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New York Times

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Boicote à vodca russa prejudica a Letônia

Por ANDREW HIGGINS

RIGA, Letônia - Quando vários americanos proeminentes, indignados com o que consideravam uma maré crescente de homofobia patrocinada pelo Estado da Rússia, pediram o boicote da vodca Stolichnaya neste verão, não tiveram um aliado mais ferrenho contra Moscou que Kaspars Zalitis, defensor dos direitos dos gays da Letônia, país báltico que tem uma longa e dolorosa experiência com a opressão das minorias pela Rússia.

Então ocorreu uma estranha surpresa: a Stolichnaya, como Zalitis descobriu, não é feita na Rússia, mas em sua cidade natal, a capital da Letônia, que se libertou do jugo russo há mais de duas décadas. "Eu sempre pensei que fosse russa", disse ele.

Promovido pelo grupo gay Queer Nation para pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, a abandonar uma nova lei que proíbe "propaganda homossexual", o boicote à vodca teve boas intenções, disse Stuart Milk, ativista gay e sobrinho de Harvey Milk, pioneiro dos direitos gays na Califórnia que foi assassinado, retratado por Sean Penn no filme "Milk", de 2008.

"Eles pensaram que a Stoli seria um alvo fácil", disse Milk.

Mas ele disse que sabia, por já ter trabalhado no Báltico, que a Stolichnaya tinha um grande número de funcionários na Letônia. Boicotar a vodca foi "enganoso", pois apenas prejudicaria uma empresa e um país que são adversários do Kremlin, disse ele.

A Stolichnaya contribuiu para a confusão, ao se promover durante décadas como uma vodca "russa" em seus rótulos. Estes foram trocados em 2010, para dizer simplesmente "vodca premium".

A nacionalidade exata da Stolichnaya, como muitas marcas globais, é difícil de definir. Ela foi feita durante algum tempo na Rússia e era simplesmente engarrafada em Riga, mas, nos últimos anos, foi filtrada e misturada na Letônia.

Apesar disso, enquanto sua água vem de fontes letãs, seu principal ingrediente, o álcool destilado de cereais, ainda vem da Rússia. As garrafas vêm da Polônia e da Estônia, as tampas da Itália.

Todas as cerca de 100 mil garrafas de Stolichnaya produzidas por dia para venda em mercados fora da Rússia vêm de uma fábrica aqui em Riga, operada pela Latvijas Balzams, empresa de mais de cem anos que está entre os maiores empregadores e contribuintes do país.

Seu principal dono, Yury Shefler, nasceu e foi criado na Rússia. Mas, acusado por Moscou de roubar o nome Stolichnaya do Estado russo nos anos 1990, ele está sujeito à prisão na Rússia e não esteve no país em mais de uma década.

A companhia que controla a marca, o Grupo SPI, sediado em Luxemburgo, também é propriedade de Shefler, que não quis dar entrevista. A SPI montou uma vigorosa campanha pública para mostrar que não é russa, não compartilha a visão do Kremlin sobre a homossexualidade e é uma "defensora fervorosa e amiga" de lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneros.

Val Mendeleiev, o executivo-chefe do grupo SPI, nascido na Rússia, quer deixar claro que a Stolichnaya é qualquer coisa menos um aliado do Kremlin e que "você não vai abalar a Rússia ao abandonar a Stoli".

A fábrica da Stolichnaya em Riga diz que seu negócio de vodca, 60% do qual nos Estados Unidos, ainda não foi prejudicado pelo boicote.

A Queer Nation disse que o boicote se destina a todas as vodcas russas e, "como a Stolichnaya é uma vodca russa que é feita por uma empresa russa, também é um alvo apropriado". A Queer Nation disse que o cereal usado para fazer a vodca vem da Rússia e a SPI "tem escritórios e operações na Rússia".

Mendeleiev, o executivo-chefe da SPI, admitiu que a companhia tem um escritório em Moscou, mas com apenas cerca de cem funcionários. A empresa também cultiva cereais e opera uma destilaria na região russa de Tambov para produzir álcool puro. Ao todo, há cerca de 600 empregados na Rússia, disse Mendeleiev, e aproximadamente 900 trabalhando na Letônia.

Zalitis emitiu uma carta aberta no mês passado em protesto contra o boicote em nome da Mozaika, um grupo de direitos gays da Letônia. "Se o boicote funcionar, os letões perderão seus empregos", disse. "Quem eles vão culpar? Putin? Não, eles vão culpar os gays."


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