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New York Times

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Civis se organizam contra Boko Haram

Por ADAM NOSSITER

BENISHEIK, Nigéria - Os homens do Boko Haram chegaram com violência a esta localidade rural, queimando casas, saqueando, atirando e gritando "Deus é grande!", segundo moradores e autoridades. Quando tudo acabou, mais de 12 horas depois, cerca de 150 pessoas estavam mortas. Mesmo um mês depois, a cidade outrora próspera de 35 mil habitantes continua sendo um invólucro vazio de casas e veículos enegrecidos.

O Boko Haram, movimento insurgente islâmico nativo da Nigéria, continua sendo uma ameaça letal no interior do país. É um grupo militante ávido por provar sua retidão jihadista e, cada vez mais, também composto por combatentes do Mali, da Mauritânia e da Argélia, segundo o governador do Estado de Borno, Kashim Shettima.

Porém, a cerca de 65 quilômetros daqui, em Maiduguri, capital do Estado, o Boko Haram foi praticamente liquidado, segundo autoridades, ativistas e moradores. A cidade de 2 milhões de habitantes está novamente fervilhando, após quatro anos de medo.

O Boko Haram foi expulso de Maiduguri, em grande parte, por causa dos esforços de uma rede de jovens informantes e justiceiros, fartos da rotina de violência e ideologia dos insurgentes. "Estou de olho nessa gente: eles recolhem seu dinheiro e matam", disse o fundador da rede, Baba Lawal Ja'afar, vendedor de carros e ovelhas. "O Boko Haram está dizendo: 'Não vá à escola, não vá ao hospital'. Isso tudo é besteira."

Shettima recrutou justiceiros para "treinamento" e está lhes pagando cerca de US$ 100 por mês. Num bairro de casas baixas, feitas de blocos de cimento, onde o grupo de informantes foi nutrido nos últimos dois anos, as paredes estão cravejadas de balas dos tiroteios com os militantes islâmicos.

O conhecimento da rede a respeito das comunidades permite que ela rapidamente identifique membros do Boko Haram e os entregue aos militares nigerianos. Dezenas já foram entregues, segundo membros do grupo de informantes.

Os militares, conhecidos como JTF (Força-Tarefa Conjunta, na sigla em inglês), foram incapazes de derrotar sozinhos o Boko Haram, apesar de uma campanha de contrainsurgência que já dura quatro anos e é criticada por causa das detenções indiscriminadas e da morte de civis.

Alguns ativistas se perguntam se os militares não estariam mais comprometidos em preservar o conflito com o Boko Haram, para assim perpetuar o gasto governamental que ele acarreta. Algumas autoridades dizem que os serviços de segurança se habituaram a um orçamento superior a US$ 6 bilhões, um quarto do orçamento governamental total. As mortes em Benisheik, por exemplo, ocorreram livremente durante mais de dez horas até que o Exército chegasse, segundo esses ativistas.

O grupo justiceiro se intitula "JTF Civil". Seus membros dizem não estar nisso pelo dinheiro, mas para proteger suas comunidades. Nas ruas da cidade, jovens são vistos conferindo o tráfego, enquanto agitam facões, paus, utensílios de jardim e sabres. "Estou pronto para sacrificar minha vida para que meu povo seja protegido", disse Mousbaf Adamu, 23.

"O JTF Civil é um verdadeiro divisor de águas", disse o governador Shettima durante visita a projetos viários, enquanto era aplaudido por grupos de rapazes a quem ele distribuía dinheiro.

Mas a atividade do Boko Haram na Nigéria rural dificilmente vai acabar, apesar da JTF Civil. Doze dias depois do ataque de Benisheik, pistoleiros mataram mais de 40 estudantes numa faculdade agrícola dos arredores, segundo autoridades. Novamente, os pistoleiros agiram sem serem importunados pelos militares.


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