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Irlanda debate relação com o álcool

Aumentam os casos de cirrose hepática entre jovens no país

Por DOUGLAS DALBY

DUBLIN - O apreço da Irlanda pelos pubs e pelas canecas levou a um debate nacional sobre um dia dedicado à Guinness, marca irlandesa de cerveja.

Os bares ficaram lotados no Arthur's Day, 26 de setembro -organizado pela primeira vez em 2009 para comemorar os 250 anos da cerveja Guinness, bebida intimamente associada à Irlanda.

Mas, para os críticos, esse dia está se tornando um constrangimento nacional. O jornalista e ativista político Eamonn McCann escreveu o seguinte na sua coluna no "Belfast Telegraph": "Será que já houve um golpe como o Arthur's Day, tão desdenhoso das pessoas às quais mira, tão desrespeitoso com a cultura e especialmente com a música que ele usa impropriamente para fazer o seu jogo, tão deprimente a ponto de as pessoas que ele faz de tolas sorrirem com prazer e gritarem pedindo mais?".

A Diageo, multinacional de bebidas que é dona da marca Guinness, diz que o evento reúne três celebrados filões da cultura irlandesa: a Guinness, o pub e a música. Seu material promocional conclama as pessoas a "pintar a cidade de preto" (cor da cerveja Guinness tipo stout) e a erguer um brinde a Arthur -ou seja, a Arthur Guinness, fundador da cervejaria.

Críticos da Diageo dizem que isso tudo é um ritual vazio destinado a promover as marcas da empresa e que a embriaguez desenfreada não é motivo para comemoração. Embora a Diageo enfatize o consumo responsável, há relatos de um aumento de 30% nos chamados a ambulâncias no centro de Dublin depois do evento de 2012. O médico Stephen Cusack comparou as ruas de Cork aos "últimos dias de Sodoma e Gomorra".

Neste ano, 500 locais receberam eventos em toda a Irlanda, além de outros menores em 43 países, incluindo Malásia, Espanha, Cingapura, Itália, Indonésia, Alemanha e Emirados Árabes Unidos.

Na Irlanda, a data motivou um debate sobre a relação da sociedade com o álcool.

A ONG Alcohol Action Ireland, que faz campanhas por mudanças nas políticas públicas, estima que o álcool seja tão barato nos supermercados irlandeses que bastaria o equivalente a uma hora de salário mínimo para adquirir o volume máximo recomendado para o consumo semanal.

O médico Stephen Stewart, diretor do Centro de Doenças Hepáticas do Hospital Mater, em Dublin, disse que a cirrose hepática está atingindo proporções epidêmicas, particularmente entre os mais jovens, justamente a faixa etária que mais tende a frequentar bares. "Temos uma relação cada vez mais deteriorada com o álcool na Irlanda, o que se manifesta no crescente número de jovens morrendo por doenças associadas ao álcool", disse ele.

Mesmo os artistas locais, que obtêm uma renda importante com o evento, estão manifestando restrições. "Pintar a cidade de preto?", escreveu Steve Wall, vocalista da banda The Stunning, na sua página do Facebook. "Minha cidade já está preta de desemprego, tiros, depressão, falta de shows pagos e falta de artistas irlandeses na rádio durante o dia. Não, obrigado, Diageo... Vá pintar sua própria cidade de preto. Nós precisamos de luz."

Como o evento deste ano gerou tanto debate na imprensa e nas redes sociais, alguns comentaristas começam a se perguntar se a Diageo, sempre atenta à propaganda, não irá chegar à conclusão que a ressaca simplesmente não compensa.


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