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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003


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Volume de clientes com mais de 60 anos cresce rapidamente no país, mas serviços adequados são raros

Mercado envelhece sem perceber

Fernando Moraes/Folha Imagem
Turma de ginástica para idosos da academia Apolo; as aulas são coordenadas por professor especializado e respeitam limitações


PAULA LAGO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O Brasil está de cabelos brancos e não se deu conta. Ou melhor: os empreendedores ainda não perceberam que o consumidor amadureceu e precisa de serviços e de produtos apropriados à idade.
Os números do último censo do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2000, confirmam essa tendência. A faixa etária das pessoas com mais de 60 anos, hoje somando cerca de 15 milhões, é a que cresce mais rapidamente -deve chegar a 30 milhões em 2020.
A melhoria do padrão de vida e o desenvolvimento tecnológico são os principais responsáveis por essa longevidade. No Estado de São Paulo, por exemplo, a esperança de vida ao nascer passou de 68,9 anos em 1991 para 71 em 2000, segundo levantamento realizado pela Fundação Seade.
"Apesar de a indústria e o setor de serviços estarem sensíveis para essa transição demográfica, o mercado ainda não está preparado para saber em que investir, e os produtos que desenvolvem raramente estão adequados", analisa Laura Machado, diretora-executiva do Instituto de Gerontologia da Universidade Cândido Mendes (RJ), que presta consultoria sobre o tema a empresas como o banco Real ABN Amro.
"É um nicho, sem dúvida, mas deve-se examinar se a idéia de negócio tem atrativos, potencial de mercado e se o segmento comporta empreendimentos voltados para a atividade em questão", avalia Tales Andreassi, professor de empreendedorismo da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas).

Sob medida
Segundo James Wright, coordenador do Profuturo (Programa de Estudos do Futuro), da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo, que organizou uma pesquisa em 2001 sobre o consumidor do futuro, esse mercado tem disposição para consumir produtos específicos.
"Não se pode ignorá-lo. Para empresas que buscam competitividade, sempre se recomenda desenvolver diferencial e definir nicho, e a terceira idade é uma opção a ser considerada", afirma.
E finaliza: "O resultado de unir estratégia, desenvolvimento do produto e pesquisa será o lucro".
Quando se fala em oportunidades de negócios voltados para idosos, um dos primeiros setores lembrados é o de turismo. "A idéia é influenciada pelas culturas norte-americana e européia, e não baseada na realidade brasileira, em que a renda do idoso é baixa, e o lazer é o primeiro gasto a ser cortado", observa Andreassi.
"O lazer ainda é uma incógnita, mas dá para atender esse público desenvolvendo produtos ligados às suas peculiaridades, como telefones que ampliem a audição."
A dica é mesmo essa: itens que driblem as limitações trazidas pelo tempo, como diz Laura Machado, do Instituto de Gerontologia. "Eles querem ter autonomia, apesar das dificuldades que surgem."


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