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New York Times

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Mianmar se nega a proteger minoria

Por JANE PERLEZ

DU CHEE YAR TAN, Mianmar - Sob a lua pálida de 13 de janeiro, Zaw Patha viu seu filho mais velho, Mohmach, 15, ser arrastado de onde dormia por homens que o golpearam com a coronha de um rifle até que ele caísse na estrada de terra. Aterrorizada, Patha fugiu para os arrozais. Ela supõe que seu filho esteja morto.

Perto dali, Zoya mostrou na porta da frente da sua casa a tranca que, segundo ela, homens armados quebraram quando invadiram o local e começaram a bater no seu filho Mohamed, 14. Ela não o viu desde então.

Os relatos dos moradores corroboram uma investigação da ONU que concluiu que o ataque daquela noite a Du Chee Yar Tan resultou na morte de pelo menos 40 homens, mulheres e crianças, um dos piores casos já registrados de violência contra os rohingyas, grupo étnico muçulmano há muito tempo perseguido. Eles foram mortos, segundo a ONU, pelas forças locais de segurança e por civis da etnia rival rakhine, muitos deles adeptos de uma ideologia radical budista e indignados com o sequestro de um policial rakhine por alguns homens rohingyas.

O governo de Mianmar negou veementemente que os assassinatos tenham ocorrido nesse agrupamento de povoados perto de Bangladesh, a cinco horas de balsa de Sittwe, a capital do Estado. Seja como for, as conclusões da ONU se tornaram emblemáticas da crescente violência contra os rohingyas de Mianmar -cerca de 1,3 milhão de pessoas que têm sua cidadania negada pela lei local.

O relatório da ONU documenta a descoberta inicial do massacre por cinco homens muçulmanos que entraram furtivamente na área após o ataque. Eles encontraram as cabeças cortadas de pelo menos dez rohingyas boiando em um tanque de água. Algumas delas eram de crianças.

As mortes são um teste para o governo de Mianmar, que pouco tem feito para conter os budistas radicais. O governo apoiou as severas restrições impostas pelas autoridades locais à liberdade de ir e vir dos muçulmanos e sua privação dos serviços básicos no Estado de Rakhine, onde vive a maioria dos rohingyas.

Recentemente, o governo ordenou que os Médicos Sem Fronteiras, principal entidade prestadora de cuidados médicos aos rohingyas, deixassem de atendê-los.

Desde 2012, muitos rohingyas -grupo há muito tempo vilipendiado em Mianmar, país de maioria budista- são conduzidos a miseráveis acampamentos, de onde não podem sair nem para trabalhar. Os que ainda estão autorizados a viver em aldeias como Du Chee Yar Tan ficam à mercê das autoridades locais, muitas das quais inspiradas por um grupo extremista budista cujos monges pregam o ódio contra muçulmanos.

Em um sinal do caráter delicado da questão, uma visita à aldeia para avaliar os relatos conflitantes sobre a noite de 13 de janeiro foi interrompida quando agentes da polícia local detiveram brevemente dois repórteres e um fotógrafo do "New York Times".

Em resposta a uma grave onda de violência em 2012 em Sittwe, que incluiu o uso de bombas incendiárias contra casas e deixou cerca de 300 mortos, a maioria deles muçulmanos, o presidente Thein Sein disse que a maioria dos rohingyas estava ilegalmente em Mianmar, apesar de, em alguns casos, viverem lá há gerações. A solução dele: a ONU deveria ajudar a deportá-los.

Embora tenham ocorrido ataques a outros grupos muçulmanos em Mianmar nos últimos dois anos, a animosidade contra os rohingyas é especialmente inflamável. Muitos deles foram trazidos da Índia para o país na época colonial britânica, e muitos birmaneses os desprezam como sendo intrusos oriundos do atual Bangladesh.

Cerca de 140 mil rohingyas que tiveram suas casas destruídas em dois grandes ataques em 2012 agora vivem em mais de duas dúzias de acampamentos nos arredores de Sittwe, um dilapidado polo comercial. Dependentes em grande medida da ajuda de grupos humanitários internacionais, os quais muitas vezes são vítimas de perseguições das autoridades, os rohingyas permanecem retidos em acampamentos que agentes humanitários estrangeiros qualificam como as maiores prisões a céu aberto do mundo.

Tentando escapar dos acampamentos desolados, quase 80 mil rohingyas -homens, mulheres e crianças- embarcaram no ano passado em perigosas viagens marítimas promovidas por traficantes com destino à Tailândia e de lá para a Malásia, ou a Bangladesh. Alguns se afogaram em naufrágios, e muitos foram detidos na Tailândia, segundo Chris Lewa, diretor do Projeto Arakan, ONG de direitos humanos.

Pelo menos alguns moradores de Du Chee Yar Tan já voltaram para lá a fim de conferir suas posses. Zaw Patha descobriu que os produtos que ela guardava haviam sido saqueados e que suas vacas foram roubadas. Um líquido vermelho, significando sangue, foi atirado numa escola perto da sua casa, num alerta para que se mantenha à distância.

Colaborou Wai Moe


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