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New York Times

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Tragédia polariza Coreia do Sul

Dor que uniu o país em abril agora divide população

Por CHOE SANG-HUN

SEUL, Coreia do Sul - Durante meses, os pais dos adolescentes que morreram no naufrágio da balsa Sewol acamparam na maior avenida da capital. Eles fizeram greve de fome para protestar contra a suposta recusa do governo a investigar com profundidade o papel da incompetência oficial e da má supervisão de práticas de segurança no acidente. Por meses, o país compartilhou seu luto.

Porém, à medida que os protestos levaram o Parlamento a um impasse, os apoiadores da Presidência iniciaram outra campanha, acusando as famílias de manter o país refém e dizendo que era hora de pôr fim ao luto. Alguns chegaram a montar um acampamento perto dos que estavam em greve de fome e fazer selfies enquanto se banqueteavam com frango frito, macarrão e pizza.

Mais de cinco meses após o trágico naufrágio que uniu a Coreia do Sul no sofrimento, o acidente polariza o país e ameaça desencarrilhar a agenda política da presidente Park Geun-hye.

Na opinião dos pais enlutados, essa é a grande chance de a Coreia do Sul pôr fim aos laços entre burocratas e empresas corruptos que formam o lado oculto da ascensão econômica do país e que, segundo eles, são a causa subjacente do acidente. "Nós não estamos exigindo a volta de nossos filhos, já que é impossível ressuscitá-los, mas queremos respostas", disse Yoon Kyung-hee, cuja filha de 16 anos morreu. "Queremos apenas que os responsáveis sejam investigados e punidos para impedir que isso volte a acontecer."

Os 250 estudantes morreram devido a erros e maus procedimentos que poderiam ter sido evitados. Membros da tripulação, a maioria dos quais depois abandonou a balsa, disseram aos passageiros para permanecer sob os conveses. Cidadãos traumatizados puderam testemunhar os apavorantes momentos finais da vida de alguns estudantes, quando vídeos feitos em celulares foram recuperados. As imagens incluíam jovens gritando frases de despedida a seus pais.

Promotores públicos já revelaram que a balsa afundou porque transportava o dobro da carga permitida e passara por uma reforma para gerar mais lucros que a deixou pesada demais. Após ganhar uma viagem da empresa de balsas para uma ilha paradisíaca, funcionários públicos declararam a balsa apta a navegar no mar, afirmaram os promotores.

Park prometeu vistoriar um sistema que, em suas próprias palavras, é dominado por uma "espécie de máfia". Todavia, os pais e seus apoiadores dizem que a presidente não age com firmeza. Eles ainda não receberam respostas satisfatórias sequer para as perguntas básicas: por que a tripulação deu orientações erradas? Por que os primeiros membros da Guarda Costeira chegaram ao local do acidente sem equipamentos apropriados nem profissionais especializados em resgate marítimo? Por que eles não usaram megafones para instruir os passageiros encurralados a abandonar a balsa? Segundo os pais, outro fato inaceitável é que o governo tentou enfraquecer os poderes de uma comissão independente de investigação em vias de ser criada. Além disso, dizem eles, os apoiadores do governo usam clichês ideológicos remanescentes dos 30 anos de ditadura militar no país.

Enquanto Yoon falava, ativistas de extrema-direita chegaram com placas culpando os "comunistas pró-Coreia do Norte" pelos protestos. "Eu tento não prestar atenção neles", disse Yoon. "Mas se me perguntarem direi que a mesma desgraça pode acontecer com seus filhos. "

Park prometeu demitir parte da Guarda Costeira. Investigações feitas pelos promotores públicos resultaram em acusações contra dezenas de funcionários de órgãos fiscalizadores e da empresa de balsas e membros da tripulação. No entanto, a maioria deles é composta por funcionários de baixo escalão, e a atenção dos investigadores está focada na família que controlava a empresa de balsas e a sucateou por dinheiro. Muitos sul-coreanos acham que essa família se tornou um bode expiatório.

A desconfiança em relação ao governo Park aumentou no mês passado, quando um ex-diretor da agência de espionagem do país foi condenado por interferir na política antes da eleição presidencial de 2012 com uma campanha tendenciosa na internet contra críticos do governo. "No mínimo", disse o comentarista político Lee Byong-ik, "o acidente com a Sewol agravou a guerra ideológica em nosso país."


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