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China tenta sufocar fórum on-line

Por IAN JOHNSON

PEQUIM - Nos últimos anos, as mídias sociais na China têm sido dominadas pelo Sina Weibo, um serviço de microblogs como o Twitter. Ele criou uma esfera online de debate público desenfreado, incubando mudanças sociais e às vezes até acuando políticos em um país no qual os veículos da mídia tradicional são rigidamente cerceados.

Nos últimos meses, porém, o Weibo foi eclipsado pelo WeChat, a versão chinesa do Facebook, que permite a troca de mensagens em tempo real em círculos restritos de seguidores.

A transformação do caráter público da comunicação em semiprivado, acelerada pela repressão do governo ao Weibo, mudou o panorama das mídias sociais para os 600 milhões de usuários da internet no país, refreando o que era o fórum público mais aberto na China moderna.

"Essa é um nova fase para as mídias sociais na China", opinou Hu Yong, professor na Universidade de Pequim. "É o declínio do primeiro fórum em grande escala para informações e a ascensão de algo com foco mais estreito."

O WeChat tem vantagens e defensores. É, por exemplo, menos censurado que o Weibo, e alguns usuários dizem que se expressam mais à vontade, pois sabem que suas conversas são privadas.

Em maio, o governo anunciou que iria monitorar mais o WeChat. Alegando que os serviços de mensagens instantâneas estavam sendo usados para disseminar "violência, terrorismo e pornografia", a agência encarregada de policiar a internet declarou que iria "lutar firmemente contra a infiltração de forças hostis no país e no exterior".

Em seu auge, o Weibo prometia muito mais. Ele ganhou notoriedade em 2011, depois que 40 pessoas morreram no acidente de um trem de alta velocidade. Usuários do Weibo detalharam a confusão e as falhas do governo que levaram ao acidente. Esse foi um momento crucial do início da era da internet na China, pois mostrou como esse meio podia desafiar até um governo autoritário.

O Weibo ainda é importante. É mais fácil encontrar notícias e comentários palpitantes nele do que no universo rigidamente controlado da mídia estatal. O Weibo relatou em março que tinha 66 milhões de usuários diários, uma alta de 37% em relação a 2013. No entanto, números do governo mostram que o volume total de usuários de microblogs, incluindo os que usam o Weibo, caiu 9% no ano passado, com muitos migrando para o WeChat.

"Ainda é possível encontrar novidades e notícias quentes no Weibo, mas os comentários estão menos interessantes e profundos", disse He Weifang, conhecido advogado e ex-blogueiro do Weibo que chegou a ter mais de 1 milhão de seguidores.

Um motivo disso é a repressão do governo às chamadas contas e comentaristas de destaque, que chegavam a ter milhões de seguidores. Centenas deles foram detidos e deixaram de postar.

Muitos também se cansaram da lista estonteante de termos proibidos e do jogo de gato e rato para escapar dos censores.

O WeChat tirou partido da frustração. A empresa que o controla, a Tencent, afirma ter 355 milhões de usuários ativos mensais. A companhia não revela o número de usuários diários, o que dificulta uma comparação direta com o Weibo.

Ativistas dizem que o WeChat lhes permite aprofundar-se em assuntos com pessoas de mentalidade parecida. O veterano ambientalista Li Bo usa o WeChat há mais de dois anos para fortalecer a oposição a projetos de infraestrutura danosos, como o plano de represar o rio Nu. Li participa de um grupo no WeChat chamado Defesa de Políticas Ambientais que tem mais de 300 membros, incluindo, diz, funcionários do governo com mentalidade aberta.

Embora participem raramente, funcionários públicos acompanham o tráfego de informações e ocasionalmente convidam membros do grupo para encontros em seus escritórios, a fim de conversar sobre políticas públicas.

O WeChat tem restrições autoimpostas que o impedem de ter a mesma esfera pública do Weibo. Ele permite a criação de contas públicas que qualquer um pode seguir, mas o limite é de uma postagem por dia. Além disso, não é possível acessar contas públicas em telefones celulares, o que dificulta, por exemplo, postar na blogosfera uma foto recriminadora de um funcionário público.

Os comentários também são deletados após alguns dias, assim apagando registros históricos. O governo monitora essas contas e recentemente deletou algumas que cobriam política e notícias de interesse social.

O WeChat, porém, continua sendo uma ferramenta valiosa para ativistas. Hu Jia, que atua em causas ambientais há 15 anos, disse que o advento das mídias sociais, apesar de suas limitações, produziu uma sociedade mais bem informada.

"O Weibo e o WeChat são dádivas", disse. "A despeito de toda a vigilância, os benefícios obtidos são imensos para as pessoas que tentam organizar a sociedade."


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