Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Ensaio - David Hochman

Melhor amigo e gênio

Produtos testam e estimulam inteligência canina

Ela tem seis meses e acorda antes de o sol raiar para uma sessão de jogos de inteligência. Sabe usar um iPad e praticamente devora quebra-cabeças. Agora, ela está aprendendo a ler.

Estou falando, claro, de minha cadela, a Pi.

Nossos amigos caninos não se limitam mais a comer ração em vasilhas. Agora há produtos, como o Dog Twister, importado da Suécia, que oferecem compartimentos rotativos escondidos e forçam o cachorro a raciocinar antes de chegar à comida. Apps para smartphones como o App for Dog, iSqueek e Answers: NoYes, permitem que os filhotes desenhem, movimentem comidinhas virtuais com o focinho e até reconheçam algumas palavras simples. Outros permitem que tirem selfies.

Por que não levar Pi aos limites do que sua raça permitiria? O que implica primeiro descobrir qual exatamente é sua raça. Por US$ 70, os cientistas que criaram o Wisdom Panel 2.0 revelam "percepções com base no DNA que podem ajudar a compreender a aparência, o comportamento e as necessidades de bem-estar de seu cachorro", de acordo com a embalagem.

Um cachorro novo é sempre um mistério. Para buscar respostas, recorri a Brian Hare, que estuda comportamento no Centro de Cognição Canina da Universidade Duke, na Carolina do Norte. No ano passado, ele criou o Dognition, serviço de testes on-line que oferece uma série de rigorosas experiências caseiras em vídeo para avaliar as capacidades cognitivas de seu cachorro. Os resultados alimentam um banco de dados com informações sobre dezenas de milhares de cachorros e ajudam a determinar um entre nove tipos possíveis de personalidade.

Nos últimos dez anos, diz ele, aprendemos mais sobre como os cachorros pensam do que em todo o século anterior. As pesquisas de Hare demonstram que os cachorros leem nossos gestos mais flexivelmente do qualquer outro animal. Quando você acaricia um cachorro, concluiu outro estudo, o nível de oxitocina aumenta tanto no animal quanto no ser humano.

Julie Hecht é pesquisadora no Barnard College, de Nova York, e mantém o blog Dog Spies, no site da revista "Scientific American". Quando revelei a ela minha inclinação a ser uma espécie de pai coruja para Pi, Hecht disse que isso fazia sentido. Pesquisas conduzidas no Projeto Cão da Família, da Universidade Eotvos Lorand, em Budapeste, sugerem que os cachorros "mostram respostas muito semelhantes às que se vê em crianças pequenas, da ordem dos dois anos".

Passamos semanas em busca de indícios desse tipo no comportamento de Pi. O jogo do bocejo tinha por objetivo medir se um bocejo humano causa um bocejo canino, um sinal de empatia entre espécies que se aplica apenas a algumas variedades de cães. Pi não era um deles. Seu momento de gênio veio em um jogo de raciocínio no qual ela inferiu repetidas vezes que um pedaço de papel posicionado na diagonal significava que havia comida escondida por trás dele.

Em seguida vieram testes de destreza e resistência. O Zoom Room é uma franquia nacional de estabelecimentos em que "cachorros urbanos" percorrem pistas de obstáculos. Inscrevemos Pi no programa de agilidade um, que envolvia saltar barreiras, correr por túneis de lona e latir para os seus colegas.

Por sentirmos que ela poderia se sair ainda melhor caso recebesse atenção pessoal, consultei Anna Jane Grossman, que dirige a School for Dogs, em Manhattan. Grossman primeiro instrui cachorros a guardar seus brinquedinhos quando não os estão usando, e mais tarde os ensina a usar iPads. Em uma demonstração no Brooklyn, Amos, o cão de Grossman, usou o focinho para desenhar com o Doodle Draw, respondeu a perguntas usando o app YesNo e tirou selfies (horríveis) com um app chamado Big Camera Button. Amos obviamente estava fazendo tudo isso por conta da comida que ganhava como recompensa, mas os feitos do cachorro atraíram aplausos e exclamações de espanto da plateia.

Usando um app chamado Big Words, eu mostrava a Pi a palavra "senta", enquanto a dizia em voz alta. Se ela obedecia, eu a bombardeava com iscas de fígado como recompensa. Depois de algum tempo, ela começou a se sentar sem que eu precisasse dizer a palavra. Permitam-me dizer que existem poucos truques que espantem mais os seus amigos do que o seu cachorro estender a pata a eles quando lê "aperto de mão" no tablet.

Então ouvi falar de Chaser, border collie de nove anos de idade, da Carolina do Sul, que supostamente entende 1.022 palavras. Com Chaser, não é só "Pega!", mas "Vá pegar o orangotango cor de laranja!". Para ensinar Chaser a apanhar um novo boneco de Miss Piggy, John Pilley, o professor aposentado de psicologia do Wofford Collee, Carolina do Sul, que dedicou cinco horas por dia ao longo de mais de três anos a treiná-la, mostrava o boneco à cadela e repetia "Miss Piggy" dezenas de vezes. Depois ele escondia o boneco e pedia que Chaser o encontrasse.

Quando à nossa experiência canina pessoal, continuo a servir as refeições de Pi usando a máquina sueca de confundir cachorros, a treiná-la no iPad e a quantificar digitalmente suas atitudes. Mas, só por garantia, nós também a colocamos na escolinha de obediência.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página