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New York Times

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Lente

Corações generosos e mentes céticas

Decidir com quem ser caridoso pode ser complicado

Quem diria que é tão difícil doar dinheiro? Essa é a lição que alguns universitários dos EUA estão aprendendo. Na Universidade do Noroeste, próxima de Chicago, o projeto final de um curso sobre filantropia é doar US$ 50 mil.

Alguém se interessa em receber essa soma? Bem, na verdade, vamos com calma. Antes de preencher cheques, os estudantes precisam analisar de perto instituições de caridade para decidir quais são realmente merecedoras. O curso, como outros em algumas universidades americanas de elite, foi financiado por Geoffrey P. Raynor, gestor de fundos de investimento de alto risco, que considera a filantropia uma "filosofia de cunho prático".

"O principal é fazer escolhas éticas sobre como fazer o bem", disse ele ao "NYT". "Há apenas uma vaga no bote salva-vidas. Quem merece ser salvo?"

Os estudantes acham essa pergunta difícil. Michael Sherman, recém-formado na Universidade Yale, disse que o projeto de doação por lá mostrou "quantas entidades de caridade não fazem de fato aquilo a que se destinam ou não atuam tão bem quanto pensam". Christopher Gilligan, que fez o mesmo curso na Noroeste anteriormente, criticou uma entidade de caridade com a qual seu grupo fora generoso, pois o relatório entregue depois pela entidade "não explicava bem o que ela fez com nosso dinheiro".

Nesse caso, eram apenas US$ 50 mil. Imagine então doar US$ 40 bilhões, que é a soma movimentada pela Fundação Bill & Melinda Gates, a maior organização filantrópica dos EUA. Mas Gates, o homem mais rico do mundo, está destinando menos dinheiro à fundação. Ele doou US$ 24,6 bilhões entre 1998 e 2001, mas apenas mais US$ 3,7 bilhões na década seguinte.

Segundo o "NYT", essa queda reflete parcialmente as dificuldades impostas por leis americanas a fundações isentas de impostos, que devem gastar 5% de seus fundos a cada ano. A Fundação Gates doou US$ 3,9 bilhões em 2012, e John Pinette, porta-voz de Gates, mencionou os desafios de doar tanto dinheiro de maneira eficaz: "Além de ser uma tarefa gigantesca, envolve uma grande responsabilidade". Melissa A. Berman, da Consultoria Rockefeller de Filantropia, disse que pode ser difícil encontrar grupos que consigam utilizar bem tanto dinheiro e que a maioria das organizações sem fins lucrativos dos EUA tem orçamentos anuais inferiores a US$ 500 mil.

No entanto, doar em menor escala também envolve dificuldades. Chen Guangbiao, magnata chinês do setor de reciclagem, recentemente ofereceu um almoço para cerca de 200 homens e mulheres sem-teto em Nova York. Ele havia publicado um anúncio prometendo que cada convidado teria direito a uma ótima refeição e a US$ 300 em espécie.

"Eu quero que as pessoas ricas do mundo vejam isso", declarou ele ao "NYT". "A partir deste evento, espero que o mundo inteiro fique repleto de amor."

Os convidados não sentiram esse amor quando foram embora com a fome saciada, mas com os bolsos vazios. A Missão de Resgate de Nova York, que encaminhou os sem-teto ao evento, não permitiu a entrega do dinheiro, temendo que ele servisse para comprar drogas e álcool. Chen então concordou em doar US$ 90 mil para a missão, porém tentou cumprir sua promessa de dar dinheiro aos sem-teto. A Missão de Resgate interveio e permitiu que ele entregasse US$ 300 para alguns convidados como um gesto simbólico, mas eles teriam de devolver a soma.

Apesar de tudo, o esforço parece válido para quem doa e para quem recebe. Em uma reportagem sobre evidências de que nem todos os ganhadores da loteria acabam na miséria, o "NYT" citou o livro "Dinheiro Feliz: a Arte de Gastar com Inteligência", segundo o qual uma das maneiras mais seguras de se tornar feliz é dar dinheiro. É mais fácil falar do que fazer.

ALAN MATTINGLY

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com


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