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Escândalo sexual e a ioga: velha polêmica

Gurus revivem origens da ioga como culto sexual

Por WILLIAM J. BROAD
A imagem da ioga recebeu um duro golpe recentemente. Depois de acusações de conduta sexual imprópria com alunas, John Friend, o fundador do anusara, um dos estilos de ioga que mais cresceram no mundo, disse que vai se aposentar.

Friend pregava um evangelho de poses delicadas misturadas com abordagem voltada para o amor e a felicidade. Mas Elena Brower, uma ex-confidente, disse que seu círculo íntimo sabia de sua "queda por mulheres" e de seu amor por "festas e diversão".

A aparente hipocrisia indignou muitos seguidores.

"Essas pessoas estão devastadas", escreveu Brower no jornal on-line "The Huffington Post". "Elas ficaram compreensivelmente decepcionadas ao saber que ele enganou suas namoradas e mentiu para tantas pessoas."

Mas esta certamente não é a primeira vez que a fachada culta da ioga sofre com escândalos sexuais. Por que a ioga produz tantos charlatões? E por que a comoção resultante deixa tantas pessoas chocadas e aborrecidas?

Um fator é a ignorância. Os professores e os manuais de ioga raramente mencionam que a disciplina surgiu como culto sexual.

A hatha ioga -mãe de todos os estilos hoje praticados ao redor do mundo- começou como um ramo do tantra. Na Índia medieval, os ritos dos cultos tântricos podiam incluir sexo grupal e a dois. A hatha usou poses, respiração profunda e atos estimulantes -incluindo o sexual- para produzir um êxtase intenso.

No início do século 20, os fundadores da ioga moderna criaram uma versão atenuada da disciplina que reduziu o antigo erotismo e passou a enfatizar a saúde e o condicionamento físico.

Mas durante décadas muitos descobriram pela experiência pessoal que a prática pode insuflar os ânimos sexuais.

A ciência começou a esclarecer os mecanismos internos. Na Rússia e na Índia, cientistas mediram aumentos acentuados de testosterona. Cientistas tchecos mostraram como as poses podem resultar em surtos de ondas cerebrais que não se distinguem daquelas dos amantes. Mais recentemente, cientistas da Universidade da Columbia Britânica documentaram como a respiração acelerada -praticada em muitas aulas de ioga- pode aumentar o fluxo sanguíneo nos órgãos genitais.

Desde que a geração "baby boom" descobriu a ioga, a excitação, o suor, a respiração acelerada e a pouca roupa que caracterizam as aulas de ioga levaram a resultados previsíveis. Em 1995, o sexo entre alunos e professores tornou-se tão comum que a Associação de Professores de Ioga da Califórnia lamentou o fato como imoral e pediu padrões mais elevados.

Se a ioga pode excitar os praticantes diários, aparentemente tem um efeito semelhante, ou maior, sobre os gurus.

Swami Satchidananda (1914-2002) foi um superastro da ioga. Em 1991, manifestantes carregando cartazes que diziam "Chega de abuso", "Acabem com o fingimento" marcharam diante de um hotel na Virgínia onde ele ministrava uma palestra.

"Como você pode se chamar de guia espiritual", gritou uma ex-devota na plateia, "se você me molestou e a outras mulheres?".

Outro caso envolveu o guru Swami Rama (1925-96). Em 1994, uma mulher moveu um processo legal acusando-o de ter começado a abusar dela quando tinha 19 anos. Em 1997, pouco depois da morte dele, um júri concedeu à mulher quase US$ 2 milhões em indenização.

Swami Muktananda (1908-82) teve milhares de devotos, incluindo celebridades. No fim de 1981, uma assessora graduada acusou-o de ser na verdade um mulherengo. Muktananda se defendeu como um santo perseguido e pouco depois morreu de infarto.

Mas talvez, se os alunos e professores soubessem mais sobre as origens da hatha, ficassem menos inclinados à surpresa e à perturbação, tão contrárias à ioga.

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