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New York Times

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Tribunal russo condena supostos figurões do spam

Por ANDREW E. KRAMER

MOSCOU - Igor A. Artimovich morava há anos com sua mulher em um apartamento de três quartos em São Petersburgo e passava horas sentado diante de seu laptop Lenovo, de pijama, bebendo café.

Se ele era conhecido pelos analistas de segurança ocidentais que rastreiam as origens do spam, em particular os que promovem produtos de estímulo sexual para homens, era só pelo codinome que Artimovich usava nas salas de bate-papo da Rússia, Engel.

Sua agradável rotina mudou nos últimos meses, quando um tribunal de Moscou ligou Artimovich e outras três pessoas a uma das mais prolíficas spambots do mundo -redes ilegais de computadores infectados por vírus que enviam spam.

A decisão permitiu vislumbrar o mundo da indústria do spam do Viagra, empreendimento ilegal de milhões de dólares que se estende da Rússia à Índia. O tribunal deu nomes e rostos a uma rede global obscura de computadores infectados, conhecida fora da Rússia como Festi e no país como Topol-Mailer, em referência ao míssil balístico intercontinental Topol-M. A rede era poderosa o suficiente para gerar, em certas ocasiões, até um terço de todas as mensagens de spam que circulavam globalmente.

Os promotores dizem que Artimovich era um dos dois principais programadores que controlavam a rede, em um grupo que incluía um ex-oficial do Serviço Federal de Segurança (FSB), a agência que sucedeu a KGB.

Quando eles controlam computadores infectados por vírus, utilizam softwares contidos em computadores domésticos e de empresas para enviar spam. O dono de um computador infectado geralmente não sabe que sua máquina está comprometida. Com frequência, esses computadores infectados estão na Índia, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, onde os usuários não costumam comprar antivírus. Mas a programação de vírus de ponta geralmente ocorre na Rússia.

Um tribunal de Moscou condenou duas pessoas por projetar e controlar a Festi e outras duas por pagar por seus serviços, mas nenhuma delas especificamente por distribuir spam. Em vez disso, o tribunal condenou o grupo por usar a rede Festi em 2010 para dirigir milhares de navegadores simultaneamente para a página da web do sistema de pagamentos on-line da Aeroflot, a empresa aérea nacional russa, fazendo-o entrar em pane no que é conhecido como ataque de negação de serviço distribuído (DDoS).

O problema do spambot perturba as autoridades policiais ocidentais, que se queixam de que os russos ignoram os prejuízos para empresas globais que pagam cerca de US$ 6 bilhões por ano por filtros antispam e para companhias como a Pfizer, por vendas perdidas para pílulas falsificadas.

Por que as autoridades russas permitiram que a Festi funcionasse durante anos não está claro, mas ela foi usada no ano passado dentro da Rússia para travar sites da oposição durante a eleição presidencial. A rede Festi foi a ferramenta preferida em um importante DDoS ao LiveJournal, um dos serviços de hospedagem de blogs usados pelo dissidente e blogueiro russo Alexei Navalny, segundo a revista de cibersegurança russa "Hacker".

O caso no tribunal russo destacou quatro homens: Pavel Vrublevsky, dono de uma empresa de pagamentos on-line chamada ChronoPay, Maksim Permakov, empregado de Vrublevsky e ex-agente da FSB, Artimovich, ex-funcionário da Sun Microsystems na Rússia, e seu irmão Dmitry Artimovich, programador independente.

Todos negaram as acusações e disseram que pretendem apelar das sentenças, que vão de dois anos a dois anos e meio de prisão, exceto para Permakov, que cooperou com os investigadores em troca de uma suspensão da sentença. Mas especialistas em segurança de computadores dizem que o spam que observaram desde então sugere que ou os homens errados foram condenados ou os códigos de controle foram transmitidos para outros.

Os promotores afirmaram que Igor Artimovich criou a Festi. Eles dizem que executivos da ChronoPay o contrataram para travar o site da Aeroflot porque estavam com raiva por ter perdido uma licitação de negócios para a companhia aérea. A polícia diz que executivos pediram que Artimovich acertasse as contas.

Em uma entrevista, Artimovich disse que trabalhava em um código para a ChronoPay, mas para um programa antivírus, não um vírus. Ele disse que a polícia plantou evidências em seu computador depois de sua prisão.

As autoridades russas negam ter criado ou feito vista grossa para redes usadas para atacar sites de dissidentes locais, bancos e instituições governamentais de países vizinhos, como Estônia ou Geórgia. Entretanto, especialistas há muito tempo levantam a possibilidade de que o governo russo tenha recorrido aos chamados hackers de cartola para tarefas políticas, em troca de proteção legal. Não há qualquer evidência direta, mas o caso da Festi aumenta as evidências circunstanciais.


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