São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002


Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA

Desconfiança entrava o crédito

ELEAZAR DE CARVALHO FILHO

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Eleazar de Carvalho Filho, 45, afirma que tem viabilizado novos caminhos para que pequenos empresários adquiram empréstimos a taxas de juros mais baixas que as do mercado. Mas ressalta: capital de giro só é financiado se associado a um projeto de investimento. Em entrevista concedida à Folha, ele diz que, embora falte aos agentes financeiros maior confiança nos pequenos empreendedores, estes, por sua vez, procuram financiamento sem apresentar um projeto bem elaborado. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Como as pequenas empresas são vistas no mercado de crédito?
Eleazar de Carvalho Filho -
Elas têm dificuldades de acesso a recursos não só aqui como em outros países. É um problema de garantia, de um maior risco de crédito, o que é uma limitação. O BNDES tem feito uma série de esforços para superar isso, como o Fundo de Aval, que fornece aos bancos um instrumento adicional para mitigar riscos. Se houver inadimplência, se as operações são bem-feitas e realizadas dentro das regras, esse fundo permite que o banco tenha acesso a um reembolso ou recuperação de uma parcela do que deixou de receber. Outro instrumento são os postos avançados que nós abrimos nas entidades empresariais pelo Brasil. A idéia é orientar o pequeno empresário sobre os produtos do banco e também mostrar como é que ele atua junto ao agente financeiro, que é o nosso canal de distribuição. Temos feito também uma série de mudanças no que diz respeito à própria relação do BNDES com seus agentes [bancos credenciados], para procurar induzi-los a ajudar os microempresários: eles têm maior acesso aos recursos do banco para financiar as empresas grandes caso emprestem recursos às pequenas e médias empresas.

Folha - O que é determinante para a pequena empresa obter crédito no mercado?
Carvalho Filho -
É preciso apresentar um cadastro e um projeto que comprove as garantias possíveis de serem prestadas. No caso dos empréstimos solicitados aos bancos, que são de longo prazo, existe, por trás deles, um projeto. É muito importante que o empresário possa detalhá-lo e mostrar como será o retorno do investimento ao longo do tempo. É por ele que o banco vai analisar a capacidade do empreendedor.

Folha - O presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que, na verdade, há problemas de acesso aos recursos do BNDES por parte das micro e pequenas empresas. Quais são as grandes dificuldades para se conseguir empréstimo, afinal?
Carvalho Filho -
Não é um problema de volume. É questão de ter garantias adequadas e um projeto sustentável. Temos todo interesse em aumentar o financiamento desse setor. É uma cobrança não só da sociedade, mas também que o próprio planejamento estratégico do BNDES define claramente. Na verdade, a pequena e a média empresa não têm acesso a financiamento de capital de giro. Só o financiamos quando ele está associado a um investimento.

Folha - Qual a porcentagem de pequenas empresas que tiveram seus projetos de financiamento aprovados no ano passado?
Carvalho Filho -
Não tenho como calcular essa porcentagem, mas posso dizer que, em 2001, o BNDES financiou 136.825 projetos de micro, pequenas e médias empresas, que corresponderam a 95% do número de operações do banco.

Folha - Que tipo de investimentos costumam ser financiados pelo BNDES?
Carvalho Filho -
Ativos fixos ou semifixos, ou seja, máquinas, equipamentos e investimentos de longo prazo e de capacitação.

Folha - E o que não pode ser financiado?
Carvalho Filho -
Tem uma lista extensa, que inclui capital de giro, isoladamente, aquisição de veículos leves, importação de equipamentos usados, casas, motéis, além de uma série de atividades, como atividades financeiras e comércio de armas.

Folha - Qual é o prazo do pagamento da amortização de um financiamento?
Carvalho Filho -
Depende do tipo de empreendimento, mas, de modo geral, até cinco anos para equipamentos. Para projetos, é montado um cronograma de acordo com as necessidades do empreendedor.

Folha - Quanto tempo demora a avaliação do processo para a emissão de crédito?
Carvalho Filho -
Se for uma empresa que já tem um relacionamento com o banco, é só fazer um contrato. Se o projeto for complexo, pode demorar alguns meses.

Folha - Quanto custa, em média, um financiamento com recursos do BNDES?
Carvalho Filho -
Uma das bases desse custo é a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que hoje é de aproximadamente 10% anuais. Outras envolvem o dólar norte-americano e uma taxa de juros externa, fixa ou flutuante. Há também a remuneração do banco. Em suma, falamos de uma taxa nominal de cerca de 15% ao ano.



Próximo Texto: Fórum de Idéias: Qual o papel de micro e pequenos empresários na economia brasileira?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.