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ENTREVISTA
HENRY MINTZBERG
Fazer plano estratégico é método que não funciona
Para professor, as empresas devem aprender com a experiência
As empresas não devem ter planos estratégicos sofisticados, e sim uma estratégia elaborada com a experiência. A afirmação é de Henry Mintzberg, professor
de gerenciamento e estratégia da Universidade
McGill, no Canadá. Segundo ele, o plano estratégico
requer uma previsão correta do futuro -o que ninguém tem. Mintzberg foi palestrante da ExpoManagement, que aconteceu na semana retrasada em São
Paulo. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.
(MARIA CAROLINA NOMURA)
FOLHA - Com a crise internacional,
todos os setores da economia estão
em alerta. Existe alguma área dos
negócios que não será afetada?
HENRY MINTZBERG - Há sempre
indústrias que serão menos
afetadas, como os setores de
saúde e de alimentos, porque as
pessoas necessitam deles, não
importa o que aconteça.
FOLHA - De que maneira o gerenciamento pode impedir que a empresa seja tão afetada?
MINTZBERG - O bom gerenciamento pode auxiliar a empresa
a encontrar maneiras de sair da
crise ou ajudá-la a se adaptar a
um novo cenário.
FOLHA - O senhor mencionou, em
sua palestra, que o gerenciamento
não é algo que pode ser aprendido
nas escolas. De que maneira uma
pessoa se torna, então, um administrador?
MINTZBERG - Sendo inteligente
e sensível. É preciso saber o que
está acontecendo, compreender os clientes e passar um
tempo com os funcionários.
Construir em sua companhia
um espírito de preocupação
com a equipe.
FOLHA - Seguindo essa idéia, qual é
a diferença entre gerenciar uma
grande e uma pequena empresa?
MINTZBERG - É mais fácil estar
em contato com os funcionários em empresas pequenas.
Mas as pessoas de grandes
companhias também têm de
fazer isso e, assim, saber o que
está acontecendo.
FOLHA - Quais são as diferenças
entre plano estratégico e plano de
negócios?
MINTZBERG - Plano estratégico
não existe. O que existe é uma
estratégia. O plano implica saber o que vai acontecer no futuro. Pode-se dizer que há uma
posição estratégica ou uma visão estratégica, mas não um
plano estratégico. Um plano de
negócios é mais prático. É estabelecer qual será o orçamento,
quantas máquinas vai comprar,
quantas pessoas vai contratar.
FOLHA - É errado, então, ter um
plano estratégico?
MINTZBERG - Sim. É uma péssima idéia. As pessoas devem
pensar no futuro da empresa,
nos clientes, nos produtos que
vendem. Esqueça essa estupidez com quadros e desenhos.
Isso não é uma estratégia. Os
empresários deveriam aprender com sua experiência, isso é
uma estratégia. Não é necessário um pensamento sofisticado
para ter uma estratégia. É preciso apenas encontrar um lugar
no mundo e descobrir como
servi-lo de uma maneira única.
FOLHA - O plano estratégico não é
eficiente, em sua visão. Algum dia
ele foi eficiente?
MINTZBERG - Não, nunca. Eu o
chamo de oximoro, isto é, duas
palavras que se contradizem,
como "grande" e "pequeno". A
estratégia não é criada em um
processo de planejamento, mas
em um processo de aprendizado. Ou seja, você testa as coisas,
uma dá certo, outra, não, e você
continua a fazer o que funciona
e aprende qual é o seu jeito de
gerenciar.
FOLHA - Qual é o seu conselho para
os gestores de pequenas empresas
brasileiras?
MINTZBERG - Eu seria muito
cauteloso com os padrões norte-americanos de gerenciamento. Os Estados Unidos não
são mais um lugar de onde se
deve copiar algo. Por isso, sou
contra os MBAs, que ensinam
as pessoas a seguirem umas as
outras, e não a pensarem por si.
Isso vem acontecendo nas empresas norte-americanas. Elas
só enxergam as metas a curto
prazo, são narcisistas. Têm o
pior tipo de gerenciamento.
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