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Afortunados executivos

Salário anual médio de CEO é US$ 14,4 milhões; trabalhador ganha US$ 45.230, nos EUA

Para CEOs, a bonança é à prova de crises

POR NATASHA SINGER

Será que qualquer CEO vale US$ 1 milhão por dia?

Ou US$ 42 mil por hora. Ou US$ 700 por minuto. Ou US$ 12 por segundo.

Pense nos seguintes termos: no tempo que você levou para ler essas palavras, poderia ter embolsado US$ 100. Leia este artigo até o fim e -bem, faça as contas.

Na Apple, a resposta é um "sim" enfático, e mais um pouco. Desde Steve Jobs, nenhum presidente da Apple -ou de qualquer outra empresa americana de capital aberto- foi tão ricamente pago com ações quanto Timothy D. Cook, que assumiu o lugar de Jobs como CEO em agosto passado, alguns meses após sua morte.

Em 2011, Timothy Cook recebeu salário de aproximadamente US$ 900 mil. Mas então houve o super bônus, sob a forma de ações da Apple. Inicialmente, o bônus valia assombrosos US$ 376,2 milhões. No fim de março, já era avaliado em US$ 634 milhões, refletindo a alta vertiginosa das ações da Apple.

Muitos atribuem o sucesso recente da Apple a Cook, além de a Steve Jobs. A empresa observou que o pacote será parcelado ao longo de dez anos. E a maioria dos acionistas da Apple votou a favor dele.

De acordo com um estudo recente da Universidade Georgetown, em Washington, um americano com diploma universitário ganha em média US$ 2,3 milhões de dólares ao longo de toda sua vida.

Os altos executivos geralmente se saem muito, muito melhor que o resto de nós, em bons ou maus tempos econômicos. Após os últimos anos de boom e queda, em 2011, os salários dos cem mais bem pagos CEOs de grandes corporações americanas se mantiveram mais ou menos estáveis, segundo a Equilar, firma de dados sobre pagamentos a executivos, sediada em Redwood City, Califórnia, que fez uma revisão dos salários de altos executivos. Seguem alguns números que merecem ser conhecidos.

Os valores totais recebidos no ano passado pelos cem CEOs mais bem pagos subiram apenas 2% em relação a 2010.

O CEO médio levou para casa US$ 14,4 milhões -enquanto o salário anual médio dos americanos foi de US$ 45.230.

Os salários somados dos executivos totalizaram US$ 2,1 bilhões, o equivalente ao Produto Interno Bruto anual de Serra Leoa.

O quadro completo só será conhecido em junho, mais ou menos, quando os relatórios das empresas vão detalhar todos os pagamentos feitos aos executivos. Mas dados que já estavam disponíveis em 30 de março apontam para o surgimento de uma nova elite nos Estados Unidos: CEOs que ganham US$ 10 milhões ou mais por ano.

É verdade que eles são presidentes de empresas de capital aberto. Os gerentes dos maiores fundos hedge ganharam coletivamente US$ 14,4 bilhões no ano passado.

Timothy Cook é o único presidente da lista da Equilar a receber uma soma de nove dígitos. Seu pagamento total superou os dos nove CEOs seguintes na lista, somados. Estes incluíram Lawrence J. Ellison, da Oracle, com US$ 77,6 milhões, e Philippe P. Dauman, da Viacom, com US$ 43,1 milhões.

Aaron Boyd, diretor de pesquisas da Equilar, comentou a respeito do salário de Cook: "O valor que ele recebeu foi histórico em tal grau que distorce os números".

Ronald B. Johnson, o novo presidente da J.C. Penney, foi o terceiro da lista, com pagamento total de US$ 53,3 milhões no ano.

Por quê? No ano passado Johnson deixou o cargo de vice-presidente da Apple, levando ações da empresa que valiam US$ 101 milhões na época, mas ainda não estavam vigentes. Como parte de seu pacote no novo emprego, a J.C. Penney lhe deu um bônus em ações no valor de US$ 52,6 milhões.

Entre os outros executivos mais bem pagos estão: Stephen I. Chazen (US$ 31,7 milhões), da Occidental Petroleum; Gregory Q. Brown (US$29,3 milhões), da Motorola Solutions, e Howard D. Schultz (US$ 16,1 milhões), da Starbucks.

Quando a economia azedou, os salários dos executivos de muitas empresas caíram bruscamente. Com a recuperação de 2010, os pagamentos voltaram a subir. Agora estão se estabilizando, o que sugere que os conselhos das empresas estão mais otimistas.

Os conselhos também parecem estar tomando conhecimento das críticas feitas aos altos salários dos executivos. Algumas empresas reduziram os bônus optativos e vincularam o pagamento dos executivos a medidas de performance das empresas, como a receita e os preços das ações.

No ano passado, as empresas também começaram a submeter os pacotes de salário dos executivos à aprovação dos acionistas, por voto. Hoje, essas votações dos acionistas são exigidas pela Dodd-Frank, a lei de reforma de Wall Street aprovada pelo Congresso dos EUA na esteira da crise financeira.

Algumas empresas chegaram a eliminar as concessões de opções sobre ações -as ações que os executivos podem comprar a preços fixos-, em favor de abonos em ações de valor pleno que ficam valendo apenas se os executivos alcançam metas específicas. A informação é de Carol Bowie, diretora de pesquisas sobre as Américas na Institutional Shareholder Services, firma de consultoria para investidores institucionais.

"Estamos assistindo a uma tendência em direção aos salários mais baseados na performace", disse Bowie. "Resta ver se a performance vai de fato melhorar."

De acordo com um estudo do economista Emmanuel Saez, da Universidade da Califórnia em Berkeley, durante a recuperação de 2010, o 1% das famílias americanas mais ricas -que ganham US$ 380 mil ou mais por ano- capturaram 93% dos aumentos de renda, enquanto as rendas dos outros 99% essencialmente não mudaram.

Em 2011, a receita semanal média de trabalhadores assalariados em tempo integral nos EUA subiu apenas 1%, de US$ 747 em 2010 para US$ 756 em 2010, segundo o Burô de Estatísticas do Trabalho.

Para Brandon Rees, vice-diretor do escritório de investimentos da A.F.L.-C.I.O, a federação de sindicatos americanos, a disparidade entre executivos e trabalhadores nunca foi tão grande quanto hoje. "Os trabalhadores americanos estão tendo que se virar com menos, enquanto os CEOs nunca antes estiveram tão bem de vida", disse.

A Equilar analisou os salários dos executivos, seus bônus em dinheiro, benefícios diversos, prêmios em ações e opções sobre ações. Os executivos analisados trabalham para empresas de capital aberto com receita superior a US$ 5 bilhões e que tinham preparado suas declarações de resultados até 30 de março.

Um executivo que se destacou dos outros foi Vikram S. Pandit, o CEO do Citigroup. Depois de a empresa ter sido socorrida pelos contribuintes, em 2009, ele se comprometeu a trabalhar por US$ 1 por ano até que o banco voltasse a ser rentável. Desde então, o Citigroup já reembolsou o resgate recebido, e o conselho voltou a pagar Pandit.

Ele recebeu US$ 14,9 milhões no ano passado, ocupando o 45º lugar da lista da Equilar. Os acionistas de longa data do Citigroup ainda aguardam sua recompensa: a receita líquida da empresa subiu 3% no ano passado, disse a Equilar, mas o preço das ações caiu 44%.

Críticos vêm exortando a Comissão de Valores Mobiliários a implementar um dispositivo da lei Dodd-Frank que prevê que as empresas devem divulgar a razão entre o pagamento de seu presidente e o salário médio dos funcionários. "Isso colocaria o CEO em perspectiva", disse Rees, da federação sindical. "Isso interessa concretamente aos investidores."

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