São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010


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"Guerra cambial pode resultar em falências"

Professora do Insead alerta sobre valorização do real e bolha imobiliária

JORDANA VIOTTO
SÃO PAULO

A guerra cambial vai impactar negativamente a economia brasileira se resultar em oscilações de moeda.
Um dos efeitos pode ser a quebra de empresas, principalmente as micro e pequenas, que têm menos poder de lidar com uma mudança brusca de cenário. A avaliação é de Lourdes Casanova, professora da escola francesa de negócios Insead. Autora de "Global Latinas" (editora Palgrave MacMillan, 2009, sem tradução para o português), sobre negócios emergentes na região, Casanova estudou organizações locais, desde as gigantes até as de gestão familiar.
Em entrevista exclusiva à Folha, ela aponta que essas empresas contam com capacidade para superar crises.
Mas também alerta sobre tendências perigosas, como a valorização do real e a bolha imobiliária no Brasil.

 

Folha - Quais são os riscos da guerra cambial atual para os países emergentes, como a Índia, a China e o Brasil?
Lourdes Casanova -
No Brasil, o principal risco é a valorização do real. O poder do país é limitado nesse caso. A rupia indiana e o yuan chinês não flutuam e estão protegidos de oscilações.

Que repercussões isso pode ter na economia brasileira?
Oscilações de moeda podem causar a quebra de empresas. Foi o que aconteceu em outubro de 2008, quando o real desvalorizou depois da quebra do banco de investimento Lehman Brothers.

Falando em 2008, o Brasil corre riscos com a alta dos preços dos imóveis?
Sim, eles subiram muito mais que o poder de compra dos brasileiros. Os resultados da explosão de uma bolha imobiliária são terríveis, como o que vimos nos EUA.

Durante a pesquisa para seu livro, o que chamou atenção?
As empresas são resilientes. Foi o que permitiu que muitas atravessassem a crise. Outra coisa é que a inovação está mais presente do que se imagina. Deveríamos ampliar o conceito além de patentes e publicações e incluir modelos de negócios e trabalho com marcas.

No Brasil, que inovações a senhora destacaria?
A transformação do país em potência de agricultura. Alimentação é um desafio para o futuro, e o Brasil está bem posicionado. O etanol também é importante. Ambos contaram com a combinação entre setor privado local, iniciativas governamentais e centros de pesquisa.

Isso significa que o Brasil pode se beneficiar mais da parceria de governo e empresas?
Sim, se analisarmos os exemplos, eles têm esse denominador comum.

A falta de liberdade política na China pode impactar o crescimento econômico?
Por enquanto, a prosperidade parece compensar a falta de liberdade política. Dado o atual estágio de desenvolvimento do cidadão médio em termos financeiros, é provável que esse aspecto domine o desejo por liberdade política por uma década ou mais. Mas será interessante ver como o país equacionará essa questão.


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