avalistas de seus fornecedores.
"Se for comprovado que essa grande empresa comprou produtos de fornecedores que exploram a floresta ilegalmente, ela será considerada co-responsável por crime ambiental. Perderá então o certificado de responsabilidade ambiental, o que a liquidará do mercado internacional", explica Minc.
"Isso é mais eficaz do que a ação da polícia", defende.
O programa já foi acertado com produtores de soja e pecuaristas e está atualmente em negociação com madeireiros.
No próximo dia 17, além de ser criado o Fundo para a Amazônia, que captará recursos para a preservação da floresta, será assinado um pacto com os bancos a fim de que sejam dadas facilidades de financiamento a projetos sustentáveis.

Trabalho de formiga
Mesmo sem o apoio do BNDES, há pequenas empresas que já atuam de forma não predatória na floresta, cujo desmatamento chegou a 11 mil quilômetros quadrados em 2007, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Na firma de perfumes e cosméticos Chamma da Amazônia, por exemplo, a proprietária, Fátima Chamma, 56, gaba-se de usar somente matéria-prima natural. "Compramos sementes, raízes e folhas de diversas comunidades no Pará."
Já a pequena madeireira Madevale, que tem 8.000 hectares em Rondônia, optou pelo manejo sustentável de suas árvores. Rubens Resstel, 58, diz que o terreno é dividido e são extraídas apenas as árvores maduras de determinados lotes.
"No ano seguinte, são extraídas árvores de outro lote, até chegar àquele primeiro. Então, as árvores que eram jovens já estarão boas para o corte", afirma Resstel. O certificado da empresa está em fase de renovação.

Sinal vermelho
Apesar da iniciativa sustentável, os empresários dizem que o entrave do negócio é a questão fundiária da floresta.
Para Sérgio Rivero, professor de pós-graduação em economia da Universidade Federal do Pará, a demora na aprovação dos planos de manejo por órgãos do governo é empecilho.
Mas, de acordo com Rivero, o cerne do problema está na concorrência desleal com as madeireiras ilegais: "A rentabilidade da ilegalidade é mais alta no mercado de madeira".



Designer garimpa madeira urbana
Há mais de 20 anos, o designer de objetos Pedro Petry, 53, usa madeiras que seriam destinadas ao lixo ou aos fornos de pizzaria para confeccionar de móveis a objetos de arte. Ele conta que ainda garimpa as construções em busca da madeira que perdeu seu uso. "Também uso madeira certificada. É mais cara, mas mais caro ainda é ficarmos sem floresta", ressalta Petry. Para ele, esse material, em pouco tempo, passará de diferencial a requisito na produção de bens.

Empresa usa látex extraído de RO
Na Efeito Verde, loja de confecção de bolsas de lona de caminhão, uma comunidade de seringueiros em Rondônia tem papel fundamental. É ela que produz o couro vegetal -mistura de algodão cru com látex- que dá um toque diferenciado aos acessórios da firma. A empresa exporta 90% de sua produção e tem o apoio da Incubadora de Negócios de Indaiatuba, em São Paulo. "Assim, os seringueiros conseguem se sustentar", diz o diretor, Reuter Miranda, 40.


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