São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010


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MICROCRÉDITO NO AR

Associações pretendem virar bancos

Oscips focadas em microcrédito buscam alavancar carteiras aderindo ao Banco Central

ANDRÉ LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O microcrédito cresceu 3,8 vezes mais do que o total de empréstimos concedidos pelos bancos no ano passado e vive uma situação de dupla inserção no sistema financeiro.
De um lado, o primeiro banco de microcrédito -investimento estrangeiro- deve chegar ao país no final deste ano.
De outro, organizações que visam a inclusão social sem ter fins lucrativos constroem uma estratégia para controlar entidades financeiras.
Criadas para emprestar dinheiro com o compromisso social de melhorar a renda de comunidades sem acesso ao sistema financeiro, algumas Oscips (Organizações Sociais de Interesse Público) iniciam a caminhada para virarem bancos.
O primeiro passo para isso é adquirir controle de uma figura jurídica conhecida como SCM (Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte).
Essa é a primeira fase na escala das entidades reguladas pelo Banco Central, com estrutura básica para operar no sistema financeiro.
Essa migração foi percebida por entidades do setor e confirmada por agentes microfinanceiros locais. Para elas, um grande atrativo é a possibilidade de alavancagem.
Com R$ 1 no caixa, uma Oscip empresta até R$ 3, mas uma SCM pode chegar a R$ 10.

Mais transparência
Além da expansão de carteira, uma figura controlada pelo Banco Central passa a ter um corpo técnico mais profissional, pois pode lucrar e pagar melhores salários e ainda ter governança mais rigorosa.
"As Oscips demonstraram que existe demanda, um modelo de negócio que funciona. As pessoas pagam, as carteiras crescem e o modelo pode ser profissional", analisa Terence Gallagher, da área de microfinanças da IFC (sigla em inglês para Corporação Financeira Internacional).
Nos outros países em que esse movimento ocorreu, afirma Gallagher, os bancos mantiveram as características de microfinanças, como fazer visitas "in loco" aos clientes, oferecer consultoria financeira e modelos adaptados à informalidade e também outros produtos, como seguros e hipotecas.

Custo maior
Estudando a criação de uma SCM, a Ande (Agência Nacional de Desenvolvimento Microempresarial) afirma estar receosa quanto aos custos para manter essa figura jurídica.
Isso porque uma SCM recolhe tributos que uma Oscip não costuma pagar -como o Imposto de Renda.
"É como se pagássemos para fazer desenvolvimento social. Microfinanças não é só emprestar, é construir capacidades", avalia Elza Fagundes, diretora-executiva da Ande.
Ela conta que agora está à procura de investidores para realizar esse projeto.
"Buscamos organizações ou empresas privadas que façam investimento social", diz.


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