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New York Times

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Performer planeja construção em nome da arte

Por SARAH LYALL

Em nome da arte, ela já se pendurou em uma parede, nua, e cortou seu próprio abdome com uma lâmina. Ela se masturbou num museu. Revirou uma pilha de ossos sangrentos, comidos por larvas, num porão fétido. Ficou parada enquanto desconhecidos encostavam uma arma de fogo em sua cabeça e a espetavam com espinhos. Ficou sentada em silêncio durante sete horas por dia enquanto pessoas faziam fila para meditar em sua aura no Museu de Arte Moderna.

Agora, a performer Marina Abramovic está lançando o projeto que talvez seja o mais ambicioso de sua carreira, que já dura 40 anos. EmHudson, Estado de Nova York, ela pretende erguer o Instituto Marina Abramovic: uma meca para atrair artistas, cientistas e pensadores, além de pessoas dispostas a vestir aventais brancos de laboratório e a se submeter a três horas de purificação de corpo e mente.

O plano reflete a mudança do rumo da artista nos últimos anos, numa carreira feita de duas partes distintas. Primeira parte: Marina Abramovic, a artista experimental vanguardista e introspectiva nascida em Belgrado, amplia os limites da arte ao se submeter a sofrimentos físicos e mentais. Segunda parte: Marina Abramovic, queridinha das celebridades, fazendo colaborações com astros do cinema, do pop e do hip-hop.

Tudo isso não tem sido recebido com aclamação universal. Alguns artistas e críticos acusam a performer de cultivar algo que se parece muito com um culto à personalidade.

Para eles, Abramovic parece estar tão apaixonada pelos holofotes -tão envolvida em dançar com Jay-Z, fazer exercícios de purificação mental com Lady Gaga e curtir a vida com o ator James Franco- que corre o perigo de trair não apenas suas próprias origens, mas também, talvez, a verdadeira natureza da performance.

O termo descreve, a grosso modo, trabalhos experimentais que não são teatro e que tendem a destacar o relacionamento direto, sem mediação, entre artista e público. Na década de 1970, quando a performance foi reconhecida como gênero artístico legítimo nos EUA, muitos performers adotaram o princípio de que a performance nunca deve ser apresentada mais de uma vez e nunca deve ser convertida em um produto.

"Tenho muito respeito por Marina, mas acho que o mundo das artes enlouqueceu", comentou Amelia Jones, professora de história da arte na Universidade McGill, em Montreal.

"Fico me perguntando qual será o próximo passo. Será que ela vai abrir seu próprio pequeno país em algum lugar?"

Abramovic não se abala com comentários desse tipo.

"Quando me levantei da cadeira, estava transformada", declarou em entrevista dada em setembro, aludindo ao momento em que ficou em pé ao final de "A Artista Está Presente", sua performance de 2010 no Museu de Arte Moderna. "Eu sabia que a longa duração era a resposta para tudo, para mim. E com isso surgiu a ideia do instituto de forma mais clara."

Abramovic, 66, disse que o instituto não será uma celebração do trabalho dela, propriamente dito. Será algo maior, um "spa cultural". "Trata-se de algo imaterial, uma colaboração entre arte, ciência, espiritualidade e tecnologia", disse.

"É quase como uma ideia nova da Bauhaus -de como cabeças diferentes de áreas distintas se reúnem para criar algum tipo de realidade nova."

Depois de construir o instituto, ela pretende se distanciar dele. A ideia atual é que os visitantes paguem US$ 75 cada um e se comprometam a ficar no local por seis horas, metade das quais devem ser passadas submetendo-se ao "método Abramovic".

Este, explicou a artista, nasceu de exercícios que ela idealizou para preparar participantes a encenar ou vivenciar arte. Alguns exemplos são nadar nu em um rio gelado, expressar raiva a uma árvore ou passar uma hora tomando um copo de água.

No instituto, os visitantes vão pressionar seu corpo contra cristais ou, possivelmente, ficar deitados sobre uma plataforma, ou meditar usando vendas sobre os olhos e tampões nas orelhas.

As possibilidades são infinitas, segundo Abramovic.

"O artista precisa ser servo da sociedade. O ego é um obstáculo enorme à arte."


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