Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Banco do Equador mira nicho espanhol

Por RAPHAEL MINDER
MADRI - Rosalia Efigenia Guamán, uma entre os 540 mil equatorianos na Espanha, não perdeu tempo ao saber que o Pichincha, maior banco privado do Equador, instalara-se aqui.

Guamán, que é empregada doméstica e garçonete, contou que a retomada da relação com esse banco, do qual já era cliente no Equador, permitiu-lhe reduzir os custos das suas remessas financeiras e adquirir um seguro de vida. "Eu me sinto muito tranquila de saber que será bem mais fácil para a minha mãe no Equador recuperar tudo o que for possível se algo der realmente errado comigo por aqui."

O Pichincha foi autorizado, no primeiro semestre de 2010, a operar na Espanha, justo quando a Grécia se tornava o primeiro país da zona do euro a solicitar um resgate financeiro, desencadeando uma crise da dívida que também abalou a Espanha e o seu setor bancário. Desde então, a filial espanhola do Pichincha cresceu além das expectativas dos seus gestores, graças a um truque que empresas do mundo inteiro tentam realizar: vender a sensação de familiaridade a uma clientela leal e longe de casa.

O momento era propício, uma vez que os bancos espanhóis, antes interessados em atrair os imigrantes latinos, começaram a se afastar desse filão, pois a crise financeira da zona do euro pressionou-os a cortar atividades não essenciais.

"A crise fez com que a nossa concorrência simplesmente esvaziasse o espaço que era o nosso alvo óbvio em termos de clientes", disse Jorge Ignacio Marchán Riera, diretor de operações do Pichincha na Espanha.

Marchán disse que o banco dará lucro na Espanha já em 2012, dois anos antes do previsto. O capital sob sua gestão no país passou de € 27 milhões (US$ 35,6 milhões), no fim de 2010, para € 63 milhões, um ano depois, e deve dobrar novamente. E, enquanto a maioria dos bancos espanhóis está reduzindo sua rede de atendimento, Marchán pretende passar neste ano das atuais 12 agências na Espanha para "pelo menos" 20.

Mas ainda pode ser cedo para apontar o Pichincha como algo além de uma história de sucesso pequena e limitada. "O Pichincha está indo bem em parte porque sai do zero e não carrega a pesada carga de empréstimos ruins que os bancos daqui acumularam", disse Javier Santomá, professor de gestão financeira da escola de administração Iese, de Barcelona. "O verdadeiro teste para qualquer banco, no entanto, sempre chega, não quando ele empresta e sim quando ele tenta receber o dinheiro de volta."

Mas o mercado bancário para migrantes parece promissor. A migração deve continuar crescendo no mundo, o que irá beneficiar o Pichincha e outras instituições de nações em desenvolvimento que ampliarem suas redes no exterior para atender pessoas que enviam parte da renda mensal aos seus países de origem.

No ano passado, as remessas para países em desenvolvimento cresceram 8%, atingindo US$ 351 bilhões e devem alcançar US$ 441 bilhões em 2014, segundo o Banco Mundial.

A instituição observou que as remessas a partir da Espanha continuaram "bastante resistentes" e chegaram a crescer 15% no primeiro semestre de 2011, já que "os migrantes reduziram sua poupança e até o seu consumo a fim de fazer remessas e talvez para preparar um eventual regresso".

Apesar de a Espanha ter desemprego de quase 23%, apenas alguns milhares de equatorianos voltaram ao seu país.

A Espanha registrou cerca de 5 milhões de imigrantes latino-americanos em uma década, o que equivale hoje a 12% da população do país. Os equatorianos formam o maior grupo, refletindo a onda migratória ocorrida depois da devastadora crise de 1999 no Equador, que levou a uma desvalorização de 70% no sucre, a moeda local, e a uma moratória na dívida externa. A crise coincidiu com o início do boom econômico espanhol, puxado pelo setor da construção civil.

O Pichincha conseguiu amealhar clientes por não cobrar taxas nas remessas para o Equador e para outros países onde o banco opera, como a Colômbia e o Peru.

"Eu venho de um país que está em crise desde que sou vivo", disse Marchán, "então o que está acontecendo agora na Espanha certamente não parece algo com o que não saibamos lidar".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.