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New York Times

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Renasce indústria têxtil americana

Por STEPHANIE CLIFFORD

GAFFNEY, Carolina do Sul - As velhas algodoarias já praticamente desapareceram. Gaffney Manufacturing, National Textiles, Cherokee -motores produtivos do setor têxtil nas Carolinas-foram sucessivamente abatidas pelas forças da globalização.

Assim como as Carolinas se beneficiaram quando a indústria têxtil deixou a Nova Inglaterra, elas sofreram na década de 1990 quando a maior parte do setor foi embora dos Estados Unidos, migrando para China, México e Índia.

Por isso, o que está acontecendo no velho cotonifício Wellstone é tão notável. A Parkdale Mills, maior compradora de algodão cru dos EUA, reabriu a fábrica na Carolina do Sul em 2010.

No ano passado, Bayard Winthrop, dono da confecção American Giant, estava comprando tecido da Índia. Agora, diz ele, está mais barato comprar nos EUA. Ele usa fios de uma das fábricas da Parkdale e manda tecê-los na Carolina Cotton Works.

Winthrop diz que fabricar nos EUA garante algumas vantagens em relação ao exterior. Os custos de transporte são bem inferiores, e o intervalo entre a encomenda e a entrega é menor. E, o que é mais surpreendente, os custos trabalhistas não são muito maiores do que no exterior, porque as fábricas que sobreviveram à migração industrial foram automatizadas, empregando menos operários.

E, embora Winthrop não tenha esbarrado nesses problemas, o monitoramento da segurança no trabalho em lugares como Bangladesh, onde centenas de operários morreram em tragédias nos últimos anos, se tornou um enorme desafio.

Winthrop disse que o regresso a Gaffney se deveu a razões exclusivamente empresariais.

E essa é uma guinada surpreendente no setor americano têxtil e de vestuário. Em 2012, as exportações têxteis e de vestuário dos EUA totalizaram US$ 22,7 bilhões (R$ 49,9 bilhões), alta de 37% em relação a 2010.

As operações continuam sendo menores do que nas potências estrangeiras, como a China. Mas o simples fato de esses setores estarem novamente prosperando é um indicador de uma reavaliação mais ampla do setor industrial nos Estados Unidos.

Segundo pesquisa do Fórum para a Inovação da Cadeia de Suprimentos, ligado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), cerca de um terço das empresas americanas com produção no exterior dizia cogitar a transferência de parte da produção para os EUA no ano passado. Outros 15% já haviam tomado uma decisão nesse sentido.

Além dos benefícios em custo e tempo, as empresas são recompensadas pelos consumidores ao promoverem produtos "made in USA". Mas, assim como os fabricantes estão descobrindo que os produtos americanos são acessíveis e convidativos, eles também observam que o cenário empresarial mudou.

Atualmente, as empresas enfrentam dificuldades para encontrar mão de obra qualificada e componentes de fabricação americana para seus produtos. E a associação feita por políticos entre crescimento industrial e geração de empregos é complicada: a indústria gera empregos, mas não tantos, já que há máquinas em todo o processo produtivo.

É o caso de Parkdale. A fábrica da cidade produz mais de 1.100 toneladas de fio de algodão por semana, com cerca de 140 operários. Em 1980, esse volume de produção exigiria mais de 2.000 pessoas.

Quando Winthrop criou a American Giant, queria fabricar suéteres grossos, como os da Marinha que seu pai usava. Ele insistia em cortar e costurar a roupa nos EUA, mas não foi exigente com a origem do tecido, e optou por uma tecelagem da Índia. Após meses de idas e vindas, Ele estava pronto para despachar seus primeiros suéteres, em fevereiro de 2012.

Mas Winthrop ficou frustrado com a qualidade e o processo. Em outubro do ano passado, ele já havia transferido a produção para a Carolina do Sul.

Agora, leva cerca de um mês, mais ou menos, para que um suéter chegue ao consumidor.

"Simplesmente evitamos tantos tropeços grandes e pequenos que invariavelmente acontecem quando a gente tenta fazer as coisas longe", disse ele. "Jamais estaríamos onde estamos hoje se estivéssemos no exterior. Não estaríamos nem perto."

Os problemas na Índia eram culturais, burocráticos e práticos. A tecelagem indiana precisava de até cinco meses para aperfeiçoar desenhos, enviar amostras, programar a produção, embarcar o tecido para os EUA e passá-lo pela alfândega. Winthrop hesitava em prever a demanda com tanta antecedência.

Ele enviava à fábrica indiana os chamados "pacotes de tecnologia", que detalhavam que tipo de tecido ele queria e que variações aceitaria. Mesmo assim, a variação de rolo para rolo era grande. "Sou um partidário da transferência da produção para o exterior quando fizer sentido".

Agora, ele pode visitar a Carolina Cotton Works e a Parkdale sempre que quiser. E, diz ele, os custos são inferiores aos da Índia.

Onde ele precisa de mão de obra -no corte e costura, feito em fábricas da Califórnia e da Carolina do Norte- é que os gastos dispararam. Isso custa cerca de US$ 17 (R$ 37) por peça para a empresa, contra US$ 5,50 (R$ 12) no exterior.

Mas a mão de obra não é um ingrediente importante na tímida recuperação industrial nos EUA. Na verdade, foi a ausência de operários americanos bem pagos nas novas fábricas que tornou essa revitalização possível.

Na Parkdale Mills, as máquinas se estendem por quarteirões. Só muito raramente uma pessoa interrompe a automação, geralmente porque certas tarefas ainda são mais baratas quando feitas manualmente.

Ao todo, a empresa emprega 4.000 pessoas, a maior força de trabalho da sua história, mas é a tecnologia que a torna competitiva. Isso ainda preocupa alguns empregados. Scott Symmonds, 40, ganha US$ 15 (R$ 33) por hora como técnico, o que ele diz ser melhor do que o que a concorrência paga.

"Estamos todos ganhando bem mais dinheiro do que nossos colegas na China e em outras nações", disse ele. "Não podemos nos dar ao luxo de sofrer um corte no pagamento que seja suficiente para nos nivelar com esses lugares."


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