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New York Times

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Fukushima fere reputação do governo japonês

Por MARTIN FACKLER

NARAHA, Japão - Nesta localidade agrícola, na zona de desocupação no entorno da destruída usina nuclear de Fukushima Daiichi, trabalhadores com máscaras cirúrgicas e luvas de borracha reviram o solo radiativo numa tentativa desesperada de cumprir a promessa governamental de permitir a volta da maior parte dos 83 mil desabrigados do Japão. Mas, toda vez que chove, mais contaminação radiativa escorre pelos morros.

Milhares de trabalhadores e uma pequena frota de guindastes se preparam para mais um esforço a fim de evitar um agravamento do desastre ambiental: remover as cápsulas usadas de combustível do edifício do reator danificado Número 4, e armazená-las em local mais seguro.

O governo anunciou em 3 de setembro que irá gastar o equivalente a US$ 500 milhões em novas medidas para estabilizar a usina, incluindo um projeto ainda maior: a construção de uma parede terra congelada que impeça águas subterrâneas de serem contaminadas pela usina. O governo está assumindo o controle da operação de descontaminação da usina, no lugar da empresa operadora, a Tokyo Electric Power Company.

A tripla fusão de reatores em Fukushima, em 2011, já é considerada o pior acidente nuclear desde Tchernobil. Os novos esforços foram desenvolvidos em resposta a acidentes, erros de cálculos e atrasos que têm atrapalhado o esforço de recuperação, levando à liberação de enormes quantidades de água contaminada.

Os analistas estão começando a questionar se o governo e a operadora da usina, conhecida como Tepco, têm capacidade técnica para gerir uma crise tão complexa. Eles dizem que a Tepco tem recorrido a soluções rápidas e ineficazes. "O Japão nega encarar a realidade", disse o médico Kiyoshi Kurokawa, que comandou no ano passado uma investigação sobre as causas do acidente. "A água continua se acumulando dentro da usina, e detritos podem se acumular fora dela."

Os problemas na usina se agravaram em julho, com a descoberta de vazamentos de água contaminada no oceano Pacífico. A Tepco anunciou em agosto que 270 toneladas de água com vestígios radiativos de estrôncio, substância capaz de penetrar nos ossos humanos, haviam vazado no mar de um tanque defeituoso.

A água contaminada, usada para evitar o superaquecimento do combustível nos três reatores danificados, continuará sendo produzida em grandes quantidades enquanto o fluxo do lençol freático para os prédios não for contido. Ao mesmo tempo, atrasos e dificuldades no gigantesco esforço de descontaminação do entorno rural estão abalando ainda mais a confiança da população no governo e na energia nuclear.

Até agora, segundo críticos, os esforços de descontaminação consistiram em projetos malconcebidos, iniciados pelos poderosos ministérios do governo central como uma reação por reflexo, a fim de responder a críticas da opinião pública e de proteger o fechado setor nuclear da supervisão externa.

A maior crítica do público envolve a decisão governamental de deixar a limpeza a cargo da Tepco. O tanque que vazou recentemente foi um entre centenas que foram construídos às pressas para conter 390 mil toneladas de água contaminada da usina. A quantidade de água contaminada cresce à razão de 390 toneladas por dia. Críticos dizem que o Japão pode ser capaz de apresentar planos melhores se abrir o processo ao exterior.

O Ministério do Comércio agora vai se encarregar da limpeza da usina. Isso incluirá o plano para conter o fluxo do lençol freático para os prédios do reator, o que será feito lacrando-os por trás de uma parede subterrânea de terra congelada por um líquido refrigerante. Alguns críticos desprezam a "parede de gelo", dizendo que ela é uma tecnologia custosa e vulnerável, pois dependeria de energia -como um freezer- e seria colocada numa usina já propensa a apagões.

Especialistas em energia nuclear também questionam o plano de mais longo prazo do governo para extrair os núcleos de combustível dos reatores, o que eliminaria uma importante fonte de contaminação. Alguns duvidam de que seja tecnicamente factível retirar o combustível, por causa da extensão dos danos durante as explosões e fusões nucleares.

Os cientistas minimizam a ameaça da água contaminada, dizendo que os novos vazamentos estão produzindo apenas pequenos aumentos na radiatividade na baía de Fukushima, em níveis ainda bem inferiores aos que foram registrados imediatamente depois da crise de março de 2011.

A água radioativa traz mais ameaça ao governo japonês, acredita Harutoshi Funabashi, da Universidade Hosei: "Admitir que ninguém pode viver perto da usina por uma geração abriria espaço para todo tipo de dúvida."


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