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Além do cadinho cultural

Nos EUA, uma nova visão de identidade racial está surgindo

Roubo de identidade. Crise de identidade. Identidade de gênero. Identidade racial. Identidade pessoal.

O mundo moderno ampliou nossa noção de identidade e minou nossa sensação de fazer parte de uma família, uma tribo, uma cultura ou um país. A conexão pode ser a diferença entre a pobreza e um bom salário.

As tribos indígenas da Califórnia, que enriqueceram com os lucros dos cassinos, têm usado leis de sangue para classificar quem pode ou não participar do butim.

Mais de 2.500 membros de tribos, escreveu David Treuer no "Times", foram informados de que não tinham sangue indígena suficiente e, por isso, não receberiam parte da renda das tribos.

A ironia aqui, como indica Treuer, é que essas chamadas "leis da quantidade de sangue" foram usadas ainda em 1705 na Virgínia, para determinar quem seria classificado como índio, o que significava direitos restritos.

Mais de 300 anos depois, o censo dos Estados Unidos ainda tenta classificar as pessoas pela raça, e o formulário do censo tem 15 opções, incluindo "alguma outra raça". Em 2010, 18 milhões de latinos marcaram o quadrado "outra", relatou o "Times".

"Muitos latinos afirmam que as categorias raciais do país -na verdade, a própria concepção de identidade do governo- não se enquadram a eles", escreveu Mireya Navarro no "Times".

Erica Lubliner, filha de pai judeu e mãe mexicana, tem pele clara e olhos verdes. Depois que seu pai morreu, quando ela tinha nove anos, cresceu em meio a sua família mexicana, mas disse ao "Times" que ficou tão "confusa" com a pergunta da raça que a deixou em branco.

"Acreditem, não sou uma pessoa confusa", disse Lubliner. Ela é formada em medicina e tem 30 e poucos anos. "Eu sei quem sou, mas não necessariamente me enquadro nas categorias."

Alejandro Farias, 23, cujos ancestrais vieram dos EUA, México e Portugal e se considera latino, também marcou "alguma outra raça" no formulário do censo.

"A raça me deixa muito confuso, porque temos tantas pessoas de raças diferentes que formam nossa árvore genealógica", disse Farias ao "Times".

Uma leitora do Texas, Dawn Lewis, escreveu em uma carta ao editor depois de ler um artigo sobre a mistura de raças nos EUA: "Não somos mais apenas um cadinho cultural; já nos fundimos. Como professora, vi a confusão dos meus alunos, cujas famílias são um bufê de raças, religiões e relacionamentos, quando foram instados a marcar sua etnia em testes padronizados. Que quadrado você diz para uma criança preencher, quando seu pai é afro-americano, a mãe hispânica, a madrasta branca e a meio-irmã asiática?".

"Nossa sociedade precisa encarar a realidade: os americanos são um produto de nossa sociedade muito diversificada. Não nos encaixamos mais em um quadradinho."

Porém, parte de nossa identidade está ligada ao grupo ou à tribo que consideramos nossa.

Treuer escreveu que as tribos indígenas tinham sua própria maneira de descobrir quem era um membro, geralmente com base na língua, na residência e na cultura. No caso de sua própria tribo, os ojibwe, era uma questão de escolher um lado.

"Especialmente no início do século 19, quando estávamos em guerra com os dakota -nossos vizinhos, muitos dos quais eram parentes-, quem você era tratava-se principalmente de uma questão de quem você matava", escreveu Treuer.

"Pessoalmente, acho que essa é uma maneira mais elegante [sic] do que muitas de descobrir onde você se encaixa."

TOM BRADY

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