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New York Times

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Exposição debate fotografia contemporânea

Por PHILIP GEFTER

As pessoas que irão ver a mostra "What Is a Photograph?" (O que é uma foto?), no International Center of Photography, em Nova York, em um primeiro momento nem reconhecerão as obras nas paredes como sendo fotográficas. Não há um tema fácil de identificar nem formas representativas claras.

"A mostra não responde à pergunta", diz a curadora, Carol Squiers. "Ela formula a pergunta. É uma pergunta aberta, e é por isso que acho tão instigante o período atual na fotografia."

Ela apontou para Travess Smalley, que recorta formas de páginas de revistas e papel colorido e as compõe para formar colagens fotográficas diretamente num scanner. Smalley considera a imagem escaneada o negativo da foto. "Ele não necessariamente chama de 'foto' a imagem resultante", disse Squiers.

A fotografia é imensamente diferente nestes primeiros anos do século 21. Não é mais o resultado de luz sobre um filme nem necessariamente é baseada em lentes. Na medida em que a tecnologia digital praticamente substituiu o processo químico, a fotografia hoje é uma mídia cuja forma vem mudando mais e mais. O iPhone, o scanner e o Photoshop produzem uma gama espantosa de imagens, e artistas que garimpam novas tecnologias estão fazendo a documentação especular do mundo parecer obsoleta.

"As práticas mudaram", ponderou Quentin Bajac, o novo curador-chefe de fotografia do Museu de Arte Moderna. A mudança de registro do factual para o fictício -e todas as graduações intermediárias- talvez seja a maior questão em jogo no processo de reflexão em curso nos círculos fotográficos. As perguntas são muitas: pode a imagem "captada" (feita na rua -pense no trabalho documental de Henri Cartier-Bresson) conservar pé de igualdade com a imagem "construída" (criada no estúdio ou no computador)?

Os museus, por sua vez, debatem se a fotografia deve continuar a ser uma mídia autônoma ou se deve ser incorporada a uma fusão de disciplinas na arte contemporânea. Também os curadores de fotografia vêm questionando a qualidade e a validade das novas práticas, na medida em que a onipresença e transformação constante das mídias sociais desafiam a singularidade da imagem fotográfica.

"O maior problema diante dos curadores e historiadores da fotografia é o transbordo de imagens", disse Bajac. Em sua exposição inaugural, "A World of Its Own: Photographic Practices in the Studio" (Um mundo próprio: práticas fotográficas no estúdio), que abre em 8 de fevereiro, o foco é sobre a prática no estúdio fotográfico, em oposição à estética do meio impresso. As obras expostas, tiradas dos arquivos do MoMA e dispostas tematicamente, incluem materiais contemporâneos e do século 19, além de filmes e vídeos.

Essa ideia do estúdio como laboratório e playground é exemplificada pelo díptico de Charles Ray "Plank Piece I-II" (1973), mostrando o artista fixado à parede do estúdio, de duas maneiras diferentes, por uma grande tábua de madeira -uma performance conceitual para a câmera.

Um trabalho de 2008 de Walead Beshty, de Los Angeles, que cria fotogramas -trabalhos criados sem câmera-, expondo papel fotográfico a luzes coloridas, beira a abstração pura. Muitos trabalhos da mostra são de artistas internacionais, como Constantin Brancusi, que considerava seu estúdio um tema fotográfico, tanto quanto o eram suas esculturas. Outro artista desse tipo é a romena Geta Bratescu, que viveu em seu ateliê em Bucareste na década de 1970 e criou um filme de 17 minutos, "L'atelier".

No International Center for Photography, Squiers formulou a pergunta essencial que permeia o campo da fotografia: o que constitui uma foto? Enquanto artistas mais jovens incorporam processos químicos em seus experimentos com técnicas digitais, muitos "ainda sentem a necessidade de criar um objeto", disse Squiers.

Um exemplo disso é Marco Breuer, que tem vários trabalhos expostos que não guardam nenhuma relação visível com imagens fotográficas. Seu trabalho "Spin" consiste em círculos concêntricos finos riscados e incrustados sobre papel cromogênico.

Squiers incluiu na exposição trabalhos de Christopher Williams, cujas fotos compõem um inventário de equipamentos cada vez mais obsoletos baseados no uso de filme -câmeras, lentes e equipamentos de revelação. O texto que acompanha as imagens traz detalhes sobre como eram usados os equipamentos. Esse tipo de escrutínio sugere, como clareza elegíaca, o fim da era química na fotografia.

Christopher McCall, da galeria fotográfica Pier 24, em San Francisco, disse que não existe um consenso entre curadores em relação ao futuro da fotografia."É preciso haver algum processo fotográfico envolvido, algum pedaço de tecnologia que reconheçamos como sendo fotográfico, mas não creio que isso signifique que precise ser baseado em lentes."

Squiers sugeriu que o esforço de definir o que é uma fotografia hoje situa o curador na fronteira. "A sensação é que o cordão que nos liga à nave-mãe foi cortado e que agora flutuamos no espaço."


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