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MICROCRÉDITO NO AR
Associações pretendem virar bancos
Oscips focadas em microcrédito buscam alavancar carteiras aderindo ao Banco Central
ANDRÉ LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL
O microcrédito cresceu 3,8
vezes mais do que o total de
empréstimos concedidos pelos
bancos no ano passado e vive
uma situação de dupla inserção
no sistema financeiro.
De um lado, o primeiro banco
de microcrédito -investimento estrangeiro- deve chegar ao
país no final deste ano.
De outro, organizações que
visam a inclusão social sem ter
fins lucrativos constroem uma
estratégia para controlar entidades financeiras.
Criadas para emprestar dinheiro com o compromisso social de melhorar a renda de comunidades sem acesso ao sistema financeiro, algumas Oscips
(Organizações Sociais de Interesse Público) iniciam a caminhada para virarem bancos.
O primeiro passo para isso é
adquirir controle de uma figura
jurídica conhecida como SCM
(Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa
de Pequeno Porte).
Essa é a primeira fase na escala das entidades reguladas
pelo Banco Central, com estrutura básica para operar no sistema financeiro.
Essa migração foi percebida
por entidades do setor e confirmada por agentes microfinanceiros locais. Para elas, um
grande atrativo é a possibilidade de alavancagem.
Com R$ 1 no caixa, uma Oscip empresta até R$ 3, mas uma
SCM pode chegar a R$ 10.
Mais transparência
Além da expansão de carteira, uma figura controlada pelo
Banco Central passa a ter um
corpo técnico mais profissional, pois pode lucrar e pagar
melhores salários e ainda ter
governança mais rigorosa.
"As Oscips demonstraram
que existe demanda, um modelo de negócio que funciona. As
pessoas pagam, as carteiras
crescem e o modelo pode ser
profissional", analisa Terence
Gallagher, da área de microfinanças da IFC (sigla em inglês
para Corporação Financeira
Internacional).
Nos outros países em que esse movimento ocorreu, afirma
Gallagher, os bancos mantiveram as características de microfinanças, como fazer visitas
"in loco" aos clientes, oferecer
consultoria financeira e modelos adaptados à informalidade e
também outros produtos, como seguros e hipotecas.
Custo maior
Estudando a criação de uma
SCM, a Ande (Agência Nacional de Desenvolvimento Microempresarial) afirma estar
receosa quanto aos custos para
manter essa figura jurídica.
Isso porque uma SCM recolhe tributos que uma Oscip não
costuma pagar -como o Imposto de Renda.
"É como se pagássemos para
fazer desenvolvimento social.
Microfinanças não é só emprestar, é construir capacidades", avalia Elza Fagundes, diretora-executiva da Ande.
Ela conta que agora está à
procura de investidores para
realizar esse projeto.
"Buscamos organizações ou
empresas privadas que façam
investimento social", diz.
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