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New York Times

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Megalomania arquitetônica atrai críticas

Por KEITH BRADSHER

CHANGSHA, China - A China está desacelerando, mas seus arranha-céus não param de subir -ao menos por enquanto.

Hoje, dos cem prédios mais altos em construção no mundo, 60 ficam na China. Mas as ambições de Changsha, capital da província de Hunan, causam um misto de incredulidade e de hostilidade.

O Broad Group, conglomerado industrial de Changsha, planeja erguer nos próximos meses o edifício mais alto do mundo aqui. O Sky City, com 202 andares, deverá ser montado em apenas quatro meses a partir de módulos de aço e concreto, feitos em fábricas. A escavação das fundações começou em 20 de julho. Mas a escala e a velocidade do projeto ativaram a introspecção nacional.

"A vaidade de algumas autoridades do governo local tem determinado os horizontes das cidades", disse o "Diário do Povo", órgão oficial do Partido Comunista, num editorial em 12 de agosto.

O magnata por trás do projeto disse ter ordenado uma pausa no canteiro de obras enquanto aguarda novos alvarás. "Por causa de todas as preocupações na imprensa e na internet, o governo está um pouco receoso e desacelerou o processo", disse Zhang Yue, presidente do Broad Group.

Mas ele prometeu concluir o edifício, embora a inauguração tenha sido adiada de abril para junho ou julho do ano que vem. As plantas do projeto Sky City preveem uma pilha de retângulos altos e finos, mais numerosos na base do que no topo, que é mais estreito. Seu jeito maciço lembra a Willis Tower, antiga Sears Tower, em Chicago, que foi o prédio mais alto do mundo até 1998.

Pequim, Xangai, Shenzhen, Cantão e Chongqing estão atualmente concluindo prédios que serão maiores que a Willis Tower. Wuhan está erguendo dois edifícios maiores que a Willis Tower, e Tianjin está construindo três, segundo o Conselho para Edifícios Altos e Habitat Urbano, organização de Chicago que monitora até que ponto um arranha-céu pode se gabar.

Autoridades locais ambiciosas, junto com empresas e bancos estatais, estão por trás da maioria desses projetos, gerando temores de que os contribuintes acabem pagando a conta se os projetos se provarem deficitários.

"Se você deixasse o mercado decidir, não acho que esses prédios altos iriam adiante", disse Chau Kwong Wing, professor de construção e mercado imobiliário na Universidade de Hong Kong.

O Sky City é o mais ambicioso projeto de todos e, por isso, tornou-se um para-raios de críticos a essa tendência. A imprensa chinesa é abertamente cética com o projeto, questionando sua segurança, a velocidade da construção e a sabedoria de confiar em módulos pré-fabricados.

O Sky City será cinco metros mais alto que o Burj Khalifa, de Dubai, que tem 830 metros e é desde 2010 o edifício mais alto do mundo. O Sky City acomodaria nessa altura 39 andares a mais do que o Burj Khalifa, em parte porque o Sky City seria principalmente ocupado por apartamentos, que não exigem tanto espaço entre os pisos para receber fiações e dutos de ar-condicionado.

A ênfase nos apartamentos reflete a recuperação do mercado imobiliário da China -há quem chame de bolha-, já que o governo determinou aos bancos estatais que concedam mais crédito, em resposta aos recentes sinais de desaquecimento da economia.

Zhang garante que a prefeitura de Changsha não está bancando seu projeto. Mas ele disse que, embora o Broad Group continue sendo o proprietário oficial do prédio, ele já negociou contratos nos últimos meses para vender praticamente todo o arranha-céu a "quatro ou cinco" empresas de investimentos. Ele se negou a identificar os compradores, dizendo apenas que eles são do setor privado e estão gastando seu próprio dinheiro.

Zhang está tentando vender franquias para a construção de fábricas de módulos para construtoras e siderúrgicas do mundo todo. Ele emana confiança de que a torre Sky City será construída em breve. "As coisas que concebo definitivamente vão ser feitas, sem dúvida", afirmou.

O "Diário do Povo" foi mais ressabiado, observando que o Empire State Building, em Nova York, concluído em 1931, levou cerca de duas décadas para encher e se tornar um sucesso comercial -e que foi inicialmente apelidado de "Empty [vazio] State Building".


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