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New York Times

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Mulheres afegãs vencem tabu contra bicicletas

Por JED LIPINSKI

Novembro passado foi a 11a visita de Shannon Galpin às montanhas de Cabul, no Afeganistão, onde ela percorria trilhas com sua mountain bike. Ela já estava acostumada a ver no país caravanas de camelos, tanques soviéticos abandonados e soldados vasculhando o deserto à procura de minas terrestres.

Uma coisa que Galpin ainda não tinha visto era outra mulher de bicicleta. Mas, certa tarde, um barista num café local lhe contou que não apenas havia mulheres afegãs andando de bicicleta, como algumas delas tinham formado sua própria equipe nacional de ciclismo.

Trajando calças compridas e blusas de mangas longas, com lenços de cabeça sob os capacetes, elas treinavam nas rodovias antes do amanhecer em bicicletas velhas comuns, acompanhadas pelo treinador da equipe de ciclismo masculina.

"Mal pude acreditar", comentou Galpin, 38, ex-instrutora de pilates de Breckenridge, no Colorado. "Eu já tinha estado nas regiões mais avançadas do país e nunca tinha visto uma menina numa bicicleta, muito menos uma mulher adulta."

Andar de bicicleta é tabu para as mulheres no Afeganistão. Os comportamentos vistos como aceitáveis variam de uma família e de uma comunidade para outra, mas uma mulher andando de bicicleta é algo "amplamente visto como imoral", segundo Heather Barr, pesquisadora da organização Human Rights Watch no Afeganistão.

Galpin, que afirma ser a primeira mulher a ter andado de mountain bike na zona rural do Afeganistão, decidiu ajudar as ciclistas.

Ela retornou ao país em abril para distribuir mais de 40 malas carregadas de equipamentos de ciclismo para as equipes de ciclismo nacionais, masculina e feminina. Os artigos incluíram ferramentas de bicicleta, assentos, tênis e cerca de 200 agasalhos.

Para documentar o evento, Galpin levou uma equipe para rodar um curta-metragem, intitulado "Afghan Cycles", sobre a equipe feminina. Apesar de terem recebido ameaças de morte, disse ela, muitas das ciclistas estão ansiosas para falar publicamente sobre a equipe.

"Elas não diferem das mulheres afegãs que arriscam suas vidas para ir à escola ou para se candidatarem a uma vaga no Parlamento", comentou.

Galpin foi ao Afeganistão pela primeira vez em 2008. Desde então, a organização sem fins lucrativos Mountain2Mountain, que ela fundou em 2006 para ajudar mulheres em zonas de conflito, construiu um centro de recuperação para mulheres dependentes de heroína e laboratórios de informática para escolas femininas de Cabul.

O compromisso de Galpin com os direitos das mulheres começou depois de ela ser estuprada e esfaqueada aos 17 anos, quando caminhava num parque no centro de Minneapolis, onde estudava. "Passei anos morrendo de medo de ser definida como vítima", conta. "Não percebia que o fato de ser vítima também podia ser uma fonte de força."

O Afeganistão tem 45 ciclistas mulheres licenciadas. Algumas participaram nos torneios de ciclismo asiáticos realizados em Nova Déli em março. Quatro delas não chegaram a concluir as corridas. "Porém, o fato de terem estado na linha de partida já é uma vitória", comentou Dominique Raymond, da União Internacional de Ciclismo, o organismo mundial que rege a atividade.


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