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CARBONO-MOEDA
Limitado, mercado afasta pequenos
Fazer parte da cadeia produtiva é uma das formas de lucrar com a venda de carbono
RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL
A velocidade do aquecimento
global hoje é semelhante à do
aquecimento pelo qual devem
passar algumas empresas.
Isso porque o aumento de
temperatura do planeta -que,
pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas,
pode chegar a 4,5 C até 2100-
foi um dos responsáveis pelo
surgimento de um novo mercado: o de créditos de carbono.
Com direito a negociação em
bolsa, ganham as companhias
que conseguem evitar a liberação de gases causadores do efeito estufa. Na outra ponta, estão
corporações incapazes de reduzir a emissão desses poluentes.
Os volumes negociados nessas transações dão a idéia do tamanho desse mercado -o CO2
é negociado em toneladas.
Com essa ordem de grandeza,
as primeiras empresas beneficiadas foram as grandes, como
as nacionais Sadia e Klabin.
Mas há quem diga que esse
mercado -ainda em solidificação- também pode comportar
pequenas e médias empresas.
O coordenador de Mudanças
Globais de Clima do Ministério
da Ciência e Tecnologia, José
Domingos Miguez, é um deles.
Segundo ele, "qualquer projeto que reduza a emissão [de
poluentes] pode participar".
Os empresários, no entanto,
esbarram em quatro barreiras
que os impedem de ir além.
O primeiro é o custo do projeto
(leia mais no quadro ao lado).
O segundo é a injeção de recursos necessários para fazer
as adaptações na companhia; o
terceiro, a falta de escala.
Fabrício Brollo, chefe do Departamento de Agronegócios
da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), aponta o
quarto impedimento para que
essas firmas ingressem nesse
mercado: o desconhecimento.
Um dos indícios para a afirmação está na baixa procura
pelo Programa de Apoio a Projetos do MDL (Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo), lançado em dezembro pela Finep.
Até a semana passada, apenas uma firma, de médio porte,
enviara projeto para o programa, que financia o desenvolvimento de soluções e estudos.
Maturação
José Domingos Miguez, do
MCT, diz haver alternativas para facilitar o ingresso de pequenas empresas. Uma delas é a
união de firmas em um projeto
-o que permitiria a divisão de
custos, como no caso dos APLs
(arranjos produtivos locais).
É a maneira como pequenos
produtores rurais são inseridos
em um processo de produção
de biodiesel, explica o professor da Coppe-UFRJ (órgão da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro) Emílio La Rovere.
Os agricultores, considera,
não teriam de arcar com os gastos gerados pela produção do
projeto de mecanismo de desenvolvimento limpo. Mas a
forma como essa renda seria
distribuída também ficaria sob
a responsabilidade da refinaria.
"Tudo dependerá do contrato. Os valores da venda de créditos de carbono podem estar
embutidos no valor da produção", exemplifica La Rovere.
Além do agronegócio, ele
elenca médias empresas, especialmente as do setor de transporte, como possíveis beneficiárias desse novo mercado.
O professor, no entanto,
aconselha: "O crédito de carbono não deve ser determinante
para implementar o MDL. É
preciso fazer o cálculo de custo/benefício para determinar
se a mudança é vantajosa".
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