São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004


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COMÉRCIO

Lojistas verificam queda de 50% no movimento e estudam entrar com ação judicial

Obras em Pinheiros paralisam vendas

DA REDAÇÃO

Britadeiras, cheiro de esgoto, tráfego comprometido e vaivém de caminhões fazem parte hoje do cotidiano de comerciantes das avenidas Rebouças e Cidade Jardim, na zona oeste de São Paulo.
Desde 8 de janeiro, no trecho mais prejudicado da Cidade Jardim (aquele entre a Faria Lima e a Franz Schubert), seis fachadas comerciais passaram a exibir placas de "aluga-se" ou "vende-se", e as demissões de funcionários diretos chegam a 134. O movimento caiu pelo menos 50%, segundo os lojistas da região, que reclamam em coro com os colegas da Rebouças.
A data marca o início da construção de dois túneis nos cruzamentos com a avenida Brigadeiro Faria Lima, visando a melhoria do tráfego. O prazo de entrega é de 11 meses. Contratualmente, porém, as empreiteiras têm 21 meses para encerrar os serviços.
As modificações no trânsito já se refletiram no faturamento. "No comércio, metade das vendas são por impulso. Com as obras, as pessoas evitam vir para cá", avalia Fabio Saboya, diretor-geral da ONG Boulevard Cidade Jardim.
A dúvida dos consumidores em relação ao funcionamento do comércio local é outro problema. "Tem gente que liga perguntando se ainda estamos atendendo", diz Marcelo Wolf, 42, gerente da Leimar Musical, da Rebouças.

Negociação
Em reunião na última terça com a prefeita Marta Suplicy (PT), a ONG ouviu um "sim" a algumas reivindicações, segundo a presidente Tania Piva de Albuquerque, 47, dona do Empório Santa Maria, que contabiliza queda de 50% no movimento e 20 demissões.
"A prefeita demonstrou sensibilidade e assegurou que a Cidade Jardim irá cruzar a Faria Lima, e não virar uma passagem subterrânea. Ela nos prometeu também um plano paisagístico e manteve os prazos de liberação da pista interrompida [1º de julho] e de encerramento da obra. "
Mas a negociação nem sempre é tranqüila: "De tudo o que pedimos, eles só mudaram o que era realmente um absurdo", afirma a economista Fernanda Bandeira de Mello, 44, presidente do Movimento Rebouças Viva, que reúne moradores e 40 comerciantes.
"Solicitamos pontos de travessia, e o que temos é um funcionário que faz a sinalização durante o dia; pedimos lombadas eletrônicas, e eles colocaram faixas, que não são exatamente seguidas."

Na Justiça
A associação aguarda concessão de liminar para paralisação da obra. "O pedido foi feito em 28 de dezembro. Queremos que seja feito um estudo de impacto ambiental e de vizinhança causado pela construção", ressalta Mello.
Na ONG Boulevard Cidade Jardim, Saboya diz que as ações judiciais (por perdas e danos e lucro cessante) estão prontas, mas só serão apresentadas se as negociações se complicarem. "Não posso admitir que qualquer tecnocrata seja mais inteligente do que nós. Nosso desafio é pensar em como amenizar os prejuízos da obra."
Katia Schwarcz, 70, sócia da Antigüidades Francisco, há 25 anos na Cidade Jardim, está a ponto de fechar. "O movimento caiu 90%, não podemos demitir, pois todos estão aqui há mais de 20 anos. Não sei até quando agüentaremos." (PAULA LAGO)


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