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New York Times

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Mudança cambial abala emergentes

Por LANDON THOMAS Jr.

Numa cidade em que diversos arranha-céus brotaram nos últimos anos, nenhum se destacou tanto quanto a torre Sapphire. Mas, hoje, essa construção de Istambul é símbolo de como pode ser alta a queda dos poderosos.

Como a vasta maioria dos novos edifícios que recobriram as colinas de Istambul nos últimos anos, o Sapphire -o prédio mais alto da Turquia, com 260 metros- foi construído graças a empréstimos baratos, em dólares, que inundaram a Turquia e outros mercados de rápido crescimento, como Brasil, Índia e Coreia do Sul.

O dinheiro começou a chegar quando o Federal Reserve (dos EUA) e outros Bancos Centrais importantes cortaram fortemente seus juros, em 2009, num esforço para estimular a recuperação econômica nos EUA e em outras nações industriais avançadas.

Mas, agora, com a crescente expectativa de que o Federal Reserve começará a restringir seu fluxo monetário, a paisagem urbana de Istambul corre o risco de se tornar o prenúncio da quebra de mercados emergentes por empréstimos não pagos, desvalorizações cambiais e possível falência de bancos e incorporadoras imobiliárias.

Até os otimistas estão começando a ficar nervosos com o rápido acúmulo de dívidas em dólares. Alguns dos maiores beneficiários da benevolência do Federal Reserve eram parte das elites de nações emergentes, como a Turquia, onde shoppings reluzentes e edifícios feitos para ostentar vaidades se tornaram representações do novo dinamismo nacional, tanto econômico quanto geopolítico.

O que essas elites ignoraram até agora, alerta o consultor econômico Tim Lee, é que suas obrigações acarretam um perigo premente: o risco cambial. Ao contrário dos empréstimos de risco feitos a mutuários "subprime" nos Estados Unidos ou a incorporadores imobiliários irlandeses na zona do euro, essas dívidas em dólar precisam ser pagas basicamente em dólares por entidades que faturam principalmente em moeda local.

Se a moeda local começa a se desvalorizar, o pagamento dos empréstimos em dólar torna-se mais custoso para os devedores. Assim, os credores ficam cada vez mais ariscos com relação à sua exposição a uma moeda frágil e podem agir para reduzir ou até eliminar linhas de crédito.

Poucos países dependeram tanto dessa fonte de dinheiro quanto a Turquia, onde os empréstimos em dólar, num total de US$ 172 bilhões, equivalem a 22% da economia. Nos últimos meses, a lira turca perdeu 4,5% do seu valor perante o dólar. O Goldman Sachs prevê uma cotação de 2,20 liras por dólar, o que representaria uma desvalorização de 15% em relação ao atual valor de 1,95 lira por dólar. "O milagre econômico turco foi construído em cima da liquidez e de uma maciça valorização da lira turca", disse Atilla Yesilada, economista da empresa Global Source Partners em Istambul.

Esses empréstimos, muitos deles de curto prazo, também ilustram uma característica do boom nos mercados emergentes: o forte nexo entre governos ambiciosos, ávidos por promover investimentos, e grupos empresariais dispostos a assumir esses projetos.

A torre Sapphire, na Turquia, é um exemplo perfeito. O edifício de 54 andares é o símbolo do Kiler Group, um dos muitos conglomerados que obtiveram sucesso sob o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.

Segundo documentos apresentados às agências reguladoras, 154 milhões de liras do total de dívidas do grupo, que é de 164 milhões de liras, estão em dólares -ou cerca de US$ 79 milhões, de acordo com o câmbio atual. Dessa cifra, US$ 25 milhões dizem respeito à torre Sapphire, segundo funcionários da empresa. A maior parte da dívida do grupo é de vencimento rápido. Num reflexo do risco do projeto, documentos mostram que a renda gerada pelo imóvel vai para o credor primário, o Akbank, quarto maior banco turco.

Por causa da diferença entre os juros do empréstimo em dólar, de 6,5%, e o custo do crédito em liras, de 11,5%, não surpreende que o Kiler Group e outros tenham preferido se endividar em dólares.

Rasim Kaan Aytogu, do Kiler Group, argumenta que, como o projeto contabiliza seu faturamento em dólares, ele não está exposto às flutuações cambiais. Ele diz também que a demanda pelos apartamentos está subindo e que 66% deles já foram vendidos.

Mas especialistas em mercado imobiliário da Turquia dizem que as vendas dos apartamentos, que custam de US$ 1 milhão a US$ 10 milhões, perderam fôlego e que a torre não tem o mesmo prestígio que edifícios concorrentes.

O Kiler Group não está sozinho. Ainda há o Kalyon Group, outro conglomerado imobiliário estreitamente ligado a Erdogan.

O Kalyon é o principal incorporador por trás do polêmico plano de Erdogan de construir um shopping center com o formato de um quartel otomano perto da praça Taksim. Ainda que os problemas tenham começado a se acumular, Cemal Kalyoncu, do Kalyon Group, acredita que nada mudará. "Financiar o projeto não será um problema."


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