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New York Times

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Guerra desperta moderação em Damasco

Por ANNE BARNARD

DAMASCO, Síria - Milicianos com fardas camufladas vigiam os postos de controle ao longo dos elegantes bulevares desta lendária cidade. Comerciantes que já foram donos de lojas agora se limitam a vender quinquilharias na rua. Famílias oriundas de províncias assoladas pela guerra dormem em mesquitas e escolas.

A capital síria está profundamente alterada pela guerra civil no país, agora em seu terceiro ano. A economia está desmoronando. Desabrigados chegam com mais rapidez do que seria possível absorvê-los. Acima de tudo, há uma sensação de que a guerra vai continuar, talvez durante anos, tornando as feridas do país cada vez mais difíceis de serem curadas.

Por mais sombrio que seja, esse mau presságio leva a uma espécie de convergência -um desejo de muitos, em ambos os lados do conflito, de acabar com as mortes e a destruição, mesmo que isso implique concessões. "Não há mais pró e anti", disse um zelador que é contra a rebelião, mas que a exemplo de muita gente aqui na capital tem parentes e colegas que a apoiam. "Queremos segurança."

Alguns aqui se perguntam se essa opinião cada vez mais popular, mas de forma alguma universal, poderá servir de base para as negociações de paz que os líderes mundiais tentam promover. Outros alertam que sentimentos moderados de ambos os lados -numa cidade diversificada e relativamente poupada dos combates- podem ter influência sobre o conflito, que é causado por radicais do governo, por extremistas rebeldes e pelo ódio em relação à morte de mais de 100 mil pessoas.

A maioria partilha do horror aos grupos extremistas islâmicos na oposição armada, discordando apenas sobre se isso se traduz em um desejo de que o atual governo permaneça.

Como há um impasse na guerra, as pessoas aqui não estão mais se preparando para uma invasão rebelde. Os problemas agora se espalham internamente. As tensões políticas se intrometem nas reuniões sociais. Sob viadutos, sírios que acabam de se somar aos 5 milhões que foram expulsos das suas casas pela guerra zanzam com suas bagagens, sem saber ao certo aonde ir.

As ruas estão mais movimentadas, dando uma sensação superficial de normalidade. A praça em frente à mesquita Umayyad, na Cidade Velha, fervilha à noite, ao contrário do que ocorria meses atrás, quando ficava deserta após o anoitecer. Crianças correm atrás de bolas, ambulantes vendem milho assado e famílias descansam junto à base da espessa parede de pedra da mesquita.

Mas um olhar mais atento revela que muitas dessas pessoas são refugiadas internas, vivendo perto daqui em abarrotados apartamentos, lojas e escritórios e preenchendo o espaço deixado por turistas e por moradores que fugiram do país.

Numa noite recente no bar Nufara, na Cidade Velha, um grupo de adolescentes mal levantou os olhos dos seus cafés e narguilés quando meia dúzia de foguetes caiu nos arredores, a uma distância suficiente para dar um frio na barriga.

Esse grupo de amigos apoia o governo, mas discorda sobre como resolver a crise.

Alguns defendem negociações com os rebeldes sírios, outros desprezam a insurgência como sendo obra da Al Qaeda.

Mas não é necessário viajar a subúrbios rebeldes, bombardeados por aviões do governo, para encontrar partidários da insurgência. Apoiadores e oponentes do governo interagem dentro do espaço relativamente seguro de Damasco, uma experiência menos comum em outras partes do país.

Numa noite recente em um restaurante de Damasco, dois amigos que se colocaram em campos opostos no começo da rebelião lamentavam o seu desenrolar. O partidário da oposição denunciava os intelectuais de Damasco por cederem a liderança da rebelião aos grupos armados. O amigo governista estava mais condescendente, admitindo que o governo do presidente Bashar al-Assad havia rapidamente reprimido os ativistas pacíficos. Somando-se à frustração de ambos os lados há o ressentimento entre quem fugiu e quem ficou.

Numa reunião, um crítico do governo se queixava de que a oposição no exílio havia esvaziado o movimento ao atrair jovens ativistas para a Turquia, a fim de trabalharem, sem sucesso, para estabelecer um governo alternativo.

A filha do crítico dizia ter perdido a esperança nos seus sonhos de democracia. "Não durante a nossa vida", afirmou ela. O crítico, assustado, disse: "Não! Talvez não na minha vida, mas na sua". E acrescentou: "Vamos ver".

A moça balançou a cabeça e disse: "Estamos vendo".

Colaboraram Andrea Bruce e Hwaida Saad


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