São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002


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ENTREVISTA

Com quantos cliques se faz um negócio

C. K. PRAHALAD

A internet hoje é uma ferramenta que pode contribuir -e muito- para um micro e pequeno negócio. Essa é a opinião do indiano C.K. Prahalad, 61, consultor em estratégia e um dos chamados "gurus da administração moderna". Em entrevista à Folha, ele compara a web ao "telefone da próxima geração" e recomenda sua utilização em todas as etapas de um empreendimento. A seguir, os principais trechos:

Folha - Como o avanço na tecnologia afeta a criação de pequenos negócios?
C. K. Prahalad -
Se pensarmos em tecnologia como internet, ela é fundamental. A web permite que o empresário troque informações com clientes e fornecedores e que coloque à venda seus produtos. E é fonte de informação para o empreendedor, que pode ficar atento ao que está acontecendo na concorrência e aos produtos lançados, além de poder comprá-los.

Folha - Todo negócio deve estar conectado à internet?
Prahalad -
A internet é o telefone da próxima geração. É uma ferramenta para conectar as pessoas. Eu certamente começaria um pequeno negócio tendo a internet como parte dele, não apenas para interagir com os clientes -montar uma mala-direta, por exemplo-, mas também para vender meus produtos, porque é um investimento muito pequeno. E também a usaria como ferramenta interna, para gerenciar reservas, escolher os fornecedores.

Folha - Pequenas empresas têm mais flexibilidade para lidar com mudanças?
Prahalad -
A vantagem do pequeno negócio em relação ao grande, nesse caso, é o reduzido número de pessoas que têm de se adaptar às mudanças. Por outro lado, se você tem um grupo menor de pessoas, mas elas não são flexíveis, as mudanças não acontecem. É por isso que eu sempre digo que as companhias não são flexíveis, flexíveis são as pessoas.

Folha - Quais as principais qualidades que um empreendedor deve ter para ser bem-sucedido?
Prahalad -
O empreendedor precisa estar sempre atualizado, o que não quer dizer necessariamente fazer cursos, mas ler, estar atento. Em segundo, trabalhar em grupo. Terceiro: focar sempre na performance profissional, melhorando resultados. E quarto: ter uma mente aberta.

Folha - O senhor acredita que a falta de dinheiro dificulta a implementação de negócios?
Prahalad -
Não. O dinheiro é importante, mas não o mais importante. Eu sei que as pessoas pensam que o dinheiro é a limitação básica. Em alguns casos pode ser, mas as limitações fundamentais são a imaginação e a perseverança, mesmo se as coisas não vão bem na primeira vez.

Folha - Como um empreendedor compensa a limitação de recursos financeiros?
Prahalad -
Se prestarmos atenção em todas as companhias de alta tecnologia, hoje, e olharmos 30 anos atrás, elas eram pequenas empresas. Amazon, Oracle, Microsoft. Todas começaram pequenas e com poucos recursos, mas todos os seus empreendedores tinham grandes aspirações. Poucos recursos não são o problema. O ponto está em ter grandes aspirações e a habilidade em obter sucesso. Hoje a CNN é muito popular no Brasil. Há 30 anos não tinha chance, comparada com a ABC, por exemplo.

Folha - E quais são as maneiras de maximizar os recursos no início de um negócio?
Prahalad -
Esse é um conselho que ninguém no Brasil precisa. O brasileiro tem muito mais noção de lidar com o dinheiro que um americano, devido às mudanças contínuas na economia. A inflação ensinou sobre fluxo de caixa a todos. Apesar de o empreendedor não usar o termo, instintivamente sabe o que é e por que tem de se preocupar com ele.

Folha - Mas por que, então, no Brasil os negócios quebram em tão pouco tempo de existência?
Prahalad -
Na maior parte do mundo, 90% dos pequenos negócios quebram antes de completar cinco anos e, diferentemente do que as pessoas pensam, a falta de recursos não é a principal causa. Os problemas, geralmente, estão associados à falta de flexibilidade do empreendedor, que também não contrata as pessoas certas.

Folha - Quais devem ser as principais estratégias de um empreendedor?
Prahalad -
Empreendedorismo é um exercício de otimismo. Se você não é um otimista, não pode ser um empreendedor. É preciso ter uma meta, saber o que quer criar, ter um foco, e, passo-a-passo, ir atrás dela. Para dar a partida, é preciso otimismo, imaginação, paixão e coragem.


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