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Antiga prisão vira hotel no Iraque pós-guerra

Empresários veem oportunidades em antigos quartéis

Por ANDREW E. KRAMER

UMM QASR, Iraque - A estrada que leva ao hotel Basra Gateway, no sul do Iraque, cruza uma paisagem cheia de lixo e petróleo derramado.

Na entrada principal, os hóspedes encontram um amontoado de blocos de concreto, sacos de areia e arame farpado.

Em vez de porteiro, o Basra Gateway tem um segurança armado, que sorri e afasta um rolo de arame farpado, dando as boas vindas a este improvável hotel, inaugurado dentro do Camp Bucca, antigo quartel-prisão dos EUA, de notória reputação entre os iraquianos.

O Basra Gateway é um dos ainda incipientes esforços de empresas iraquianas para dar um bom uso comercial a centenas de quartéis recém-abandonados pelos americanos - geralmente desolados aglomerados de concreto, instalados sem charme algum nos arredores das cidades.

O Kufan Group, que montou o hotel e a ópera, pretende atrair executivos de empresas petroleiras e prestadoras de serviço que atuam nos campos petrolíferos da região de Basra. Os quartos custam cerca de US$ 190 por noite, e só podem ser reservados em blocos.

"Nosso sonho é transformar isto em um oásis comercial" disse Maythem al Asadi, presidente do Kufan. "É só questão de tempo para isso acontecer."

Este empreendimento, como outros que aproveitam os quartéis americanos, usa centenas de trailers que anteriormente serviam de alojamento para os militares. O Kufan instalou encanamentos internos em alguns deles, transformando-os em quartos para hóspedes.

Exceto por algumas poucas melhorias nos trailers, a prisão continua inalterada e assustadoramente vazia, com o vento zunindo por todos os lados das antigas torres de vigilância.

Os militares dos EUA vão entregar todos os seus quartéis no Iraque ao governo local até o final do ano.

Atualmente, apenas cerca de meia dúzia entre 505 bases no Iraque permanecem em mãos de militares americanos.

O Kufan Group obteve o Camp Bucca do governo iraquiano em um leilão. O hotel foi inaugurado no mês passado, para coincidir com uma conferência sobre gás e petróleo em Basra.

A transformação é emblemática de uma visão particularmente otimista, partilhada por alguns empresários, sobre o atual momento de Iraque pós-retirada americana.

O destino do país, dizem eles, é rapidamente passar da guerra para um "boom" petrolífero de proporções históricas por causa de seu potencial energético.

Se tudo correr bem, a produção no Iraque vai aumentar em 5 milhões de barris por dia até 2035, elevando o total a mais de 8 milhões de barris/dia. Isso equivale a mais de um terço de todo o petróleo consumido diariamente nos EUA, uma vasta fortuna energética.

O lado negativo é que a segurança no Iraque continua tão ruim a ponto de uma antiga prisão parecer atraente como hotel.

Cerca de 150 executivos que vieram para a conferência a fim de explorar oportunidades no setor petrolífero do sul do Iraque acabaram optando por se hospedar aqui.

O dia da inauguração teve percalços, em parte porque alguns executivos só descobriram que ficariam em um quartel-prisão quando o ônibus chegou à guarita da entrada principal.

Uma delegação sueca, insatisfeita por ficar num hotel tão sinistro, saiu mais cedo; não se sabe para onde ela foi, segundo Loay Almalaieka, vice-presidente do Kufan Group.

Apesar disso, a empresa planeja reabrir a ala penitenciária do quartel, que é ainda mais desolada. Lá, os presos viviam em tendas cercadas por muros de terra.

Num sinal das mudanças no Iraque, a área pode agora receber trabalhadores do sul da Ásia, empregados nos campos petrolíferos da região.

"Agora não as chamamos de tendas prisionais", disse Amar Latif, gerente do hotel. "São acomodações de baixo custo e alta densidade."

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