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New York Times

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EUA discutem volta de abate equino

Por FERNANDA SANTOS

Parecia uma aliança lógica para os mundos interconectados de Hollywood e da política. Bill Richardson, ex-governador do Novo México, e o astro do cinema Robert Redford se juntaram a grupos de defesa dos animais numa ação judicial que buscava impedir a retomada do abate de cavalos nos Estados Unidos, proclamando estar "ao lado dos líderes nativos americanos", para os quais o abate de cavalos constituiria "uma violação dos valores culturais tribais".

Logo, porém, a dupla se viu em rota de colisão com a Nação Navajo, maior tribo federalmente reconhecida dos EUA, cujo presidente divulgou recentemente uma carta ao Congresso declarando seu apoio ao abate dos animais.

Cavalos desgarrados custam US$ 200 mil por ano aos navajos em danos a propriedades e pastagens, segundo o presidente navajo, Ben Shelly. Para ele, há uma lacuna entre realidade e romance quando "forasteiros" como Redford -que já viveu nas telas um pistoleiro, um assistente de xerife e um encantador de cavalos- interpretam as lutas dos índios.

"Talvez Robert Redford possa vir ver o que pode fazer para nos ajudar", disse Shelly. "Estou disposto a considerar manter os cavalos vivos e dá-los para alguém, mas, neste momento, a melhor alternativa é ter algum tipo de instalação de abate."

Os cavalos, dezenas de milhares deles, estão no centro de uma apaixonada disputa na Justiça, no Congresso e até dentro de tribos do oeste dos EUA: se as autoridades federais devem ou não sancionar o abate para reduzir as manadas.

No território navajo, calcinado há anos por uma inclemente seca e assolado pela pobreza, um cavalo feral (animal domesticado que retornou ao estado selvagem) consome 20 litros de água e oito quilos de forragem por dia, sendo que os índios precisariam de parte disso para o seu gado.

Há 75 mil cavalos ferais e selvagens nos EUA, segundo Shelly. Eles não têm donos, e acredita-se que muitos sejam nativos do Oeste. As tribos dizem que é preciso encontrar uma forma eficaz de reduzir sua população. Embora seja comum atirar em cavalos velhos, há muitos deles para serem eliminados, e é possível ganhar dinheiro no trabalho de capturá-los e vendê-los.

Há também a questão da soberania, um dos pontos levantados numa resolução do Congresso Nacional dos Índios Americanos em favor do abate equino. A resolução diz que as encostas e os vales são desnudados pelo consumo excessivo da pastagem por cavalos ferais e selvagens, os quais "estão em praticamente qualquer lugar para onde você olhar" nas reservas indígenas do oeste americano.

Richardson admitiu a existência do conflito, que semeia divisões mesmo entre membros da mesma tribo. Os autores do processo judicial incluem indígenas que falaram sobre a relação especial dos índios americanos com os cavalos, o "magnífico [animal] de quatro patas [...], participante das nossas histórias de criação", como descreveu o navajo Paul Tohlakai.

"Institucionalmente", disse Richardson, "há problemas que precisam ser resolvidos. É por isso que a solução definitiva seria encontrar um habitat natural, ou uma série de habitats naturais, e a adoção para os cavalos". Redford, que mora parte do tempo no Novo México, não estava disponível para comentar.

Os EUA nunca desenvolveram um mercado para a carne equina, alimento comum em lugares como Bélgica, China e Cazaquistão, mas, a certa altura, o país chegou a ter mais de dez abatedouros para cavalos. Os últimos três fecharam em 2007, depois que o Congresso proibiu o uso de verbas federais para as inspeções dessas instalações, o que na prática acabou com essa atividade por deixá-la sem o selo de aprovação governamental.

Em seu último ano, os três matadouros abateram 30 mil cavalos para consumo humano e embarcaram outros 78 mil para abate no Canadá e no México.

Wayne Pacelle, presidente da Sociedade Humana dos EUA, disse que os esforços do grupo estão focados em prevenir a morte dos cavalos para o consumo, "a fim de evitar a criação de uma indústria que transforme os cavalos em uma commodity alimentícia global". Pacelle disse haver alternativas ao abate, como o uso de contraceptivos para controlar a população.

Para Shelly, a dúvida é se é melhor abater os cavalos desgarrados ou, como já fizeram muitos índios na reserva navajo, deixá-los morrer lentamente de fome e sede.


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