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Empresários dizem adeus à França

Normas e impostos franceses afugentam empreendedores

Por LIZ ALDERMAN

O francês Guillaume Santacruz, aspirante a empresário, sacudiu as mãos para secar as gotas de chuva em seu suéter e entrou em um porão cavernoso no Campus London, prédio de sete andares ocupado pelo Google no bairro londrino de East End, onde pessoas elaboravam planos em seus laptops para criar o próximo Facebook ou LinkedIn.

Um ano antes, Santacruz, que tem duas graduações em finanças, vivia em Paris e trabalhava em uma empresa financeira voltada à classe A. Ele aceitara esse emprego após tentar abrir um negócio em Marselha, o qual não deu certo devido à enorme quantidade de regulamentos do governo e à sucessão aparentemente interminável de impostos. O episódio o desanimou para iniciar qualquer outro projeto na França, mas ele ainda queria comandar um negócio próprio. Decidiu tentar novamente, mas em outro país.

"Muitas pessoas indagam: 'Por que você saiu da França?'", disse Santacruz, 29. "Minha resposta é que a França tem problemas demais. Há uma sensação de desânimo que parece estar aumentando. A economia vai mal, e, se você quiser progredir ou abrir seu próprio negócio, o ambiente não é bom."

Um êxodo de empresários e de jovens está em curso, em um momento no qual a França mais precisa deles. O país teve baixo crescimento econômico nos últimos cinco anos, tendendo à estagnação, e aumento do índice de desemprego, atualmente em cerca de 11%.

Empresários ricos também estão partindo. Enquanto novatos reclamam das dificuldades para abrir um negócio, os que o conseguiram dizem que a sociedade estigmatiza o sucesso financeiro. A eleição do presidente François Hollande, membro do Partido Socialista que certa vez declarou: "Não gosto dos ricos", não ajudou a desfazer essa impressão.

Neste ano, porém, Hollande apresentou várias propostas para tornar a França mais atraente para empresários e negócios, enquanto tenta preservar o modelo de proteção social do país.

No entanto, tais iniciativas não interromperam o fluxo de cidadãos franceses para outros países. Artigos em jornais franceses têm examinado as implicações dos "exilados". No mês passado, a Câmara de Comércio e Indústria de Paris, que representa 800 mil empresas, disse que executivos franceses estão mais preocupados que nunca de que "o desemprego e o desânimo estejam forçando os jovens a deixarem" o país. E, como o Centro de Pesquisas Pew divulgou em 2013, "nenhum país europeu está ficando mais desanimado e desiludido tão rapidamente quanto a França".

Segundo o Ministério de Relações Exteriores, cerca de 1,6 milhão dos 63 milhões de cidadãos da França vivem fora do país, e até 60% desse montante saíram a partir de 2000. Milhares estão indo para Hong Kong, Cidade do México, Nova York, Xangai e outras cidades. Aproximadamente 50 mil franceses moram no Vale do Silício, e 350 mil estão radicados no Reino Unido. Muitos dizem que provavelmente não voltarão.

Diane Segalen, executiva de recursos humanos para muitas das maiores empresas da França e que recentemente transferiu a maior parte das operações de sua firma, a Segalen & Associés, de Paris para Londres, diz que basta ler os jornais para atestar a falta de competitividade. "No Reino Unido, você lê sobre todos os negócios em andamento por aqui", declarou Segalen. "Nos jornais franceses, você lê sobre impostos, problemas econômicos e o envolvimento do Estado em tudo."

O governo Hollande está tentando se reposicionar como favorável para os negócios, sobretudo para novas empresas. Uma grande incubadora de tecnologia foi aberta em Paris. Iniciativas têm sido oferecidas para liberar capitais de risco e estimular o empreendedorismo digital.

Uma promessa feita por Hollande em janeiro incluía um "pacto de responsabilidade", no sentido de aliviar parte do fardo fiscal das empresas para financiar o Estado do bem-estar social da França. Em fevereiro, ele anunciou medidas para atrair investidores de volta ao país, revelando planos para estabilizar regras fiscais para empresas, simplificar procedimentos aduaneiros para importações e exportações e introduzir isenção fiscal para start-ups estrangeiras.

Essas mudanças foram bem recebidas por empresas, mas muitos expatriados franceses disseram que seu país se caracteriza por uma antipatia arraigada pelos ricos e que isso não poderia ser resolvido só por algumas medidas políticas. "Há uma sensação de que 'liberdade, igualdade e fraternidade' significa que o que é seu deveria ser meu", comentou Segalen. "Essa mentalidade tipicamente francesa é uma corrida para o abismo."

Axelle Lemaire, legisladora que representa a população francesa no Reino Unido e no norte da Europa diante da Assembleia Nacional da França, disse que o capitalismo anglo-saxão não é a solução caso coloque em risco o modelo social francês.No Reino Unido, "é surpreendente ver o nível de privação de alguns de meus compatriotas", disse ela. "Quando as coisas não dão certo por aqui, eles podem acabar sem um centavo no bolso e vivendo na rua. Essa é a parte não divulgada da história."

Ao mesmo tempo, segundo Lemaire, a generosa rede de segurança da França não poderá se manter inalterada sem provocar mais mal-estar econômico. "Todos os políticos socialistas concordam sobre isso hoje."


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