São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008


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ENTREVISTA

HENRY MINTZBERG

Fazer plano estratégico é método que não funciona

Para professor, as empresas devem aprender com a experiência

As empresas não devem ter planos estratégicos sofisticados, e sim uma estratégia elaborada com a experiência. A afirmação é de Henry Mintzberg, professor de gerenciamento e estratégia da Universidade McGill, no Canadá. Segundo ele, o plano estratégico requer uma previsão correta do futuro -o que ninguém tem. Mintzberg foi palestrante da ExpoManagement, que aconteceu na semana retrasada em São Paulo. Leia trechos da entrevista concedida à Folha. (MARIA CAROLINA NOMURA)

 

FOLHA - Com a crise internacional, todos os setores da economia estão em alerta. Existe alguma área dos negócios que não será afetada?
HENRY MINTZBERG -
Há sempre indústrias que serão menos afetadas, como os setores de saúde e de alimentos, porque as pessoas necessitam deles, não importa o que aconteça.

FOLHA - De que maneira o gerenciamento pode impedir que a empresa seja tão afetada?
MINTZBERG -
O bom gerenciamento pode auxiliar a empresa a encontrar maneiras de sair da crise ou ajudá-la a se adaptar a um novo cenário.

FOLHA - O senhor mencionou, em sua palestra, que o gerenciamento não é algo que pode ser aprendido nas escolas. De que maneira uma pessoa se torna, então, um administrador?
MINTZBERG -
Sendo inteligente e sensível. É preciso saber o que está acontecendo, compreender os clientes e passar um tempo com os funcionários. Construir em sua companhia um espírito de preocupação com a equipe.

FOLHA - Seguindo essa idéia, qual é a diferença entre gerenciar uma grande e uma pequena empresa?
MINTZBERG -
É mais fácil estar em contato com os funcionários em empresas pequenas. Mas as pessoas de grandes companhias também têm de fazer isso e, assim, saber o que está acontecendo.

FOLHA - Quais são as diferenças entre plano estratégico e plano de negócios?
MINTZBERG -
Plano estratégico não existe. O que existe é uma estratégia. O plano implica saber o que vai acontecer no futuro. Pode-se dizer que há uma posição estratégica ou uma visão estratégica, mas não um plano estratégico. Um plano de negócios é mais prático. É estabelecer qual será o orçamento, quantas máquinas vai comprar, quantas pessoas vai contratar.

FOLHA - É errado, então, ter um plano estratégico?
MINTZBERG -
Sim. É uma péssima idéia. As pessoas devem pensar no futuro da empresa, nos clientes, nos produtos que vendem. Esqueça essa estupidez com quadros e desenhos. Isso não é uma estratégia. Os empresários deveriam aprender com sua experiência, isso é uma estratégia. Não é necessário um pensamento sofisticado para ter uma estratégia. É preciso apenas encontrar um lugar no mundo e descobrir como servi-lo de uma maneira única.

FOLHA - O plano estratégico não é eficiente, em sua visão. Algum dia ele foi eficiente?
MINTZBERG -
Não, nunca. Eu o chamo de oximoro, isto é, duas palavras que se contradizem, como "grande" e "pequeno". A estratégia não é criada em um processo de planejamento, mas em um processo de aprendizado. Ou seja, você testa as coisas, uma dá certo, outra, não, e você continua a fazer o que funciona e aprende qual é o seu jeito de gerenciar.

FOLHA - Qual é o seu conselho para os gestores de pequenas empresas brasileiras?
MINTZBERG -
Eu seria muito cauteloso com os padrões norte-americanos de gerenciamento. Os Estados Unidos não são mais um lugar de onde se deve copiar algo. Por isso, sou contra os MBAs, que ensinam as pessoas a seguirem umas as outras, e não a pensarem por si. Isso vem acontecendo nas empresas norte-americanas. Elas só enxergam as metas a curto prazo, são narcisistas. Têm o pior tipo de gerenciamento.


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