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Sexo entre espécies criou a humanidade

DNA humano é 2,5% neandertal

Por ALANNA MITCHELL

A ponta do dedo mindinho de uma menina de 40 mil anos achada numa caverna da Sibéria juntou-se às tecnologias de sequenciamento genético, cada vez mais rápidas e baratas, para ajudar os cientistas a traçarem um quadro novo e surpreendentemente complexo sobre as origens humanas.

Essa nova visão está suplantando a ideia de que os humanos modernos saíram do continente africano há cerca de 50 mil anos, substituindo todas as outras espécies existentes.

O que a nova análise genética mostra é que os humanos modernos se encontraram e procriaram com pelo menos dois grupos de humanos antigos: os neandertais, que viveram na Europa e na Ásia até cerca de 30 mil anos atrás, e um misterioso grupo conhecido como denisovanos, que viveu na Ásia e desapareceu mais ou menos na mesma época.

"Em certo sentido, somos uma espécie híbrida", disse Chris Stringer, paleoantropólogo do Museu de História Natural de Londres, no Reino Unido.

Os avanços no sequenciamento genético permitiram que cientistas do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig (Alemanha), mapeassem o genoma dos neandertais e dos denisovanos.

Os denisovanos foram descritos pela primeira vez há um ano, em um estudo publicado na revista "Nature", que só foi possível ao sequenciar o osso mindinho da menina e um molar de um jovem adulto.

Comparando os genomas, os cientistas concluíram que os humanos contemporâneos fora da África carregam em média 2,5% de DNA neandertal, e que pessoas de partes da Oceania têm também cerca de 5% de DNA denisovano.

Um estudo publicado em novembro mostrou que pessoas do sudeste asiático possuem 1% de DNA denisovano, além dos genes neandertais.

Um terceiro grupo humano extinto, o Homo floresiensis, apelidado de "hobbits" por causa da pequena estatura, também andava pelo mundo há cerca de 17 mil anos. Não se sabe se os humanos modernos procriaram com eles, porque o clima quente e úmido da ilha indonésia de Flores, onde os seus restos foram achados, prejudica a preservação do DNA.

Isto significa que a nossa era moderna, desde a extinção do H. floresiensis, é o único período em 4 milhões de anos de história humana em que apenas um tipo de ser humano está vivo, disse David Reich, geneticista da Escola de Medicina de Harvard.

O epicentro da emergente história sobre as origens humanas é a caverna de Denisova, na cordilheira de Altai, na Sibéria, onde foi descoberto o ossinho da menina. É o único lugar conhecido onde três tipos de humanos -denisovanos, neandertais e modernos- viveram, mas provavelmente não durante o mesmo intervalo de tempo.

John Hawks, paleoantropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison, visitou a caverna em julho. Ela tem teto alto e arqueado, como uma catedral gótica, e uma chaminé, disse ele. A temperatura média, 0°C, ajuda a preservar o DNA arcaico.

Reich e sua equipe já determinaram que um pequeno número de humanos híbridos -meio neandertais, meio modernos- viveu entre 46 mil e 76 mil anos atrás. Híbridos meio denisovanos, meio modernos são de épocas mais recentes.

Peter Parham, imunologista da Escola de Medicina da Universidade Stanford, na Califórnia, usou a análise dos componentes genéticos do sistema imunológico -alelos- para descobrir que um dos acasalamentos entre denisovanos e humanos modernos provavelmente aconteceu no atual sudeste da China. Ele também encontrou pistas de que neandertais e humanos modernos se acasalaram no oeste da Ásia.

Neandertais e denisovanos já viviam na Europa e na Ásia milênios antes de os humanos modernos chegarem, e desenvolveram formas de enfrentar as doenças locais, disse Parham.

Quando os modernos humanos procriaram com eles, receberam uma providencial injeção de material genético imunológico. O lado negativo dessa herança é que ela pode ser responsável por doenças autoimunes, como diabetes, artrite e esclerose múltipla.

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