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New York Times

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Executivos estudam criar Bolsa para ONGs

Por ANDREW ROSS SORKIN

Depois de sobreviver a um câncer e fundar uma ONG, Lindsay Beck começou a pensar em como o mundo das finanças e Wall Street poderiam revolucionar o acomodado terceiro setor. Ela tentou responder a seguinte pergunta: "Poderia haver uma Nasdaq das organizações sem fins lucrativos?".

A ideia -criando o equivalente a um mercado acionário movido pelo lucro, só que para ONGs- poderia parecer contraintuitiva.

Mas, no último ano, o conceito ganhou tanta força que rendeu a Beck reuniões com executivos do Goldman Sachs, do Deutsche Bank e de membros do governo Obama. Uma equipe de advogados está trabalhando para entender quais são as implicações tributárias e como cumprir as regras da Comissão de Títulos e Câmbio (SEC, na sigla em inglês).

Se der certo, a ideia de Beck tem potencial para virar de ponta-cabeça parte da economia global. De acordo com algumas estimativas, se apenas 1% das carteiras de investimentos de indivíduos ricos nos EUA fosse direcionado para ONGs por meio de instrumentos financeiros, como títulos de impacto social ou a Bolsa de Beck, o mundo das ONGs estaria sentado em cima de US$ 1 trilhão.

Várias ideias estão vingando sobre como empregar uma abordagem com fins lucrativos no mundo das entidades sem objetivo de lucro. Neste mês, o Goldman Sachs anunciou um fundo de impacto social de US$ 250 milhões. O Morgan Stanley planeja arrecadar US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos para o que chama de "plataforma de investimento com impacto".

Em setembro, o JPMorgan Chase se uniu à Fundação Bill e Melinda Gates para iniciar um fundo de investimentos de US$ 94 milhões destinado a financiar drogas, vacinas e ferramentas em estágio avançado para o combate a doenças como malária, tuberculose e HIV/Aids.

A ideia de Beck é fruto das suas próprias experiências. Ela foi a criadora de uma ONG, chamada Fertile Hope, que ajudava mulheres sobreviventes de câncer a engravidar.

Mais tarde, começou a examinar maneiras de tornar as ONGs mais eficazes na arrecadação de fundos. Ela diz que há muito tempo acredita que as verbas beneficentes costumam estar deslocadas -que algumas das organizações mais eficientes sofrem para arrecadar fundos, enquanto algumas das menos efetivas recebem milhões.

Isso a fez pensar: uma Bolsa, como um mercado de ações, tornaria mais transparente o sucesso -ou o fracasso- das organizações, levando mais dinheiro às melhores mãos. Além disso, se os doadores pensassem nas suas atividades beneficentes como um investimento, isso transformaria o terceiro setor. "Quando você tira o seu chapéu de benemérito e coloca o chapéu de investidor, você se comporta de uma forma muito diferente", disse ela.

Ela se inspirou parcialmente em programas que o Goldman Sachs desenvolveu para vender os chamados títulos de impacto social. A companhia criou um empréstimo de US$ 9,6 milhões para que a Prefeitura de Nova York administre um programa da MDRC, uma prestadora de serviços sociais, com o objetivo de evitar que ex-detentos da cidade voltem à prisão.

O programa tem objetivos e parâmetros claros. Se a reincidência cair 10%, a prefeitura devolverá integralmente os US$ 9,6 milhões ao Goldman. Se a reincidência cair mais do que isso, o Goldman terá lucro, limitado a US$ 2,1 milhões. No entanto, o Goldman pode perder até US$ 2,4 milhões se a reincidência não cair pelo menos 10%.

O Goldman usa seu próprio dinheiro para financiar programas desse tipo. Mas agora essa e outras empresas estão apresentando maneiras de transformar esses tipos de programas em investimentos para seus clientes. O fundo de US$ 94 milhões do JPMorgan funciona porque a Fundação Gates está se oferecendo para proteger os investidores contra possíveis prejuízos advindos do investimento em drogas e vacinas novas e arriscadas.

"No começo do investimento, você está garantindo ambos os lados do livro-caixa -o lado financeiro e o lado social", disse Alicia Glen, diretora-gerente do Goldman Sachs, sobre esses novos produtos financeiros.

Beck diz que, para ampliar significativamente esses programas, é preciso criar uma Bolsa que permita aos investidores comercializarem esses instrumentos. Dessa forma, eles poderiam manter os mais bem-sucedidos e se livrar dos fiascos.

Do ponto de vista técnico, a atual onda dos "títulos de impacto", segundo ela, consiste principalmente em "apenas contratos entre múltiplas partes com pagamentos contingentes".

Ela está desenvolvendo maneiras de criar um sistema comum para desenvolver títulos de impacto social que sejam, nas suas palavras, "títulos de verdade". A ideia de Beck para criar uma Bolsa é "muito criativa e visionária", segundo Glen, "mas pode demorar a se concretizar".


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