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New York Times

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Após crise, Islândia restringe ação de bancos

Por NATHANIEL POPPER

REYKJAVÍK, Islândia - Um edifício de vidro de frente para o mar em Reykjavík era, no passado, a sede do grande banco Kaupthing, que tinha operações por todo o mundo. Agora, o prédio abriga o pequeno banco Arion, ativo unicamente na Islândia.

A situação é resultado de uma das maiores crises bancárias já vividas por qualquer país. O risco presente no sistema financeiro islandês se dissipou, mas o crédito aos consumidores e às empresas caiu para uma fração do que era antes da crise. "Passamos de uma situação em que a pessoa que assumia o maior risco era a funcionária do mês para a situação oposta, em que quem assume o menor risco vira funcionário do mês", disse o ministro das Finanças islandês, Bjarni Benediktsson. "Precisamos de um meio-termo."

A Islândia exemplifica o que pode acontecer quando um país obriga suas empresas financeiras a falir, em vez de socorrê-las, como fez boa parte do resto do mundo durante a crise financeira. Em outubro de 2008, os três maiores bancos do país entraram em colapso. A falência mais espetacular foi a do Kaupthing, que, em dado momento, tinha folha de balanço quatro vezes maior que o produto econômico anual do país inteiro. Em dezembro, quatro ex-executivos do Kaupthing foram sentenciados a penas de prisão de vários anos.

Estão emergindo da crise três empreendimentos novos que possuem apenas os ativos locais das empresas antigas.

O incomum caminho seguido pela Islândia foi apontado como um modelo bem-sucedido do que pode acontecer quando um país opta por deixar empresas financeiras falirem. O resultado na Islândia é que os novos bancos não têm os bônus polpudos e os investimentos de risco que alimentam a indignação popular em outros países. "Somos um banco novo, com uma nova ética comercial e uma nova maneira de trabalhar", disse Steinthor Palsson, executivo-chefe trazido para comandar o Landsbankinn, o maior dos novos bancos islandeses.

Mas há limites do que pode ser feito por uma transformação do sistema financeiro em um país onde tantas firmas e famílias ainda estão profundamente endividadas. Birgir Gudjonsson, policial de 37 anos que vive em Reykjavík, comentou que os bancos estão mais interessados em reconstruir seus negócios e suas folhas de balanço que em ajudar pessoas como ele, que pagam o financiamento de sua casa própria. Pelo fato de muitos financiamentos na Islândia serem reajustados segundo a inflação, Gudjonsson e outros hoje devem mais do que o empréstimo que contraíram inicialmente.

"Quase todas as semanas ouvimos declarações do tipo: 'Vejam só, tudo está indo muito bem'", disse o policial, que divide um apartamento de dois quartos com sua mulher e duas filhas. "É só olharmos nas nossas carteiras para enxergarmos a realidade."

Empresas e consumidores que querem mais crédito estão tendo dificuldades adicionais em razão do conservadorismo dos bancos e da falta de acesso a investidores estrangeiros. Nos primeiros nove meses do ano passado, por exemplo, os novos empréstimos líquidos feitos pelo Landsbankinn a empresas e indivíduos chegaram a apenas 0,8% dos empréstimos feitos no ano inteiro de 2006.

"Não existe saída fácil de uma crise profunda", falou Benediktsson. Na Islândia, a crise foi atribuída quase exclusivamente ao setor financeiro do país.

Os bancos islandeses tinham acumulado dívidas enormes para apostar em ativos especulativos, criando uma teia de empréstimos para beneficiar a si mesmos. Quase todos os altos executivos foram demitidos.

Em um primeiro momento, o governo assumiu o comando dos bancos, administrando-os em base emergencial. Mas, em pouco tempo, firmas foram criadas para cuidar das hipotecas e dos empréstimos corporativos no país.

A primeira tarefa dos bancos foi a reestruturação dos empréstimos feitos a empresas e famílias que não tinham mais condições de saldá-los. O governo aprovou uma lei impondo que os empréstimos fossem reduzidos para não mais que 110% do valor do imóvel financiado.

O Landsbankinn foi mais longe, lançando uma campanha para reduzir a dívida de qualquer empresa ou família sem condições de saldar seus débitos. A iniciativa pressionou os outros bancos a fazer esforços semelhantes.

Outra lei proibiu os bancos de pagar bônus que passassem de 25% dos salários de base e, até recentemente, nenhum dos bancos pagou bônus algum.

A reestruturação do setor financeiro e as medidas do governo para proteger a moeda nacional relançaram o crescimento econômico e levaram o desemprego a cair de 19% (no ano seguinte às falências) para 5,6%.

Para muitos economistas, porém, os bancos não estão fazendo o suficiente para oferecer crédito novo e construir negócios para o futuro. "Eles estão numa espécie de impasse", disse Fridrik Mar Baldursson, especialista em finanças na Universidade de Reykjavík. "Há muita inércia no sistema."


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