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New York Times

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Exposição rememora carreira de extremos

Por RANDY KENNEDY

LOS ANGELES - Apesar de Chris Burden já ter submetido seu corpo à situações extremas em nome da arte -como levar um tiro no braço disparado por um rifle calibre 22, ter pregos batidos em suas mãos, ser cortado com cacos de vidro e passar cinco dias confinado num espaço exíguo-, sua performance mais poética talvez tenha sido a mais simples.

Em 1973, para o trabalho "B.C. Mexico", Burden remou num caiaque de uma cidade no litoral do mar de Cortez, no Estado mexicano de Baixa Califórnia, até uma praia desabitada mais ao sul, levando apenas água.

Passou 11 dias na praia, sob temperaturas de quase 50 graus centígrados, antes de declarar terminada a performance e voltar remando até sua cidade. Em sua galeria em Los Angeles, um bilhete descrevendo a razão de sua ausência foi a única coisa que espectadores encontraram quando chegaram para ver sua exposição programada.

"O tema foi realmente mais o isolamento que qualquer outra coisa", comentou recentemente o artista, que hoje tem 67 anos.

Burden, que é tema de uma retrospectiva de sua carreira que ficará no New Museum, em Manhattan, até 12 de janeiro, vive sua vida há três décadas como uma espécie de experimento conceitual que envolve estar simultaneamente presente e ausente. Sua obra é muito admirada na Califórnia e na Europa, mas é subapreciada em outros lugares.

As esculturas que constituem a maior parte de seu trabalho desde a década de 1980 são modelos de pontes de aço, arranha-céus de 12 metros feitos de peças do jogo de construção Erector Set, imensos dioramas militares, metrópoles em miniatura.

Desde 1981, Burden e sua mulher, a escultora Nancy Rubins, vivem nos morros de Topanga Canyon, no condado de Los Angeles. Antes de construírem uma casa, eles passaram cinco anos morando numa barraca. Hoje são donos de 32 hectares no cânion.

"As coisas aqui fluem rapidamente entre serem funcionais e serem elevadas ao status de arte", comentou. Estavam espalhados à sua volta postes de luz antigos, bancos, floreiras de metal trabalhado, fontes de ferro batido da China em formatos de animais, três torres reluzentes feitas de peças de Erector Set e um aviãozinho construído a partir de um kit.

Embora sua presença aqui seja pública, a última retrospectiva de sua obra realizada nos EUA aconteceu em 1988 no museu de arte Newport Harbor (hoje o museu de arte de Orange County), em Newport Beach, na Califórnia.

"Boa parte de sua obra ainda não é conhecida", disse Lisa Phillips, diretora do New Museum e curadora da exposição, que vai ocupar os cinco andares do prédio do museu e uma parte de seu espaço externo.

Burden ainda tem o físico robusto dos vídeos de suas performances no início de sua carreira, com o mesmo penteado juvenil, em forma de cuia. Em parte graças ao caráter fisicamente radical de suas performances (em "Trans-fixed", de 1974, possivelmente seu trabalho mais famoso, ele foi crucificado por pouco tempo sobre um Fusca), Burden sempre teve a fama de ser alguém que intimida. Mas, visto em pessoa, ele lembra mais um engenheiro mecânico de espírito prático.

"Quando parei de fazer as performances, as peças em que trabalhava passaram a ser a performance", disse, mostrando uma ponte em arco em miniatura com mais de um metro de altura e feita de blocos de concreto unidos unicamente pela gravidade.

"Se esta única pecinha aqui se quebrar", disse Burden, apontando para um cilindro de concreto perto do topo do arco, "não haverá mais ponte. Ela desmoronará por inteira. Não faço ideia de quantas pessoas vão entender esse fato, mas ele me fascina."


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