São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004


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NEGÓCIO EM FOCO

Pequenas empresas nacionais criam soluções para identificação de digitais, íris e voz

Tecnologia aposenta tinta no dedo

PAULA LAGO
EDITORA-ASSISTENTE DE NEGÓCIOS E EMPREGOS

O mal-estar diplomático gerado pela decisão de fichar americanos nos aeroportos brasileiros poderia ter sido reduzido se, desde o início, o processo de identificação tivesse sido acelerado com a adoção de equipamentos digitais. Tecnologia nacional não faltava.
A biometria, ramo da ciência que estuda a mensuração dos seres vivos, o que, em tecnologia, significa analisar características únicas capazes de identificar uma pessoa, é o campo de atuação de empresas de pequeno porte como Bioaccess, Genius Instituto de Tecnologia, Griaule, ID-Tech e Inteligência Informática.
Além da verificação de digitais, um turista, um terrorista ou mesmo alguém que vai visitar uma casa pode ser identificado por meio da voz, da face ou da íris.
Trata-se de um mercado que movimentou mundialmente, em 2002, US$ 601 milhões. No ano passado foram US$ 928 milhões -um incremento de 54,4%. Para 2007, a projeção é de US$ 4 bilhões, de acordo com o International Biometric Group.
"Num futuro não muito distante", diz Ricardo Yagi, 51, presidente da ID-Tech, "até mesmo o comportamento será comparado: a forma de andar e de sentar e o ritmo das ações, por exemplo".

Cotidiano
O uso desse tipo de tecnologia não se restringe à Polícia Federal. Um exemplo é a Griaule, que está há um ano e meio "incubada" na Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica), da Universidade Estadual de Campinas.
A tecnologia de reconhecimento de impressão digital lá desenvolvida pode ser aplicada tanto por seus clientes governamentais -Poupatempo e secretarias de Segurança Pública, por exemplo- como por empresas interessadas em controlar o acesso ou o ponto dos seus funcionários.
A ID-Tech, que desenvolve sistemas de verificação por íris, face e digitais, utiliza equipamento importado combinado com a solução e a integração nacionais.
Na curitibana Bioaccess foram criados equipamentos para identificação por digitais, entre eles um para uso residencial, que deve ser lançado em maio com custo de R$ 2.000. "Ele armazena 30 digitais e tem sistema interligado de automação", diz Eduardo Todeschini, 40, diretor comercial.
Fazer o reconhecimento de um indivíduo pela voz é um dos ramos do Genius Instituto de Tecnologia. "O grande objetivo de empresas que atuam com biometria", observa Cleber Giorgetti, gerente comercial, "é trabalhar com o maior número de pessoas no banco de dados no menor tempo e com o menor risco possível".
Uma solução do Genius foi combinar tecnologias: identificar a voz numa primeira filtragem e, depois, na confirmação, a digital.
O mesmo caminho seguiu a Inteligência Informática, do parque tecnológico Porto Digital, no Recife. Uma de suas soluções casa leitura de digitais, certificação digital e "smart card" (cartão com chip) com assinatura também digital. "O Tribunal Regional Federal de Brasília usa o produto, que assegura aos juízes autenticidade da assinatura digital", diz Joaquim Costa, diretor de tecnologia.

Margem de segurança
O risco de errar na identificação, dizem os desenvolvedores, depende do ajuste requerido pelo cliente. Assim, se o uso permitir uma margem de erro maior, como acesso a residências, aumenta a velocidade do processamento.
No caso da identificação por digital -que tem a implantação mais barata-, a relação seria de um erro em milhões, diz Yagi. Na verificação pela íris, a precisão é maior -um erro em dezenas de milhares. Mas o sistema tem o custo inicial mais caro, saindo por cerca de US$ 15 mil para o controle de uma única área restrita, com acréscimo de US$ 3.000 para cada área extra. Os preços dependem da necessidade do cliente.
A questão que fica para quem desenvolve e para quem aplica essas soluções está na ética, agora que até o olhar está sendo vigiado.
Miguel Gustavo Lizárraga Espinosa, pesquisador da Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp, diz que falta ao setor certificação. "Países desenvolvidos, que usam a biometria há mais tempo, já discutem a privacidade e sabem da necessidade da certificação. Precisamos de um órgão que assegure a acuidade dos processos."


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