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New York Times

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Muçulmanos repudiam nome de milícia radical

Por DAN BILEFSKY

PARIS - Depois da decapitação do guia de montanhismo francês Hervé Gourdel, no mês passado, por um grupo jihadista argelino alinhado com o Estado Islâmico (EI), centenas de muçulmanos se reuniram diante da Grande Mesquita de Paris para expressar seu repúdio à brutalidade de um grupo cujo nome e ideologia, disseram, representam um insulto a muçulmanos de todo o mundo.

Ahmet Ogras, vice-presidente do Conselho Francês da Fé Muçulmana, a entidade que convocou o protesto, disse que o uso do nome Estado Islâmico, agora comum, ameaça estigmatizar os muçulmanos da França, a maior comunidade muçulmana da Europa.

Ele disse também que o nome confere legitimidade injustificada a um grupo que promove matanças em nome do islã. "Este não é um Estado -é uma organização terrorista", afirmou Ogras. "Não se pode brincar com as palavras."

Enquanto a batalha liderada pelos EUA contra forças radicais segue adiante no Iraque e na Síria, uma nova frente de guerra linguística se delineia.

Grupos muçulmanos estão criticando o Estado Islâmico em protestos e nas mídias sociais, defendendo nomes alternativos para descrever a facção, hoje conhecida por várias siglas, incluindo EIIS (Estado Islâmico no Iraque e na Síria), EIIL (Estado Islâmico no Iraque e no Levante), ECI (Estado do Califado Islâmico) e EI (Estado Islâmico).

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, descreveu o grupo como "Un-Islamic Nonstate" (Não Estado Anti-islâmico), mas poucos preveem que a sigla UINS/NEAI ganhe grande aceitação.

Membros da Sociedade Islâmica Britânica e da Associação de Muçulmanos Britânicos escreveram ao premiê David Cameron no mês passado sugerindo que o uso contínuo do nome Estado Islâmico pode servir para radicalizar mais jovens muçulmanos.

A França, que participa dos ataques aéreos contra o grupo no Iraque, lidera o esforço de mudança de nome. No mês passado, o chanceler Laurent Fabius anunciou que o governo francês vai evitar o termo Estado Islâmico ou suas alternativas, EIIS e EIIL. Em vez disso, vai aludir à milícia como Daesh, acrônimo usado por muitas pessoas que falam árabe e que soa como a palavra que significa "esmagar".

Falando perante a Assembleia Nacional, Fabius declarou que o fato de o Estado Islâmico afirmar que representa um califado -um Estado governado por princípios islâmicos- na Síria e no Iraque é uma falsidade geopolítica e linguística. "Trata-se de um grupo terrorista, não de um Estado", declarou. "Eu os vou chamar de Facínoras Daesh."

Nos Estados Unidos, Nihad Awad, do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, disse que seu grupo decidiu pela sigla EIIS, mas que ele pessoalmente descreve o EI como "Daesh" -"se bem que às vezes eu diga 'o Estado Perverso'". Vários representantes de associações islâmicas nos EUA disseram que qualquer dos nomes usados para aludir ao grupo é aceitável, desde que não inclua o termo "islâmico".

O presidente Obama já deixou claro que rejeita o rótulo "Estado Islâmico". "O EIIL não é islâmico", afirmou na televisão em setembro, acrescentando depois: "O EIIL não é um Estado".

Peter Neumann, do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização, no King's College London, disse que o termo Daesh dificilmente encontrará ressonância internacional, porque o acrônimo EIIL é mais fácil de pronunciar.

Mas, para ele, "o simples fato de dizer as palavras 'Estado Islâmico' não quer dizer que você reconheça o grupo como um Estado. As pessoas entendem que eles são impostores e que um nome é apenas um nome."


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