São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004


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PARA INGLÊS, JAPONÊS E AMERICANO VER E COMPRAR


Gestão verde-amarela existe, afirmam pesquisadores e empresários residentes no exterior

Brasil exporta estilo de administrar

BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Além do já conhecido "jeitinho brasileiro", que põe de lado as regras para obter vantagens, existe um jeito verde-amarelo de administrar, dizem empresários e especialistas ouvidos pela Folha.
Treinado para sobreviver às surpresas da política econômica interna, o brasileiro teria aprendido à força a agir como um camaleão, adaptando-se a diferentes realidades. Segundo consultores, a habilidade está hoje entre as mais valorizadas pelo mercado mundial, que enfrenta turbulências de impacto globalizado.
"Está no DNA do empresário brasileiro que a capacidade de se adaptar é essencial para o sucesso do negócio", afirma Martín Escobari, sócio da consultoria de estratégia empresarial Orange Advisory. "Ele precisa dar respostas rápidas sem saber o que virá [na política econômica]", diz Donald Sull, professor-assistente da Harvard Business School.
Na hora de exportar esse jeito especial de gerenciar, os brasileiros apostam em três vertentes: 1) atender comunidades brasileiras, vendendo produtos que "matam a saudade" do país; 2) suprir demandas locais em países estrangeiros, descobrindo nichos de mercado; 3) abrir filiais no exterior em um estágio avançado de seu processo de exportação.
Leia, nesta edição, histórias de brasileiros que investiram nesses segmentos -e suas conclusões em relação à iniciativa.
O Japão é um dos países que têm atraído a atenção de empresários verde-amarelos. Eles investem em empresas para atender as famílias de decasséguis (descendentes de japoneses residentes no país), como escolas, e na comercialização de produtos "típicos", como o pão francês.
Segundo os organizadores da Expo Business, feira para fomentar os negócios entre Brasil e Japão que acontece em Nagoya no final de maio, o país abriga cerca de mil brasileiros donos de micro, pequenas e médias empresas.
Mas, de acordo com os especialistas, o brasileiro ainda tem dificuldades de voltar os olhos para o exterior. Seja com filiais de suas empresas em outros países, seja com a atuação globalizada da firma instalada no Brasil, o empresário tem o costume de esperar por "uma grande oportunidade".
"As empresas acham que vai surgir um cliente na China encomendando produtos e que o passo seguinte será abrir uma filial lá. Não é assim. A empresa precisa decidir que vai entrar na China. Os clientes vêm depois", ensina Escobari. "A globalização exige um compromisso formal, com investimentos e metas tangíveis."

Burocracia
Quando o que está em discussão são a papelada e as regras para abrir e manter a empresa, o Brasil não é visto como o país que oferece mais facilidades, tampouco é considerado o mais burocrático.
O Japão é descrito como "bem mais rígido". "É duro andar na linha, não existe "jeitinho". Mas tudo funciona", diz João Massuko, 53, que produz pães. Na França, os encargos sociais e impostos são considerados "imensos".


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