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NO TOM CERTO
Improvisos, erros e superação são temas de workshops de banda de jazz e de orquestra
Músicos afinam "cordas" da empresa
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Nem tudo é harmonia no mundo da música. E um debate secular dessa arte está chegando ao
campo da administração empresarial: o que é melhor, a liberdade
improvisatória das bandas de jazz
ou a disciplina organizacional das
orquestras sinfônicas?
Para conhecer os argumentos
dos defensores de cada lado, a Folha acompanhou dois workshops.
Um deles se chama "Jazz x Gestão
de Empresas". O outro atende pelo nome de "Sinfonia Empresarial". A maneira como cada um
aconteceu já dá uma idéia da diferença de abordagem.
O primeiro aconteceu num galpão em um hotel-fazenda no interior de São Paulo, a pessoa mais
bem vestida trajava calça jeans e
camisa pólo e a platéia bebericava
cerveja enquanto tentava decifrar
conceitos como coordenação de
processos e multifuncionalidade.
No encontro "sinfônico", havia
gente de terno com corte acima da
média, o ambiente era um galpão
de uma empresa na capital, só havia água para beber durante o
workshop e todos estavam acomodados em cadeiras de plástico,
é verdade, mas recobertas com
uma capa de tecido que lhes emprestava certa dignidade.
Ao vivo
Montados os cenários, os roteiros seguiram direção parecida.
Por cerca de duas horas, o palestrante produz metáforas que se
aplicam tanto a organizações musicais quanto empresariais. Tudo
pontuado com exemplos sonoros
executados ao vivo.
Com o Zimbo Trio na retaguarda, o consultor Luis Felipe Cortonie, 49, fala sobre como, na avaliação dele, as organizações modernas priorizam profissionais com
capacidade de improviso, que
consigam criar uma visão de futuro e que não tenham problema
em transferir idéias de um campo
de conhecimento para outro.
É a senha para que o grupo musical comece a tocar "Lamento",
de Pixinguinha (1897-1973). No
meio da execução, o pianista
Amilton Godoy faz a música passear pelas orquestrações do jazzista Duke Ellington, o baixista
Itamar Collaço cita "Tico-Tico no
Fubá" durante seu solo, e o baterista Rubinho Barsotti passa o
tempo todo lembrando que a
composição é um chorinho.
Corte para a orquestra. O maestro Walter Lourenção, 72, defende as virtudes da auto-superação.
Fala sobre como o medo de não
estar à altura das responsabilidades pode despertar no profissional a busca pelo aperfeiçoamento.
Para ilustrar e para servir como
uma metáfora de incentivo à
transformação, a orquestra toca
"Trumpet Voluntary", composta
pelo inglês Jeremiah Clarke (1674-1707). "Viver significa decidir, escolher, usar o dom pessoal", conclui o maestro.
Divergências
Embora, no geral, valorizem a
importância do indivíduo no resultado final do trabalho, "jazzistas" e "sinfônicos" divergem sobre sutilezas conceituais.
A questão do erro é um exemplo. Para o maestro, ele deve ser
combatido com muita preparação e controle de qualidade. "Faz
parte do trabalho, mas o erro é raro entre músicos dessa categoria."
Do outro lado, há mais tolerância. Consultor e Zimbo Trio concordam que o erro "pode apontar
um novo caminho". "Quando nós
três erramos juntos, vira certo",
arrisca Barsotti, o baterista.
Outro tema caro nos dois encontros é o improviso. Na opinião
do consultor Cortonie, ele é bem-vindo nas organizações modernas e traz consigo outros conceitos também tidos como benéficos. Dinamismo, iniciativa, liderança compartilhada, humor e
versatilidade são alguns deles.
Geração de empregos
Lourenção começa questionando o conceito de improviso no
jazz, dizendo que há ali normas
restritivas a serem seguidas e que,
na música erudita, há espaço para
que o instrumentista crie, apesar
do controle centralizador do
maestro. "Não há como colocar
na partitura todos os aspectos de
uma composição musical."
Assim, quer seja com um controle mais rigoroso e liberdade de
ação limitada ou com rédeas mais
soltas e abertura para iniciativas
pessoais, ambos workshops despertam, no mínimo, uma reflexão
a respeito das organizações e trazem um efeito benéfico imediato:
geram empregos para músicos.
ONDE ENCONTRAR
"Jazz x Gestão de Empresas": na consultoria LCZ, tel. 0/xx/11/5182-7779;
"Sinfonia Empresarial": na empresa
Arte & Comunicação, tel. 0/xx/11/ 5181-4182. Em ambos os casos, os preços variam conforme o número de pessoas na
platéia e uma série de serviços opcionais
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